Haitianos vivem em situação precária no Acre
Foto: Agência Brasil

Nas últimas semanas, notas na imprensa têm informado, sem muito alarde, a terrível situação enfrentada por centenas de haitianos refugiados no Acre. Obrigados a fugir de um país cujo caos deve-se, em grande medida, à ação de uma ocupação militar comandada por tropas brasileiras, haitianos (homens jovens, em sua maioria) atravessaram o continente em busca de alguma perspectiva de futuro no Brasil, movidos, inclusive, pelas promessas das tropas de ocupação, comandadas primeiro por Lula e agora por Dilma.

Contudo, aqueles que conseguiram concluir a longa e penosa viagem, feita geralmente sem nenhum recurso e de forma “ilegal”, ao chegarem ao Brasil têm se deparado com uma situação tão terrível quanto a que deixaram no Haiti.

A porta de entrada para a maioria destes refugiados tem sido o Acre, estado pelo qual, desde 2010, já passaram cerca de 10 mil haitianos. E o pior exemplo da situação enfrentada pelos haitianos está na pequena Brasiléia, a 240 Km de Rio Branco, a capital do estado, onde, na semana passada, um surto de diarreia atingiu 90% das 480 pessoas instaladas em um galpão onde não caberiam de 200. Cabe lembrar que, no início de agosto, o local abrigava 830 haitianos.

A doença é sintoma e conseqüência das insalubres, humilhantes, indignas e terríveis condições às quais os haitianos foram jogados. O número de funcionários que acompanha essa situação é completamente reduzido, houve relatos de que apenas dois, que fazem plantão durante o dia inteiro.

Um tratamento desumano…
Se nada for feito, esta situação só tende a piorar. Calcula-se que, por dia, cheguem 40 novos haitianos ao Acre. Imigrantes que, nas palavras de João Paulo Charleaux, coordenador da ONG Conectas de Direitos Humanos (em entrevista concedida ao “O Estado de S. Paulo”, em 16 de agosto), tornam-se vítimas do “jogo de palavras” do governo que, na prática, tem dedicado aos imigrantes um tratamento que “é insalubre, desumano até”.

Ainda segundo Charleaux, “os haitianos passam a noite empilhados uns sobre os outros, sob um calor escaldante, acomodados em pedaços de espuma que algum dia foram pequenos colchonetes, no meio de sacolas, sapatos e outros pertences pessoais”. Além disso, a área das latrinas está alagada, falta sabão e qualquer outra condição mínima de higiene.

Ao invés de atacar esta situação e garantir as condições dignas para estes refugiados, o governo do PT tem adotado uma política tão criminosa quanto a ocupação que patrocina no país caribenho.

Em primeiro lugar, fez uma série de acordos espúrios com os governos que fazem divisa com o Acre (Peru e Bolívia, em particular) para que os haitianos sejam deportados antes mesmo de entrarem no país. Se isto não bastasse, Dilma e seus aliados ainda procuram colocar a população brasileira contra os haitianos, afirmando que eles não haveria como lhes garantir emprego, moradia ou qualquer tipo de assistência.

Ação humanitária ou genocídio?
A situação vivida, aqui, pelos haitianos é apenas mais um terrível reflexo de um crime ainda maior. Há nove anos, no dia 1° de junho de 2004, após uma onda de manifestações que forçou a renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide, o Haiti foi ocupado pela chamada Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), sob a justificativa de “colocar ordem” no país (ou seja, conter as manifestações de rua e garantir os interesses imperialistas no país).

A pedido dos EUA que, na época, estavam “ocupados” com seus ataques imperialistas contra o Iraque e o Afeganistão, o governo Lula prestou-se ao vergonhoso papel de dirigir a ocupação militar da primeira república negra das Américas, sob o disfarce de uma suposta “missão humanitária”.

Uma farsa que ficou particularmente evidente depois do terremoto que devastou o país em janeiro de 2010 e, em instantes, transformou milhões de vidas em “poeira”, levando desespero, dor e morte à enorme maioria da população haitiana, enquanto a Minustah dispensava seus maiores esforços para proteger as propriedades da burguesia haitiana dos “saques” promovidos por homens, mulheres e crianças feridos, famintos e que haviam perdido absolutamente tudo.

Antes e depois do terremoto, também não faltaram denúncias de todo tipo de violência praticada pela Minustah contra a população: de prisões arbitrárias a torturas; de estupros praticados por soldados à conivência com esquadrões da morte; da perseguição e criminalização dos movimentos sociais e seus dirigentes ao acobertamento das falcatruas e corrupção da burguesia local e seus negócios escusos com o imperialismo.

Desde então, os governos do PT (Lula e Dilma) gastaram mais de R$ 3 bilhões para manter as tropas brasileiras no país. Dinheiro que, com certeza, poderia ter sido utilizado para a construção de hospitais, escolas, contratação de funcionários da saúde e educação, melhoria de condições de trabalho.

O fato é que o mesmo governo que gasta bilhões no massacre aos haitianos, hoje, se recusa a garantir minimamente condições de vida dignas aqueles que procuraram refúgio no país. O mesmo governo que invade, destrói e aniquila um país que é símbolo da luta do povo negro em tudo mundo, agora, fecha as portas para seus cidadãos e os condena à morte.

– Dilma, saia do Haiti já!

– Moradia digna aos refugiados imediatamente!

– Que 10% da riqueza nacional seja destinado à saúde, e com isso, a construção de mais hospitais públicos que atendam trabalhadores nativos e imigrantes.

– Dilma, pare de financiar o genocídio e construa mais casas, escolas, hospitais!