No próximo dia 5 de agosto, o MST e outras organizações que, com mais ou menos críticas, se localizam nos marcos do apoio ao governo Dilma, realizarão na cidade de São Paulo, uma plenária nacional de movimentos sociais.
Na pauta, está a proposta do dirigente do MST, João Pedro Stédile, de realização de um ‘‘plebiscito popular’’, entre os meses de setembro e novembro, pela convocação de uma Constituinte exclusiva para promover as reformas políticas. A pergunta do plebiscito seria: “Você aprova a convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva, a ser eleita pelo povo, de forma independente, para fazer as reformas políticas no país”?
Em torno a essa atividade, que seria o eixo ordenador das forças de esquerda, o dirigente do MST propõe uma ampla mobilização social, passando pela paralisação nacional do dia 30 de agosto, pelo Grito dos Excluídos e pelas mobilizações contra os leilões do petróleo, em outubro.
As conclusões que a direção do MST vem tirando das jornadas de junho são bastante equivocadas, chegando a afirmar que “é muito difícil arrancar, nesse momento, conquistas, mesmo das pautas mais econômicas”. Essa avaliação é realizada justamente num momento em que diversos governos, acuados pelas mobilizações populares, foram obrigados a recuar do aumento dos preços das passagens. Os companheiros sugerem ,na carta convite ao encontro de 5 de agosto, que é preciso mudar o sistema político para que possamos obter vitórias econômicas.
Nós também consideramos importante promover mudanças no sistema político brasileiro, que é totalmente controlado pelos grandes grupos econômicos. É para esses grupos que o Legislativo elabora a maioria das leis e o Executivo governa. A redução dos salários dos políticos, a prisão e o confisco dos bens dos corruptos e corruptores; a proibição de financiamento das campanhas por empresas; a revogabilidade dos mandatos, dentre outras medidas, são de interesse dos trabalhadores. Mas, é esse o debate que estará colocado numa eventual Constituinte exclusiva, como propõe o MST?
E mais, seria correto, num momento de ofensiva do movimento de massas reduzir a mobilização dos trabalhadores a essa pauta? Ou, aqui, está se tratando de livrar a cara do governo Dilma? É preciso uma Constituinte para que Dilma suspenda o pagamento da dívida externa e interna e invista estes recursos em políticas para melhorar a vida do povo? Para que Dilma suspenda os leilões das reservas de petróleo e pare as privatizações? É preciso uma constituinte para que o governo Dilma decida investir 10% na educação pública? Para que Dilma pare de dar dinheiro para o agronegócio e invista na reforma agrária? Nós, e inclusive João Pedro Stédile, sabemos que não. 
Houve uma mudança na realidade política do país, com a entrada em cena de milhares, na verdade, milhões de pessoas, com a juventude popular; estudantil e trabalhadora primeiro e, depois, os sindicatos, com a mobilização do dia 11 de julho. Os governos estão na defensiva, em particular o governo de Dilma, do PT e partidos aliados. Está colocada a possibilidade de uma greve geral que aponte um programa de ruptura com os interesses capitalistas.
O plebiscito proposto pelo MST tem a mesma função do plebiscito proposto por Dilma no auge das mobilizações de junho: a de uma cortina de fumaça, para tentar desviar os trabalhadores da luta que pode – e deve – obrigar o governo a mudar o modelo econômico que aplica hoje, que atende tão somente aos interesses dos bancos e grandes empresas.
 

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