Protesto no Iêmen reúne milhares no dia 25 de dezembro

Novas e contraditórias notícias chegam do Iêmen. De um lado apontam no sentido de que finalmente, após 33 anos no poder e 10 meses de protestos, o governo Saleh aceitou um acordo para deixar o poder e se tornar o quarto líder a ser despejado pelo processo revolucionário árabe. Celebrações eclodiram na capital Sanaa com fogos de artifício e bandeiras.

O acordo, assinado com os líderes da oposição, prevê a saída imediata de Saleh, transferindo seus poderes ao seu vice, Abd-Rabbu Mansour Hadi em uma cerimônia organizada pelo rei saudita Abdullah no Palácio Real em Riad, patrocinado pelo Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), Estados Unidos e União Européia.

Ele manteria, no entanto, o título de presidente até que um novo líder seja eleito e, além disso, teria imunidade total sobre os seus atos como governante e impunidade sobre todos os seus crimes. Por isso, logo a celebração se transformou em protestos e manifestantes iemenitas continuaram a serem mortos nas ruas por forças de segurança de Saleh neste final de dezembro.

A maioria da população não aceita que Saleh permaneça nem mais um dia como presidente, assim como a concessão de imunidade, e exigem a retirada dos membros de sua família dos postos chave das forças armadas e das forças de segurança. Os 33 anos de governo Saleh geraram uma situação de fome, miséria, violência e morte para a maioria desta população, onde 2/3 tem menos de 24 anos e 30% sofre de fome crônica.

Os manifestantes, principalmente a juventude, não querem somente a derrubada do ditador e sim o fim do regime.

O fantoche do imperialismo
O imperialismo norte-americano garantiu assistência militar sistemática às ditaduras do Oriente Médio, e a do Iêmen foi uma das mais beneficiadas através do chamado “Programa 1206”. Durante os últimos anos, o governo dos EUA forneceu armamento suficiente para os enfrentamentos violentos contra o povo e os trabalhadores, através de forças de segurança do Estado, absolutamente controladas por Saleh.

Desde 2000, o Pentágono transferiu armas e equipamentos diretamente dos estoques do exército dos EUA para as forças de segurança. Entre esses itens há carros blindados para transporte de tropas, metralhadoras, caminhões militares, rádios, aviões leves, helicópteros e barcos a motor. No total, ao longo dos últimos cinco anos, os EUA entregaram ao Iêmen mais de 300 milhões de dólares em assistência às forças de segurança, com um acentuado aumento nas ‘contribuições’ no mandato do presidente Obama.

Em 2008, no governo Bush, o Iêmen recebeu 17,2 milhões de dólares em assistência militar básica. Em 2010, esse valor saltou para 72,3 milhões de dólares e mais 34,5 milhões do pacote para as operações contra o terrorismo. Como sua parte na barganha, o governo do ditador Saleh autorizou os EUA a lançar mísseis contra campos suspeitos de abrigar recrutas da al-Qaeda no Iêmen, matando civis inocentes.

Para proteger o imperialismo, Saleh acatou as instruções dos EUA para que assumisse a autoria dos ataques, dando cobertura e justificando as mortes.

Estes fatos geraram um grande sentimento antiimperialista no povo. Uma pesquisa realizada entre janeiro e fevereiro deste ano, pela empresa norte-americana Glevum Associates, detectou que 99% dos entrevistados vêem com desagrado as relações dos EUA com o mundo islâmico. 82% consideram “danosa” ou “mᔠa influência dos EUA em todo o mundo. 66% entendem que os EUA nunca, ou só muito raramente, levam em consideração o interesse de países como o Iêmen, e só 4% dos entrevistados aprovam a cooperação entre o Iêmen e os EUA.

A burguesia se divide
O crescente movimento de protestos populares dividiu a burguesia do país. Generais, embaixadores, parlamentares, empresários, líderes tribais e outros altos funcionários passaram para a oposição. Os embaixadores do Iêmen no Cairo e na Liga Árabe, Arábia Saudita e Kuwait, também abandonaram o governo.

Após o massacre da sexta-feira, no dia 18 de março de 2011, quando mais de cinqüenta pessoas foram mortas e mais de 100 foram feridas em Sanaa, setores inteiros que apoiavam o governo romperam com ele.

O major-general Ali Mohsen Al Ahmar, meio-irmão do presidente, foi um deles. Comandante da divisão do Exército que enviou unidades à Praça de Sanaa, onde os protestos vinham sendo realizados,. Além dele uma das rupturas mais importante foi de Sadiq Al-Ahmar, chefe da principal confederação tribal do país, a qual pelo menos a metade dos soldados pertence.

