Respeitamos o sentimento religioso assumido por boa parte dos trabalhadores do país. Temos um respeito ainda maior por aqueles que querem transformar a sociedade e são religiosos, pois não utilizam as religiões, em suas diversas formas, para manter a dominação dos poderosos. Ao contrário, são partes da mobilização popular, como os setores das Pastorais Sociais que se incorporaram ao Encontro do dia 25 de março (que em geral são bastante críticos em relação ao Papa).

Mas não podemos deixar de falar da interpretação marxista da religião. A insegurança em relação à vida leva as pessoas a buscarem um consolo nas religiões, acreditando em uma outra vida e em uma explicação fácil para o que acontece (tudo é “a obra de Deus”). Isso se fortalece nos momentos de crises econômicas, de grandes calamidades ou quando se perde a expectativa de transformar a sociedade. As pessoas acabam se voltando para saídas místicas, tanto nas religiões tradicionais ou em crenças esotéricas. A expansão das seitas pentecostais e dos católicos carismáticos do Padre Marcelo são exemplos dessa tendência.

A saída religiosa no fundo é a tentativa das pessoas de escapar dos problemas concretos da sociedade, sem enfrentá-los, compensando as desilusões e misérias da vida com promessas celestiais.

Essa opção não exige nada além da própria crença, sem se opor à ordem vigente e a seus representantes, que a incentivam e a utilizam. A burguesia se utiliza das religiões para manter a exploração capitalista, da mesma forma que outras classes dominantes no passado. O fatalismo, a passividade e a submissão são conseqüências ideológicas comuns da aceitação de que tudo que acontece é “vontade de Deus”, e que haverá uma “vida eterna e feliz depois da morte”.

“A religião é o ópio do povo”, é uma das mais conhecidas frases de Karl Marx que demonstra como é o ser humano que faz a religião. Em outras palavras, que não foi Deus que criou homens e mulheres, mas, ao contrário, foram eles quem criaram Deus, deuses que os assombram e os oprimem.

Marx quer dizer com isso que a incapacidade do ser humano em compreender sua relação com a natureza e as verdadeiras relações sociais faz com que ele procure nos céus a resposta para sua situação, ou, como ele afirmou: “a miséria religiosa é, por um lado, a expressão da miséria real, e, por outro, o protesto contra a miséria real”. Ou seja, o ser humano procura na religião a saída para a sua miséria concreta.

Não temos, tampouco, nenhum acordo com a utilização de valores religiosos para pautar questões de Estado, como leis e direitos. Como também é inaceitável que a Igreja, como instituição, intervenha no Estado e dele se beneficie, como acontece no capitalismo. A Igreja possui empresas, escolas, terras, e muitas vezes obtém lucros pela fachada “filantrópica”.

Não cabe aqui, em poucas linhas, convencer da superioridade da concepção materialista. Os marxistas defendem a ampla liberdade de consciência e que cada um escolha livremente no que acredita ou não. Para Lênin, “o Estado não deve ter nada que ver com a religião, as sociedades religiosas não devem estar ligadas ao poder de Estado. Cada um deve ser absolutamente livre de professar qualquer religião que queira ou de não aceitar nenhuma religião, isto é, de ser ateu, coisa que todo o socialista geralmente é. São absolutamente inadmissíveis quaisquer diferenças entre os cidadãos quanto aos seus direitos de acordo com as crenças religiosas”.

O importante para os revolucionários é que se acredite que são homens e mulheres que fazem sua própria história e que, acabar com a miséria e a opressão é uma tarefa concreta e imediata, que não pode ser jogada para o reino dos céus.
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