Os trabalhadores da fábrica Quero, na cidade goiana de Nerópolis, deram uma mostra de força ao fazerem uma paralisação de uma hora por turno no último sábado. Apesar da repressão da empresa, o ato foi um sucesso. O objetivo foi pressionar o sindicato patronal a reconhecer a existência do Sindialimento, novo sindicato fundado em 2007, e negociar a data-base de 2008, que está vencida desde novembro.

Já faz muito tempo que os trabalhadores queriam um grito de basta aos desmandos da empresa. Como lembrou um companheiro na assembleia que ocorreu durante a paralisação, “não é só salário, mas a humilhação diária que sofremos” o motivo da revolta. As condições de trabalho na Quero são ruins: a jornada de trabalho é muito longa, não tem descanso nem aos domingos, e os chefes são autoritários.

Além disso, a Quero não quer reconhecer o sindicato que, segundo decisão da Justiça do Trabalho, tem o direito de representar os trabalhadores de toda a Região Metropolitana de Goiânia, a qual Nerópolis faz parte.

Durante a última assembleia dos trabalhadores, no dia 22 de janeiro, foi aprovado que o pessoal de cada turno atrasasse a entrada na fábrica em uma hora no dia 31. A empresa reagiu, colocando os chefes para fazer pressão psicológica, além de mentir descaradamente sobre a legitimidade do Sindialimento.

Também tentaram amedrontar os trabalhadores durante o ato. Tinha gente tirando foto dos manifestantes e seguranças retirando os apoiadores do sindicato da área de lazer, onde os operários se encontram antes do expediente. Mas não adiantou. Muitos responderam ao chamado do sindicato e pararam. Durante o segundo turno, mesmo com o pessoal do sindicato sendo expulso do pátio da empresa, a paralisação conseguiu adesão, o que deixou os chefes de queixo caído.

Não é apenas o pessoal da Quero que está em campanha salarial, mas toda a categoria das cidades próximas à Goiânia. Por isto, a convenção coletiva deve ser assinada pelo Sindicato das Indústrias de Alimentação de Goiás (Siaeg), que também não tem respeitado a legitimidade do sindicato. Eles chamaram o Sindialimento para apenas uma reunião, onde não apresentaram nenhuma contraproposta. O Siaeg tem como presidente o deputado federal Sandro Mabel (PR), que usa a imagem de empresário com “preocupação social”. Mas até agora ele não demonstrou isto na prática.

Após a saída da Quero, os manifestantes foram para a casa do presidente do Sindialimento. Lá foram discutidos os rumos da luta. Esta foi a primeira mobilização operária da história de Goiás, mas não será a última. O Sindialimento pretende chamar os trabalhadores das outras empresas para também fazerem sua mobilização. A batalha é longa, mas a vitória é certa se os trabalhadores continuarem com a mesma garra que demonstraram no sábado.