O Exército e a revolução
Após o massacre de 18 de março, a crise no país ganha contornos impressionantes e uma de suas demonstrações é a divisão das Forças Armadas, com o major-General Mohsen Al Ahmar, chefe da Primeira Divisão Blindada, chamando a proteger os manifestantes contra os ataques do governo.

Com ele se pronunciaram o chefe do Setor Militar do Leste, general Mohamed Ali Mohsen (primo do presidente), e o chefe da Setor Central, General Saif al-Baqari, juntamente com um grande número de outros oficiais. A 67ª Base Aérea na província al-Hadida, desertou para o lado da revolução, assim como a 61ª e 62ª Brigadas da Guarda Republicana no Arhab.

Em contrapartida o ministro da Defesa, Mohamed Nasser Ali anunciou o apoio do Exército para com o presidente Saleh em face de “qualquer golpe contra a democracia”. A ruptura do general Mohsen al-Ahmar não é qualquer ruptura, ele é considerado nos meios militares norte-americanos o homem mais forte do país após Saleh, e seu possível sucessor em momentos de crise.

Mohsen al-Ahmar controla pelo menos 50% das forças militares e de recursos, o que faz dele “o segundo homem mais poderoso no Iêmen”. Apesar das desconfianças de suas ligações com a Al Qaeda e Osama Bin Laden. O general Mohsen sustentou o presidente continuamente, no entanto, seu descontentamento começou quando ficou claro o plano de legar a presidência a seu filho Ahmed Saleh.

As Forças Armadas do Iêmen são consideradas a segunda força militar na Península Arábica, ultrapassada somente pela Arábia Saudita. Concentra cerca de 89.500 soldados e oficiais profissionais com 11.500 na Guarda Republicana e Forças Especiais. O orçamento militar é responsável por cerca de 40% do orçamento total do governo, proporcionalmente um dos maiores orçamentos militares do mundo.
Além disso, tem cerca de 71 mil soldados nas forças paramilitares, 50 mil deles na Agência Central de Segurança.

A nomeação dos comandantes militares é com base na filiação familiar e a lealdade ao presidente. No topo da estrutura esta Ahmed Saleh, filho do presidente, comandante da Guarda Republicana e das Forças Especiais; depois dele vem Khalid Ali Abdullah Saleh, também filho do presidente, comandante da Divisão de tropas de montanha Armored; seguido de Yahya Mohamed Abdullah Saleh, sobrinho do presidente, chefe da Central de Segurança; e Tariq Mohamed Abdullah Saleh, outro sobrinho do presidente, comandante da Guarda Especial; e seu irmão Ammar Mohamed Abdullah Saleh al-Ahmar Chefe da Segurança Nacional. O Comandante da Força Aérea é outro meio irmão do presidente, Mohamed Saleh Abdallah Al-Ahmar.

A Guarda Republicana, liderada por Ahmed, foi reforçada diretamente pelo imperialismo, especializada em contra-terrorismo, e recebeu só em 2006, 5 milhões de dólares dos EUA e mais 155 milhões em 2010. O Departamento de Defesa dos EUA ainda ofereceu-se para gastar 1, 2 bilhão de dólares em cinco anos no apoio à luta contra o “terrorismo”.

Como se vê a ruptura das Forças Armadas do Iêmen dão um grande impulso à revolução, no entanto, para nada significa que o conflito não será duro e longo. A revolução trouxe à luz esta realidade, demonstrada nos enfrentamentos entre as forças tribais e o setor do exército ligados ao general al-Ahmar contra a Guarda Republicana leal ao presidente.

Tribos armadas
Outro aspecto importante do processo revolucionário no Iêmen é o peso que tem as comunidades tribais, suas confederações e sua capacidade militar. Um de seus principais chefes é o Sheik Sadiq bin Abdullah bin Hussein bin Nasser al-Ahmar, o líder da confederação tribal Hashid e dirigente do partido Al-Islah. Ele sucedeu seu pai Abdullah ibn Husayn al-Ahmar, aliado de Saleh.

O patriarca dos Al Ahmar, Abdullah, sustentou Saleh por anos, mas há algum tempo os interesses econômicos das famílias se chocaram. Assim que eclodiram os protestos Hamid al Ahmar, irmão de Sadiq, empresário e também dirigente do partido islâmico Al Islah, pôs seu canal de televisão e seu peso econômico a serviço da revolta.

