A primeira coisa a destacar-se e fundamental é que haja uma total separação entre o Estado e a Igreja. Ou seja, não é aceitável valores religiosos para pautar questões de Estado, como leis e direitos. Como também é inaceitável que a Igreja, como instituição, intervenha no Estado e dele beneficie-se, como acontece no capitalismo.
Além disso, é preciso dizer que temos um grande respeito por todos aqueles que querem transformar a sociedade e são religiosos. São distintos dos que utilizam as religiões, em suas diversas formas, para manter a dominação da burguesia Com todo nosso respeito, porém, ao falar da Igreja, não podemos deixar de falar da interpretação marxista da própria religião.

A insegurança em relação à vida leva as pessoas a buscarem um consolo nas religiões, crendo em uma outra vida e em uma explicação fácil para o que acontece (tudo é “a obra de Deus”). Isso se fortalece nos momentos de crises econômicas, de grandes calamidades ou quando se perde a expectativa de transformar a sociedade, e as pessoas acabam voltando-se para saídas místicas, tanto nas religiões tradicionais ou em crenças esotéricas, que muitas vezes misturam elementos religiosos e mitológicos do Ocidente e Oriente.

A expansão das seitas pentecostais e dos católicos carismáticos do Padre Marcelo são exemplos dessa tendência, que vai na contramão do desenvolvimento científico. A saída religiosa no fundo é a tentativa das pessoas de escapar dos problemas concretos da sociedade, sem enfrentá-los, compensando as desilusões e misérias da vida com promessas celestiais. Essa opção não exige nada além da própria crença, sem se opor à ordem vigente e a seus representantes, que a incentiva e a utiliza.
No fundo, é apenas um auto-engano, que, sem resolver os problemas, leva a uma fuga do mundo real em busca de uma fantasia religiosa. Daí, o acerto de uma das mais conhecidas frases de Karl Marx: “A religião é o ópio do povo”.

A frase é de um artigo sobre a filosofia do direito de Hegel, no qual Marx demonstra como é o ser humano que faz a religião. Em outras palavras, que não foi Deus que criou homens e mulheres, mas, ao contrário, foram eles quem criaram Deus.
Marx quer dizer com isso que a incapacidade do ser humano em compreender sua relação com a natureza e as verdadeiras relações sociais faz com que ele procure nos céus a resposta para sua situação, ou, como ele afirmou: “a miséria religiosa é, por um lado, a expressão da miséria real, e, por outro, o protesto contra a miséria real”. Ou seja, o ser humano procura na religião a saída para a sua miséria concreta.

Assim, o papel social da Igreja ou da religião é o de permitir à humanidade suportar a opressão que encontra na vida cotidiana, alimentando a esperança de uma vida melhor além-morte.

Não cabe aqui, em poucas linhas, convencer quem quer que seja da concepção materialista. Os marxistas defendem a ampla liberdade de consciência e que cada um escolha livremente no que acredita ou não.

Acreditando ou não em Deus ou em Deuses, o importante para os revolucionários é que se acredite que são homens e mulheres que fazem sua própria história e que, acabar com a miséria e a opressão, é uma tarefa concreta e imediata, que não pode ser jogada para o além.

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