Por que a direção da Unidade Democrática resolveu participar das eleições do dia 29 de novembro?A máxima direção da Unidade Democrática (UD), presidida pelo senhor Cesar Ham, está em um verdadeiro beco sem saída. Por um lado, não esconde seu desespero em participar da farsa eleitoral do dia 29 de novembro, mas, por outro, é presa dos requisitos políticos que colocou a si próprio para condicionar sua participação.

Ainda estão frescas em nossa memória as palavras do senhor Ham no ato do dia 23 de outubro deste ano, quando junto com representantes de outros partidos políticos afins à Resistência, afirmou que a UD participaria no próximo processo eleitoral “desde que” se cumprissem as quatro inegociáveis condições:

  • Primeiro, que o Presidente Zelaya fosse restituído;
  • Segundo, que a repressão e violações aos Direitos Humanos contra a Resistência cessassem;
  • Terceiro, que a campanha de desprestígio e ódio contra os dirigentes da Resistência e da UD acabasse; e,
  • Quarto, que os militares regressassem a seus quartéis.

    Como todos sabem, nenhuma dessas condições foi cumprida: a partir da assinatura do Acordo de Tegucigalpa é claro que Micheletti não tem intenção de restituir Zelaya à Presidência. A repressão contra a Resistência continua: os militares continuam nas ruas, e mais ainda, os militantes da UD continuam sendo vítimas da repressão do golpismo, como atesta a repressão a uma passeata que tinha sido autorizada pelo TSE (Justiça Eleitoral) e, a recente detenção de vários companheiros da UD que transportavam propaganda eleitoral do Partido no departamento do Valle.

    No entanto, com a desfaçatez a que estamos acostumados, o senhor Cesar Ham não esperou que se cumprissem os mencionados requisitos, senão que ele como candidato presidencial e alguns de seus candidatos e candidatas a deputados e a prefeituras, lançaram uma forte ofensiva publicitária para ganhar o voto do eleitorado, forrando as principais cidades do país com milhares de cartazes, produzindo caríssimas propagandas para a televisão e a rádio, se apresentando nos “reality show” dos golpistas bem como em qualquer reunião, inclusive nas passeatas da Resistência, com panfletos proselitistas.

    Com tais mostras de entusiasmo eleitoral, qualquer um que pense um pouco se dá conta de que a direção oficialista da UD decidiu participar do espetáculo circense do dia 29 de novembro, ainda que tente nos enganar dizendo publicamente que ainda não se definiram.

    Então como ficou sua palavra? Esta é a pergunta que as bases da resistência se fazem e com a qual martelam a consciência dos candidatos e dirigentes da UD. E as reivindicações são mais fortes desde que a Frente Nacional de Resistência decidiu chamar o repúdio a farsa eleitoral, e de que Zelaya decidiu não aceitar nenhum acordo de restituição, porque só serviria nestes momentos para legitimar a ditadura militar-empresarial. Então os argumentos para justificar a participação desse partido na farsa eleitoral são insustentáveis.

    O sentido da honra em alguns e a vergonha em outros começa a mover a consciência de muitos membros honestos da UD e seguidores do Sr. Ham, alguns dos quais lhe desobedeceram renunciando a sua postulação, como fizeram ao menos dois candidatos a deputados da UD pelo departamento de Francisco Morazán, bem como alguns candidatos a prefeituras por este partido; tendência que pelo que sabemos tenderá a se expandir nos próximos dias.

    Outros não estão dispostos a que o Sr. Ham imponha-lhes uma decisão e, exigem que esta seja tomada coletivamente a partir das bases, razão pela qual os máximos dirigentes desse partido, diante da possibilidade de uma debandada de renúncias, se viram obrigados a convocar as consultas departamentais para depois tomar uma decisão nacional.

    Supõe-se que a direção oficialista da UD estará tomando essa decisão para no dia 20 de novembro próximo, isto é, a apenas 9 dias das eleições e a quatro dias da data de finalização das campanhas eleitorais. Mas se pensam fazê-lo na véspera da eleição, que tempo terão para reivindicar o erro que cometeram ao violentar sua própria palavra?

    Ademais por que é tão difícil para a direção oficialista da UD, que se considera de esquerda e revolucionária, tomar uma decisão tão simples se os parâmetros sempre estiveram claros? Por que não seguiram o exemplo da candidatura independente de Carlos H. Reis que a tempo se retirou do show eleitoreiro em cumprimento de sua palavra? Só há uma resposta a essas perguntas: porque a direção oficialista da UD é uma direção oportunista.

    Não há quem esteja pensando na perda da legalidade do partido, porque eles sabem, perfeitamente, que toda a atuação deste regime de facto e do Tribunal Eleitoral nomeado em violação da Constituição, é ilegal. O Sr. Ham como deputado experiente sabe disso, mas finge não ver.

    Tudo indica que o que os dirigentes oficialistas da UD pretendem é fazer esse partido sobreviver submetendo-se a chantagem dos golpistas, aceitando a migalha de quota de poder que a oligarquia está disposta a ceder-lhes no Congresso e em uma ou outra prefeitura. Que triste fim para um partido que surgiu para estar à cabeça de uma revolução popular!

    Deste modo a UD esta diante de um dilema: se participa na farsa eleitoral, vive “legalmente” frente à oligarquia, mas morre no coração de seus seguidores. E se não participa, desaparece da “legalidade” da burguesia, mas se conservaria no coração do Povo.

    Ainda que desta direção oportunista da UD se possa esperar qualquer coisa – como foi demonstrado no passado quando se aliou ao Partido Nacional, pretendendo revogar as proibições para se reeleger indefinidamente como deputados ou fazendo uso das autorizações para a compra de carros de luxo – não descartamos, no entanto, que por decisão de suas bases terminem finalmente por tomar a decisão de se retirar do processo eleitoral fraudulento; a qual, claro, será bem recebida pela Resistência.

    Mas o que a estas alturas não pode evitar é que seu oportunismo fique em evidência, porque se algo que o povo aprendeu na resistência foi reconhecer os traidores e oportunistas de todo tipo.

    Primeiro esse golpe de estado desmascarou àqueles que no Estado oligárquico quiseram esconder-se por trás das roupagens democráticas e até clericais. Agora por seu próprio peso estão se desmascarando os falsos que, sentando-se a sua esquerda e a sua direita, em algum momento pretenderam aparecer como apóstolos de Zelaya.

    *Deputado suplente pelo Departamento de Francisco Morazán
    Ex dirigente nacional do Partido Unificação Democrática