Sadiq já foi membro da Assembléia de Representantes do Iêmen, assim como seu pai. Ele publicamente condenou al-Qaeda e manifestou apoio para Saleh na guerra contra o terror, mas manteve-se crítico no aspecto da excessiva relação com os Estados Unidos.

Em fevereiro de 2011, ele renunciou de sua posição no Congresso Geral do Povo do Iêmen, em solidariedade com o movimento de protesto popular. De início tentou ser um mediador, mas depois do massacre de março formalmente rompeu com o governo e se juntou à oposição.

A confederação tribal que Sadiq dirige é a segunda maior no Iêmen. São encontrados principalmente nas montanhas no norte e noroeste do país. A maior federação é a Bakil, encontrados principalmente no extremo norte do país, seu líder é Abu Luhum.

Os líderes tribais também se opõem à Guarda Republicana, vendo-a como um utensílio para reforçar a influência do filho do presidente e como um representante direto do imperialismo norte-americano dentro do pais.

Batalha de Sanaa
Em 24 de Maio guardas e membros de tribos leais a Saleh atacaram os homens do Sheik Sadiq al-Ahmar, que revidaram. Iniciou-se a “Batalha de Sana’a”, considerados os combates mais sangrentos vistos desde o início do processo revolucionário, quase chegando a uma guerra civil.

Os milicianos tribais cercaram e bloquearam vários edifícios governamentais na capital. Por outro lado, forças leais ao governo bombardearam com morteiros o complexo de Sadiq al-Ahmar, onde vários de seus combatentes foram mortos e feridos. O governo cortou a eletricidade da área e o abastecimento de água.

Isto resultou em um novo contra-ataque da milícia contra o edifícios públicos, com morteiros e fogo de metralhadoras. Membros das tribos tomaram o controle do edifício do Ministério do Interior, da agência estatal de notícias SABA, e do edifício companhia aérea nacional. Ao final tomaram o controle de 16 ministérios e instituições governamentais.

Unidades militares desertaram para a oposição e foram atacadas por tropas leais. A Guarda Republicana também atacou com bombardeios áreas residenciais controladas pelas forças tribais. O governo alegou que as mortes foram o resultado de um armazém de armas que explodiu, mas militares desertores afirmaram que as forças militares atacaram prédios usados por combatentes.

Em 26 de Maio, Saleh emitiu um mandado de prisão contra Sadiq e os outros nove irmãos al-Ahmar, acusando-os de traição. No mesmo dia, o líder tribal anunciou que não iria procurar a mediação, chamando o presidente de “mentiroso” e dizendo que Saleh iria “deixar o Iêmen descalço”.

No dia seguinte, os opositores cercaram um acampamento da Guarda Republicana, a nordeste de Sanaa, para impedi-los de se juntar à luta na capital. Invadiram o acampamento e mataram dezenas de soldados, incluindo o comandante da base, general Ali Nasser Gatami.

Logo depois, aviões e helicópteros bombardearam o centro militar da Confederação tribal, onde 18 membros das tribos foram mortos. Um cessar-fogo foi anunciado na noite de 27 de maio por Sadiq al-Ahmar, e no dia seguinte, uma trégua foi estabelecida. No entanto, em 31 de maio o cessar-fogo acabou e os combates de rua voltaram em Sanaa. As tribos tomaram o controle de ambas as sedes do governo, o Congresso Geral do Povo e os principais escritórios da companhia de água.

No dia 1º de junho, as unidades da Guarda leais ao presidente, comandadas por um dos filhos de Saleh, bombardearam a sede de uma brigada da 1ª Divisão Blindada, que estava neutra. A ruptura do cessar-fogo levou a 47 pessoas mortas em ambos os lados durante a luta de rua, incluindo 15 membros das tribos e 14 soldados.

Em 2 de Junho, milhares de membros das tribos tentaram entrar em Sanaa para reforçar os que estavam na cidade. Mas foram barrados em um posto militar a 15 quilômetros ao norte da capital, embora continuassem a fazer tentativas para romper as linhas do governo. Em 3 de junho, um ataque ao palácio presidencial deixou Saleh e outros sete altos funcionários do governo feridos. Sete guardas presidenciais foram mortos.

Testemunhas, moradores e funcionários do governo afirmam que a tribo Hashed realizou o ataque, mas o porta-voz Sadiq Al-Ahmar negou. No dia seguinte, Saleh foi levado para a Arábia Saudita para tratamento. De acordo com funcionários do governo dos EUA, Saleh sofreu um colapso pulmonar e queimaduras em cerca de 40 por cento de seu corpo. Um oficial saudita disse que Saleh sofreu duas operações: uma para remover os estilhaços no pescoço e uma neurocirurgia.

