Duas lamentáveis notas marcaram o início das comemorações do Dia Internacional do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (GLBT): um jovem gay carioca foi brutalmente assassinado e o Vaticano divulgou mais um violento ataque contra homossexuais.

Ao mesmo tempo, divulgava-se a programação da Parada GLBT de São Paulo, considerada a maior do mundo. Marcada para o dia 17, a parada tem como tema “Homofobia é crime”, uma escolha correta que, contudo, evidencia as principais contradições do movimento GLBT brasileiro.

Considerando-se o que vimos nos últimos anos, podemos esperar da Parada de São Paulo e da maioria das que acontecerão Brasil afora eventos marcados pela despolitização, nos quais a luta pela punição dos atos de preconceito e discriminação será diluída em um desfile “carnavalesco”.

Para os mais otimistas, isto não chega a ser um problema, na medida em que as paradas, no mínimo, dão “visibilidade” à comunidade GLBT. Mesmo que concordemos com a importância disto, vale lembrar que a simples “visibilidade” está a anos-luz da luta que temos de travar contra a homofobia.

Precisamos de direitos reais e do fim dos ataques físicos, ideológicos, legais e morais contra gays e lésbicas. Um objetivo do qual boa parte do movimento GLBT parece ter se desviado nos últimos anos.

A lógica do mercado e a ineficácia do governo
Dentro da programação do mês do Orgulho GLBT, um dos eventos com maior destaque foi um salão de negócios denominado “10 Pride & Attitude”, realizado em São Paulo, entre os dias 9 e 11. Patrocinado por grandes empresas como a Honda e os bancos Real e Santander, a feira teve como objetivo incrementar e potencializar o mercado GLS.

O episódio serve como deplorável exemplo do que é hoje o centro das atenções de boa parte do movimento GLBT: a inserção e “aceitação” de gays e lésbicas no mercado capitalista, abandonando a luta contra a homofobia.

Conseqüência disso é o quase completo descaso em relação, por exemplo, à pressão pela aprovação de uma legislação anti-homofóbica no Brasil. Vinculados em sua maioria ao atual governo, grande parte dos grupos do movimento GLBT sequer menciona o fato de que o projeto “Brasil sem Homofobia”, lançado com alarde em 2005, nunca saiu do papel e sequer teve um centavo do orçamento destinado à sua implementação. Como também pouquíssima atenção é dada ao fato de que projetos que prevêem punição às práticas discriminatórias estão mofando nos gabinetes do Congresso.

Por estas e tantas outras, o PSTU acredita ser importante sair às ruas nas paradas, mas não para simplesmente celebrar a visibilidade. Temos que ir às ruas para dizer que temos, sim, orgulho da história de lutas que deu origem ao Dia Internacional de Orgulho GLBT e tantas outras que garantiram as poucas vitórias conquistadas até hoje.

Lembrando também que, para gays e lésbicas, a única forma de acabar com a homofobia é caminhando no sentido inverso daquele que nos leva à “aceitação” pelo mercado: lutando por uma radical mudança na sociedade, para que possamos, um dia, ter iguais condições políticas e econômicas e exercer plenamente nossa diversidade.

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