A Copa já começou. No dia 30, na Suíça, a Fifa confirmou o Brasil como sede do Mundial de 2014. Apesar de o Brasil ser o único candidato, não faltou suspense e oba-oba. Governadores se acotovelaram, disputando um lugar com Lula, Romário e Paulo Coelho (?!!). Ninguém quis ficar de fora, lembrando 1950, quando jogadores foram acordados às seis da manhã do dia da final para posar com a romaria de políticos.

Promete-se um vendaval ufanista de dar inveja aos generais. Nos próximos sete anos, o refrão de 70 será substituído pelo “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. TVs, governos e empresas se unirão na empreitada, cada qual com seus interesses. Emissoras de olho na audiência de dois em cada três habitantes do planeta. Nike e Adidas torcendo para que vença uma das seleções que patrocinarão (não importa qual) e comemorando os closes em sua marca. E os governantes, mais uma vez, apoderando-se da beleza do esporte.

Lula quer ser lembrado como o responsável pela Copa de 2014, ano de eleição em que ele mesmo poderá estar disputando a Presidência. Os dividendos são garantidos, em se tratando de uma Copa. Foi assim com a ditadura argentina, em 1978; com Mussolini, em 1934 na Itália; e na França, em 1998, quando Jacques Chirac fez as pazes com os eleitores, mesmo antes da final de Zidane.

Do PSDB ao PT, todos vão querer se aproveitar. Governadores e prefeitos se estapeiam para garantir suas cidades como sedes e cartolas negociam para que seus estádios sejam escolhidos – e não o do time arquirrival.

Nada mais importa. Lula, o PT e agora o PCdoB, do ministro dos Esportes, vivem em lua-de-mel com Ricardo Teixeira, eterno presidente da CBF. A corrupção no futebol, que define resultados, enriquece dirigentes e engana torcedores, é ignorada. Investigações sobre o Corinthians ou sobre a CBF não avançarão. Afinal, como alertou o presidente da Fifa, Joseph Blatter, “isso poderia prejudicar a Copa”.

Além da corrupção dentro de campo, a escolha do Brasil como sede traz o fantasma da roubalheira. No dia seguinte ao anúncio, o colunista e ex-jogador Tostão escreveu: “quero ver a Copa no Brasil, mas sem maracutaias”. Difícil. Ainda mais após o Pan-Americano, que superou em 684% o seu orçamento. Foram cerca de R$ 3,7 bilhões numa festa de gastos e obras sem licitação, mas ainda pequena perto do que pode vir.

Nessa corrida ao pote de ouro, vende-se a idéia de que os jogos mudarão nossas vidas. Fala-se em obras e investimentos astronômicos, gerando empregos e renda. A copa, como um furacão, fará surgir um novo país. Sem desemprego, fome e violência. Esta é uma mentira poderosa, que será repetida por sete anos, à exaustão. Nenhuma mudança virá. Os problemas serão escondidos e as cidades maquiadas. E mesmo toda a alegria que teremos ao torcer pela seleção não mudará nossas vidas. A realidade será a da população negra e pobre driblando a pobreza.

Nós, assim como Tostão, também queremos ver a Copa no Brasil. Mas a verdadeira mudança de nossas vidas não sairá de uma cartola, mas de outro espetáculo, cujos lances virão dos próprios trabalhadores.

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