Como Saleh voou para a capital saudita de Riad para a cirurgia em 4 de junho, um cessar-fogo foi mediado pelo rei da Arábia Saudita, Abdullah. Em 5 de junho, manifestantes em Sanaa celebraram a notícia da partida do presidente. Um cessar-fogo entrou em vigor em 6 de Junho.

A volta dos conflitos
Após o regresso de Saleh da Arábia Saudita, os confrontos na capital retomaram entre 18 e 25 de setembro, 162 membros da oposição e das forças de segurança foram mortos. Em 19 de setembro, os manifestantes, juntamente com os membros renegados da Divisão Blindada atacaram uma das bases da Guarda Republicana, no lado oeste da estrada al-Zubairy. Eles assumiram o controle da mesma, sem disparar um tiro.

No dia 24, os militares legalistas bombardearam a sede da 1ª Divisão Blindada, deixando 11 soldados mortos e 112 feridos. Na noite de 25 de setembro, membros tribais atacaram o acampamento base da 63ª Brigada, no distrito Nehm, 70 quilômetros ao norte de Sanaa. Durante os combates, o comandante da brigada, general Abdullah al-Kulaibi, foi morto. Ao todo, sete soldados foram mortos, cerca de 30 foram presos após a captura da base.

No dia 27, o ministro da Defesa escapou de uma tentativa de assassinato quando um suicida atacou seu comboio. Na manhã de 28, as forças da oposição derrubaram um avião de guerra do governo ao norte da cidade. Testemunhas afirmaram que a aeronave estava bombardeando um complexo residencial no bairro de Arhab. Duas pessoas foram mortas em um ataque aéreo no distrito na noite anterior.

Em 15 de outubro iniciou-se uma nova rodada de combates, que durou dois dias. Tudo começou com as tropas do governo disparando contra manifestantes, matando 12 pessoas. Outros seis foram mortos no dia seguinte.
Em 17 de outubro, 17 pessoas, incluindo oito combatentes tribais e dois soldados do governo, foram mortos. Calcula-se que 91 soldados desertores da 1ª Divisão Blindada foram mortos, desde o retorno de Saleh para o país.

Em 30 de outubro, durante a noite, a base da Força Aérea da capital foi atingida por morteiros e dois aviões de combate foram incendiados. Devido a isso, o aeroporto civil foi fechado e os vôos foram desviados para Aden. Ao mesmo tempo, artefatos explosivos plantados dentro de 10 caças na base militar foram encontrados e desativados.

Em 19 de novembro, membros de tribos da oposição, mais uma vez atacaram o acampamento da 63ª Brigada e a tomaram em 21 de novembro, com cerca de 400 soldados e uma grande quantidade de armas.

Entre 23 e 25 de Novembro, forças leais ao governo realizaram um ataque aéreo ao acampamento, agora controlado pelos rebeldes, e 80 combatentes tribais foram mortos. As bases militares na Maran, Razeh e Harf Sufian se renderam durante os combates de Sadaa, entregando todas as suas armas e equipamentos para a oposição.

Saleh resiste
Apesar das rupturas burguesas e dos acordos feitos com os governos árabes, Ali Abdullah Saleh resiste a deixar o poder, ou pelo menos quer ainda negociar melhores condições para um acordo.

Isso porque apesar das mobilizações e das divisões internas o imperialismo e o regime da Arábia Saudita não o abandonaram. E conta com o apoio de parte dos chefes de tribos, empresários e principalmente de sua rede de segurança: guarda republicana, guarda presidencial e segurança nacional.

A família Saleh controla as unidades de inteligência, que têm desempenhado papel de destaque na repressão, e são de absoluta confiança do imperialismo na cooperação das supostas “operações antiterrorismo”. Isso explica porque ainda tem força para recorrer à violência e ao assassinato de manifestantes.

Anuncia que ira sair, mas assim que pode, recua.

No final de janeiro uma grande manifestação de mais de 16 mil pessoas em Sanaa fez com que Saleh anunciasse em 2 de fevereiro que não concorreria à reeleição em 2013 e não iria passar o poder a seu filho.

Em 18 de março, quando manifestantes foram alvejados, o presidente, na defensiva, espalhou a notícia no Iêmen e no exterior que um acordo de transição já tinha sido alcançado e transferiria os poderes ao vice-presidente, e dele para um Conselho de Transição. Mas não transferiu. Em 22 de maio, Saleh concordou novamente com um acordo para transição, apenas para se afastar dele horas antes da assinatura.

