E de repente as coisas começaram a mudar… Ao abrir a porta da reitoria, os estudantes da USP abriram caminho para um novo movimento estudantil. Uma poderosa greve contra os decretos do governador José Serra (PSDB) foi aprovada pelos estudantes das estaduais paulistas, com ocupações de reitorias e diretorias. A moda pegou, e por todo o país os estudantes ocuparam as reitorias das universidades federais, desta vez contra o decreto de Lula, o ReUni. A mobilização chegou às universidades privadas com a poderosa greve de 55 dias da Fundação Santo André, em São Paulo, e a ocupação da reitoria da Puc-SP.

Em 2008, mal o ano começou e vivenciamos novas ocupações, em especial a da UnB (Universidade de Brasília), com assembléias massivas que derrubaram o corrupto reitor Timothy Mulholland e conquistaram a paridade. Como se não bastasse, o segundo semestre já começa com a ocupação da UFMS (veja ao lado). Certamente outras lutas virão!

A retomada das lutas provou que os estudantes ainda têm motivos para batalhar. No calor delas começou a se construir um novo movimento estudantil, capaz de dialogar e conquistar o apoio de muitos.

A UNE, como era de se esperar, mais uma vez ficou do lado de Lula. Foi assim porque essa entidade já não possui nenhuma independência e se transformou em um cão de guarda do governo. A ausência de democracia e debate dentro da UNE impede quaisquer possibilidades de mudar essa entidade por dentro.

Superar a UNE
As mobilizações que vêm ocorrendo e a falência da UNE colocam para nós novos desafios. É preciso que o movimento estudantil faça um debate profundo e sincero sobre como avançar na organização nacional das nossas lutas.

A UNE historicamente cumpriu o papel de ser um instrumento nacional de organização dos estudantes para lutar. Mas agora passou de malas e bagagens para o lado do governo e se transformou num obstáculo para a luta. Assim, o movimento estudantil se encontra sem uma organização nacional de luta que enfrente os ataques do governo.

Esse não é um problema pequeno. É muito importante estarmos organizados nacionalmente para derrotarmos os ataques do governo Lula. Entretanto, não podemos acreditar que será possível construir uma alternativa de organização para o movimento estudantil nacional do dia para a noite. Para isso, será preciso acumular forças e fazer um debate profundo para que erros do passado não se repitam.

Congresso Nacional de Estudantes
O Encontro Nacional de Estudantes, realizado no dia 2 de julho, indicou ao conjunto das entidades do país a necessidade de debatermos a organização de um congresso nacional de estudantes. Tudo isso no sentido de construir um espaço democrático e combativo, em que o conjunto dos estudantes pudesse debater a organização das lutas e os rumos do movimento estudantil.

Entendendo a importância dessa proposta, várias executivas de curso aprovaram em seus encontros nacionais a participação e construção de um congresso nacional de estudantes. Entre elas estão as executivas dos cursos de educação física, letras, terapia ocupacional, fonoaudiologia e serviço social. A federação de história definiu participar como observadora do congresso.

Para que esse congresso possa ser de fato um espaço coletivo de debates e ação do conjunto dos lutadores, é fundamental que sua construção seja amplamente democrática. Esse congresso será organizado pela base ou não cumprirá seus objetivos. Para isso, precisa ser diferente, com uma comissão organizadora aberta a todas as entidades e ativistas, que tenha pauta, temas, metodologia e formato discutidos e definidos por todos.

Avançar em uma alternativa
Em nossa opinião, esse congresso deve reunir, portanto, todos os lutadores. Devemos buscar reunir todos aqueles que estão contra os ataques do governo Lula e dos governos estaduais à educação pública. Neste sentido, devem estar presentes nesse congresso aqueles que são contra a ruptura com a UNE, aqueles que defendem a ruptura, os que querem construir uma nova entidade, aqueles que não querem. Nesse congresso, portanto, serão expressas as mais variadas posições sobre os rumos do movimento estudantil.

Nós da juventude do PSTU somos da opinião de que o movimento estudantil precisa construir uma ferramenta de luta alternativa à UNE. Acreditamos que as mobilizações que vêm se desenvolvendo já deixaram claro que essa é uma tarefa necessária e possível de ser cumprida.

Essa ferramenta deverá ser oposta à UNE. Deve possuir outro funcionamento, outra metodologia e ser controlada pelas bases. Algo que é em nossa opinião muito importante para avançarmos na construção das lutas nacionalmente.
Se um centro acadêmico ou grêmio ajuda muito na organização da luta de um curso ou em uma escola, imagine a falta que faz um instrumento de luta para nos organizarmos nacionalmente.

Sabemos, porém, que esse debate está longe de ser consenso entre os ativistas do movimento estudantil. Para nós, o mais importante é que possamos avançar nesse debate no calor das mobilizações conjuntas. A própria experiência irá demonstrar qual é o caminho e quais são os ritmos que devemos adotar. Com a construção de um congresso democrático, poderemos debater este e outros temas e avançar em uma construção coletiva. De nossa parte, temos total clareza da importância de respeitar os ritmos e os debates dos diferentes estudantes e entidades envolvidos nessa construção. O congresso irá permitir uma troca nunca vista de avaliação das tarefas da luta e da organização do movimento.

A juventude do PSTU saúda a iniciativa dessas executivas de curso e outras entidades. Esperamos que mais estudantes possam se somar a essa construção. Convidamos todas e todos para organizar o congresso nacional dos estudantes e fortalecer as lutas, avançando na construção de um novo movimento estudantil.
Post author Emiliano Soto, da Secretaria Nacional de Juventude do PSTU
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