O líder sindical venezuelano Orlando Chirino respondeu às acusações feitas por James Petras na entrevista à Rádio Centenário do Uruguai. Chirino é coordenador da União Nacional dos Trabalhadores da Venezuela, um lutador trotskista e também estava contrário à reforma constitucional de Chávez. Como muitos outros honestos revolucionários e lutadores, Chirino também ficou indignado com as calúnias do intelectual norte-americano. Abaixo, leia a declaração de Chirino, publicada em 30 de novembro, pelo Movimento pela Construção de um Partido dos Trabalhadores.

Assim que tomou conhecimento de um documento do conhecido intelectual e cientista político norte-americano James Petras sobre o referendo realizado no dia 2 de dezembro na Venezuela, o dirigente sindical trotskista Orlando Chirino se pronunciou sobre seu conteúdo. O artigo circulou na internet com o título A alternativa fatídica do referendo sobre a reforma constitucional da Venezuela: socialismo democrático ou contra-revolução imperial.

Disse Chirino: “São muito interessantes a análise e as opiniões que desenvolve James Petras sobre os desafios presentes e futuros na Venezuela, que estão em jogo neste domingo, 2 de dezembro. Em algumas partes, surpreende, já que aqueles que acompanharam suas distintas análises puderam observar que desde muito tempo Petras sempre manteve uma distância política do presidente Chávez. O mesmo ocorreu com muitos intelectuais em nível mundial, especialmente da Europa, aos quais custa muito acreditar que um homem proveniente das Forças Armadas possa ser protagonista em processos revolucionários”.

“Quase sempre ocorre o mesmo com os intelectuais, porque não estão acostumados a observar a realidade desde o ponto de vista da luta de classes, mas sim desde a ótica subjetiva, quer dizer, dos personagens e indivíduos na história. Por isso, suas análises tendem mais a refletir as paixões antes dos problemas concretos pelos quais nossos povos se mobilizam em prol de sua soberania e sua liberação social.”

“Mas também suas análises e discursos radicais sempre terminam por ceder às pressões sociais de seu meio ambiente intelectual e conservador da pequena burguesia. Por isso, não me estranha muito que Petras termine dizendo apoiar a reforma constitucional, dando-lhe um rótulo de revolucionária, questão sobre a qual nós trotskistas temos nos manifestado de forma contrária, com sólidos argumentos políticos.”

Mais adiante, o líder sindical e coordenador da União Nacional de Trabalhadores argumentou: “respeito suas definições, mas me sinto obrigado a responder às inconsistências e falsas acusações de Petras, quando de forma irresponsável assegura que só ‘os militantes sindicais das pequenas seitas trotskistas na Venezuela, junto com os maoístas da Bandera Roja, se opõem à reforma constitucional´. Com este tipo de argumentos, o senhor Petras se coloca ao lado daqueles que, sem argumentos sérios, tratam de comparar forças revolucionárias e contra-revolucionárias. Por isso, surpreende que, do distante James Petras que fazia análises radicais sobre a Venezuela, ele hoje vá para o outro extremo, acusando em particular os trotskistas, que temos jogado a vida por este processo revolucionário.”

“Isso não é novo no caso dele. Há seis anos, escreveu um documento sobre o que ocorreu em 20 de dezembro na Argentina, querendo desconhecer o papel dos partidos trotskistas na Argentina, com a intenção de inclinar a balança a favor de direções reformistas e capituladoras, como as que se movem ao redor das Mães da Praça de Maio. Naquela oportunidade, este intelectual afirmou que a extrema esquerda trotskista havia se escondido debaixo da cama.”

“Ninguém pode desconhecer o papel das Mães da Praça de Maio naquele 20 de dezembro, mas quem teve a oportunidade de viajar dias posteriores a este país e participar das massivas assembléias populares, pôde ver que as organizações trotskistas, além de terem jogado um papel fundamental antes e durante a queda do presidente De La Rúa, também foram protagonistas no processo de organização de milhares e milhares de lutadores.”

“A intenção de desprestigiar os trotskistas parece ser uma obsessão deste intelectual norte-americano, e nisto ele se parece muito a todos os reformistas do mundo, que permanentemente utilizam os métodos stalinistas da calúnia e do desprestígio contra os revolucionários. Consola-me saber que as organizações trotskistas não se dobraram na Argentina a Duhalde nem a Kirchner, e agora se dispõem a enfrentar sua esposa Cristina, enquanto as direções reformistas reivindicadas por James Petras terminaram apoiando esses governos. É pouco sério que um intelectual do nível de Petras não tenha feito até hoje um balanço público desta situação.”

“Além de não fazê-lo, de novo fortalece sua campanha de desprestígio em nível internacional, afundando nossa reputação de revolucionários na Venezuela, ao tratar de dizer que somos iguais aos fascistas da Bandera Roja e que somos bem vistos e até presumivelmente apoiados pelo governo imperialista de seu país.”

“Exijo publicamente de James Petras uma retificação, não sobre sua posição política, a qual respeito, mas não comparto, mas sim sobre as calúnias contra os militantes trotskistas na Venezuela e no mundo. Creio que ganhamos o respeito lutando dia-a-dia neste país e não aceitamos que qualquer pessoa que queira fazer-se de intelectual sem compromisso revolucionário venha tirar o mérito de nossas idéias e de nosso comportamento. E mais – estou disposto a que se constitua um Tribunal Internacional Moral que julgue nosso comportamento e nossa política e nos sancione se tivermos cometido alguma traição política. Na falta desta comprovação, que faça calar aqueles que utilizam sua investidura de livre-pensadores para fazer acusações irresponsáveis no melhor estilo stalinista, manchando o bom nome de honestos revolucionários.”

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