Quando Saleh fugiu para a capital saudita de Riad, para fazer as cirurgias necessárias, depois dos atentados, em 4 de junho, seu vice Mansour Hadi assumiu, mas Saleh não aceitou a transferência de poder. Hadi praticamente não tinha nenhum poder, que se mantinha nas mãos dos filhos de Saleh e seus parentes que controlam as forças de segurança.

A volta da Arábia Saudita era duvidosa, tentaram fazer Saleh assinar um decreto passando a autoridade permanente para seu vice, antes de terminar o tratamento. Mas Saleh voltou ao poder. Sistematicamente Saleh tenta assustar o imperialismo, querendo convencê-lo que a garantia da unidade do país e da luta contra o terrorismo está em suas mãos.

A verdadeira política de Saleh é tentar destruir o movimento de protestos populares, e entrar em confronto direto com seus principais inimigos como o General Mohsen Al Ahmar e o chefe tribal Sadiq Al-Ahmar. Aplica a estratégia do caos e a ameaça de uma guerra civil para convencer o imperialismo a mante-lo no poder.

Uma saída revolucionária para o Iêmen
A principal organização de oposição à ditadura de Saleh é a Congregação para a Reforma do Iêmen, chamada Al-Islah. Ela é composta pela Irmandade Muçulmana; a Confederação tribal liderada por Sadiq al-Ahmar; e o setor salafistas, liderado pelo Abdul Majeed al-Zindani. Entre seus membros estão mulheres, incluindo a ativista de direitos humanos e Prêmio Nobel, Tawakel Karman.

A contradição é que esta oposição já participou de governos anteriores, compartiu o poder e fez parte dos acordos para a saída de Saleh. Que garantiram ao ditador imunidade e impunidade, acordos que são rechaçados pelas massas nas ruas.

Os jovens iemenitas, que são a vanguarda da revolução, não querem que sua revolução seja confiscada por forças como a Congregação ou o General Mohsen Al Ahmar, que foram membros do regime durante décadas. A juventude quer mudanças de verdade.

Ela tem consciência que Saleh transformou o Sul do país em uma câmara de tortura, particularmente as cidades de Aden, Abyan, Hadhramaut e Shabwa, porque este povo protestava contra as péssimas condições de vida. Seus bens e recursos foram apropriados pelos membros da família Saleh e seus amigos, após a Guerra Civil de 1994.

A corrupção tem permitido o nepotismo, concentrando toda a riqueza e renda em menos de 1% da população, enquanto mais da metade desta população vive abaixo dos níveis de pobreza. Infelizmente para o imperialismo a atual crise política não é apenas entre o presidente Abdullah Saleh e a oposição institucional. São centenas de milhares de jovens nas praças exigindo mudanças, em cidades como Sanaa, Aden, Taiz e Ibb.

Por isso a crise não pode se resolver simplesmente nas negociações intermináveis entre Saleh e esta oposição, com a mediação árabe-imperialista. As massas jovens lutam para derrubar não somente o governo mas também derrubar o regime. Regime baseado em acordos de partilha de poder entre o presidente, os chefes das tribos aliadas, e o exército.

O objetivo desta revolução começa pela reivindicação da derrubada de Saleh.

Mas também exige, entre outras reivindicações: a demissão d os membros da sua família de todos os cargos de comando militar, segurança e altos cargos administrativos; assim como a recuperação de todos os fundos públicos e bens roubados pelo Presidente, seus parentes e todos os companheiros, incluindo os ativos locais e no exterior, em seus nomes ou sob nomes disfarçados de parentes; prisão de todos os envolvidos em atos criminosos contra os cidadãos e o interesse do público através da fraude e corrupção; revogação da atual Constituição; desmonte dos aparatos de segurança, agências de inteligência, e Conselho de Defesa; e formação de um conselho nacional provisório sem ligação com o regime de Saleh, para que em um período de transição de seis meses sejam anunciadas novas eleições.

Alem disso, exigem: uma distribuição eqüitativa de empregos no setor público e dos recursos do país para a resolução de problemas econômicos do Iêmen a fim de alcançar justiça e a igualdade.

Os manifestantes sabem que a transferência de poder não é um fim em si mesmo, mas um meio para estabelecer um novo regime. Por isso dezenas de milhares de iemenitas protestaram contra a proposta de mediação feita pelas nações do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), que visava acabar com a crise política no país, retirando Saleh, mas mantendo o regime.

Com certeza a Revolução Árabe continua tirando o sono do imperialismo, e vai continuar tirando por mais tempo.

Américo Gomes é advogado com especialização em Politica e Relações Internacionais, colaborador do ILAESE e assessor do Sindipetro AL/SE