Na Grécia, o entusiasmo com a vitória do “não”, com mais de 60% dos votos, foi contagiante. Afinal, foi mais uma ação desafiadora contra os banqueiros internacionais de um povo que não para de lutar desde que o país foi golpeado pela crise econômica. O referendo perguntava se os gregos aceitavam ou não mais um plano de austeridade do FMI, Banco Europeu e da União Europeia, a chamada Troika.

No entanto, em menos de uma semana do referendo, o governo do Syriza, encabeçado por Alexis Tsipras, escolheu o caminho da traição. E aqui é preciso chamar as coisas pelo nome. Tsipras traiu o povo grego. Ficou de joelhos perante a Troika e aceitou um “catálogo de crueldades humilhantes”, como diz a própria imprensa alemã, aliada de Ângela Merkel. Esse acordo vai significar mais privatizações, desemprego, corte no orçamento público e nas aposentadorias (leia as páginas 8 e 9).

No entanto, achar que Tsipras não tinha condições concretas para um rompimento com a Zona do Euro porque a maioria dos gregos não concorda com essa proposta, como sugeriu em recente artigo Milton Temer, militante do PSOL, revela total incompreensão sobre o processo de luta dos trabalhadores daquele país.

O Syriza poderia ter ganhado a população para a ruptura com a Zona do Euro. Tinha todas as condições para apostar nessa saída. Um povo que fez 30 greves gerais (e prepara a próxima contra o acordo do Syriza com a Troika); que votou no Syriza contra a chantagem dos banqueiros internacionais; e que rejeitou massivamente a Troika no referendo, está disposto a ir até as últimas consequências nessa luta.

Mas o governo sequer cogitou esboçar qualquer medida para a saída do Euro, bem como a anulação da maior parte da dívida. Também dispensou a oportunidade de mobilizar a população para que ela se auto-organizasse em comitês de bairros, fábricas, escolas e universidades. É bom lembrar que no início da crise a população, espontaneamente, se auto-organizou dessa forma pra enfrentá-la. Mas o Syriza vacilou, depois mentiu e agora trai o seu povo. A verdade é que Tsipras optou por administrar o sistema e não romper com ele, preservando os bancos e a propriedade privada dos grandes capitalistas.

A saída para Grécia é a luta sem tréguas contra a Troika e, agora, seu novo aliado, o governo do Syriza. O povo grego já demonstrou que tem todas as condições de derrotar mais esse ataque.

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