Brasília - Após reunião da Executiva do PSDB o senador Aécio Neves fala com a Imprensa.(Antonio Cruz/Agência Brasil)

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de afastar Aécio Neves (PSDB-MG) de seu mandato do Senado demonstrou mais uma vez como o PT e o PSDB, junto com o “quadrilhão” do PMDB, com Temer à frente, estão unidos na operação salva-corruptos.

Na terça-feira, 26, a Primeira Turma do STF determinou o afastamento do senador tucano e o seu recolhimento noturno, além da proibição do parlamentar de manter contato com outros investigados. A decisão partiu do pedido de prisão feito pela Procuradoria Geral da República diante das inúmeras provas de corrupção contra Aécio, incluindo o pedido (gravado pela polícia) e o recebimento de R$ 2 milhões do dono da JBS, Joesley Batista.

A decisão provocou uma reação furiosa do Senado, unindo todos os corruptos metidos até o pescoço na Lava Jato. De Renan Calheiros (PDMB-AL), a Temer e o PT. “Eu acho que todos nós temos que estar preocupados em salvar a Constituição“, discursou o senador Jorge Viana (PT-AC). A Executiva Nacional do PT divulgou uma nota oficial contra a medida do STF. Com o argumento de que o afastamento de um senador não tem previsão legal, a direção do PT tacha a determinação de “esdrúxula”.

O presidente do Senado, Eunício Oliveria (PMDB-CE) marcou para a próxima terça-feira a análise do caso no plenário, articulando para derrubar a determinação do STF para livrar a cara de Aécio.

Operação abafa
Sob o discurso da defesa da Constituição, PT, PSDB e PMDB se unem para proteger o corrupto Aécio Neves, pois sabem que isso pode virar um perigoso precedente para qualquer um deles metido na Lava Jato. O argumento da direção do PT chega a ser cínico ao extremo. Afirmando que Aécio e o PSDB ‘rasgaram a Constituição’ para depor Dilma, agora dizem que não farão o mesmo com o tucano, para “defender a democracia”.

Ora, mas não houve um “golpe” no país? O discurso do PT muda ao sabor do vento, ou de suas próprias conveniências. Numa hora, houve “golpe” e estamos em plena “ditadura da Lava Jato”. Um verdadeiro estado de exceção. Em outros momentos, deve-se proteger a Constituição, o ordenamento jurídico e a democracia. A verdade é que, cada vez mais, a tese do golpe mostra que não pára em pé. E que, na hora do vamos ver, o PT não hesita em estar ao lado dos “golpistas” para proteger seus interesses. Que, na verdade, são os mesmos.

Foi assim quando o senador Tião Viana (PT-AC) recusou-se a assumir a presidência do Senado, no final do ano passado, quando o ministro Marco Aurélio de Melo determinou o afastamento do então presidente da Casa, Renan Calheiros. O PT poderia ter assumido a presidência e arquivado a PEC do Teto que estava prestes a ser votada. Mas não fez isso. Foi assim quando o PT se aliou a Temer contra a impugnação da chapa PT-PMDB no TSE. Poderia ter ajudado a impugnar a chapa eleita e, consequentemente, Temer. Mas não fez isso. A aliança que vem sendo costurada entre PT e PMDB em pelo menos cinco estados do Nordeste para 2018 não deixa muita margem para esse tipo de lorota.

Brasília – Os senadores Romero Jucá, Eunício Oliveira e Renan Calheiros durante sessão plenária extraordinária para deliberar sobre decisão do Supremo Tribunal Federal que afastou Aécio Neves do exercício de seu mandato (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

São todos corruptos
O PT, PSDB e PMDB se protegem porque são todos corruptos. Protegem-se porque, apesar dos discursos, compartilham do mesmo programa para o país: jogar a crise nas costas dos trabalhadores e do povo pobre para manter os lucros dos grandes bancos e empresas. Estão de acordo com a reforma da Previdência e o ajuste fiscal. Por isso o desgaste de Temer e desse Congresso derretem-se rapidamente ante a opinião pública. Não querem nem saber, só de se safar da Justiça e assegurar uma reeleição com uma proposta de reforma Política indecente, incluindo aí a criação de R$ 3 bilhões para suas campanhas milionárias e uma cláusula de barreira contra partidos como o PSOL, PSTU e PCB.

Já a decisão da Primeira Turma do STF revela bem o caráter dessa Justiça dos ricos. Não por exagerar na punição a Aécio como quer fazer crer o PT, mas justo o contrário. O tucano foi pego pedindo R$ 2 milhões a Joesley. Disse que deveriam escolher alguém que intermediasse a negociata que “pudessem matar antes de fazer a delação”. Sem falar nos outros casos de corrupção em que está metido. E continua senador, mantendo todos os seus bens e privilégios de parlamentar, inclusive na presidência do PSDB. Um escárnio, um verdadeiro escândalo.

A manobra do Senado e o choque com o STF, porém, devem aprofundar ainda mais essa crise política e institucional. Além de mostrar como estão todos no mesmo balaio, enfraquece a base de Temer às vésperas da votação de uma nova denúncia. E mostra que a crise lá em cima abre oportunidade para o contra-ataque aqui embaixo.

Prisão dos corruptos e o confisco de seus bens
Esse é o momento de se denunciar fortemente esse governo e o Congresso Nacional, mostrando ainda o caráter dessa Justiça burguesa. É o momento de mostrar que esse Congresso Nacional não tem qualquer legitimidade para votar qualquer medida que representa ataque ou retirada de direitos, como a reforma da Previdência, a trabalhista ou a reforma política. E de exigir a prisão de todos os corruptos e corruptores, assim como o confisco de seus bens adquiridos em anos de corrupção e roubo dos cofres públicos.

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