Direita barra salário de R$ 260 e coloca governo em maus lençóis`SenadoresNa noite de 17 de junho, o governo Lula sofreu uma derrota no Congresso Nacional. Por 44 votos favoráveis e 31 contrários, o Senado derrubou a Medida Provisória que fixava o valor de R$ 260 para o salário mínimo, aprovando a emenda substitutiva apresentada pelos partidos da oposição burguesa (PFL e PSDB), que o eleva para outros miseráveis R$ 275.

Nem mesmo a distribuição de verbas para comprar votos – segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), foram liberados R$ 53 milhões – nem os apelos dos líderes governistas, que chamavam os senadores a votarem pela “responsabilidade fiscal”, foram suficientes para evitar a derrota governista. Fato que aprofundará ainda mais a sua crise política e seu desgaste popular.

Nos próximos dias, o governo tentará reverter a decisão do Senado em uma nova votação na Câmara dos Deputados. Certamente, irá distribuir mais verbas para garantir a aprovação da MP. Na votação anterior já havia distribuído R$ 300 milhões aos deputados. Embora já tenha aprovado os R$ 260 por uma diferença de 99 votos favoráveis, seus aliados burgueses já disseram que não será fácil a Câmara reverter a votação do Senado. Neste caso, o presidente Lula vetará o aumento concedido pelo Legislativo, empurrando o salário de fome de R$ 260 goela abaixo dos trabalhadores.

Por que a derrota?

É possível enumerar várias razões para essa derrota: promessas não-cumpridas de liberação de verbas para parlamentares da base governista, disputas entre figurões do próprio governo e descontentamento dos aliados burgueses – como Sarney que não obteve o apoio esperado de Lula para aprovar sua reeleição no Senado.

No entanto, fatores essenciais foram a aproximação das eleições de outubro e a crescente desconfiança da população, manifestada na queda de popularidade do governo Lula.

Com o objetivo de capitalizar o desgaste do governo e arrebanhar votos nas eleições municipais, os partidos da oposição burguesa promoveram mais um show de oportunismo e hipocrisia. A proposta de elevar o salário mínimo para R$ 275, R$ 15 a mais do que a proposta do governo, nem de longe repõe as perdas acumuladas por anos e anos de arrocho salarial. Arrocho esse, imposto por oito anos de governo FHC, com a total colaboração desses oportunistas, que sempre votaram contra o povo e continuam votando, mesmo no governo Lula. Foi assim na reforma da Previdência e será nas reformas Sindical e Trabalhista, que pretendem acabar com direitos históricos dos trabalhadores.

Uma estranha comemoração

No dia seguinte à derrota do governo, os principais jornais do país publicavam fotos mostrando senadores tucanos e do PFL, como ACM, comemorado a derrubada da MP do governo. Mas o que causou mesmo muita estranheza foi a senadora do PSOL, Heloísa Helena, comemorar de maneira efusiva a aprovação dos R$ 275 junto com ACM, Arthur Virgílio e Cia. Em discurso pronunciado na tribuna do Senado, Heloísa Helena fez justas críticas ao salário de fome proposto pelo governo; denunciou a compra de votos de senadores, mas não fez nenhuma critica ao oportunismo da oposição de direita do PFL e do PSDB. Pelo contrário, chegou a dizer que “R$ 15 é muita coisa mesmo” e defendendo os senadores que votariam contra o governo declarou: “Existem senadores que não compartilham com farsas e não deixam que se coloque uma etiqueta nas suas testas dizendo qual é seu preço”. Ou seja, para a senadora, ACM deixou de ser um símbolo da corrupção neste país.

Em nossa opinião, a senadora do PSOL agiu de maneira equivocada ao não denunciar o desprezível show montado pela oposição burguesa. Além disso, deveria ter apresentada uma proposta que realmente recompusesse o salário mínimo, apoiada nas mobilizações dos trabalhadores, por fora dos corredores e gabinetes do parlamento.
Bem, diante de nossas argumentações, Heloísa poderia alegar que não houve tempo para construir esse tipo de iniciativa. No entanto, na véspera da votação, no dia 16, Brasília foi sacudida por uma grande manifestação chamada pela Conlutas contra as reformas neoliberais e o salário de fome.

A senadora, entretanto, não foi a esse ato e deu prioridade ao senadores que não compartilham com “farsas”. Além de ter perdido uma grande oportunidade para fortalecer a oposição de esquerda ao governo Lula, sua postura confunde ativistas e trabalhadores e acaba por ajudar os partidos de oposição de direita.

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