Não é só por 13,5%. É por direitos e respeito!

Os amplos hangares da Embraer da unidade Faria Lima, em São José dos Campos (SP), ficaram praticamente vazios durante a última quinta-feira, dia 31. Foi o resultado da adesão de quase 100% dos funcionários da produção e do administrativo da empresa à greve de 24h aprovada pelos trabalhadores.

Foi uma das mais fortes mobilizações dos últimos anos, tendo sido aprovada em assembleias pelos trabalhadores dos três turnos da fábrica. Com a truculência e desrespeito de sempre ao direito de greve, a Embraer colocou um forte efetivo de seguranças e de policiais o dia todo na empresa. Mas isso não impediu a mobilização.

O objetivo da greve foi pressionar pelo atendimento das reivindicações da Campanha Salarial. Enquanto já foram fechados acordos em todos os outros setores patronais, com índice de reajuste entre 8% e 10%, além de outras conquistas, apenas a Embraer segue travando as negociações. Os trabalhadores exigem, pelo menos, o mesmo já conquistado pelo restante da categoria.

Após três meses do início da campanha, a empresa ofereceu 6,07% referente à inflação do período (setembro de 2012 a agosto de 2013) e apenas 0,5% de aumento real a ser aplicado somente em janeiro.

Indignação e insatisfação
Esta é a terceira vez, somente em outubro, que os trabalhadores da Embraer se mobilizam. Nos dias 8 e 23, os funcionários da Faria Lima e de Eugênio de Melo atrasaram em quatro horas a produção.

O fato é que o objetivo da greve de ontem foi buscar um maior aumento real nesta Campanha, mas os motivos que levaram à forte paralisação são mais do que isso.

Entre os funcionários, o sentimento da maioria é de indignação com o desrespeito da Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo, mas que vem impondo um brutal de arrocho salarial a cada ano e se nega a negociar com os trabalhadores.

A cada Campanha Salarial, a empresa ignora e trata com descaso as reivindicações e impõem apenas a inflação ou aumento real inferior às demais empresas da categoria. Foi assim na campanha do ano passado.

A PLR (Participação nos Lucros e Resultados) é hoje uma das mais baixas da região. No dia 11 de outubro, a empresa anunciou a primeira parcela da PLR 2013. Os trabalhadores receberão R$ 878 fixos mais 12,46% sobre os salários. Um trabalhador com salário de R$ 3 mil receberá apenas R$ 1.250.

É uma PLR menor que empresas de médio porte, como a Sun Tech, por exemplo, que tem cerca de 400 funcionárias, e pagou este ano R$ 4.200 de PLR. Na GM, só a antecipação foi de R$ 8.350 e o valor total pode chegar a R$ 16 mil.

Uma das principais reivindicações dos trabalhadores, a redução da jornada atual de 43h para 40h semanais, rumo às 36h, também é tratada com descaso.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos já apresentou dados que confirmam a viabilidade da adoção da medida, fundamental para combater o ritmo e a pressão cada vez maiores na empresa e garantir condições de trabalho e melhor qualidade de vida aos trabalhadores.

Cálculos realizados pelo Dieese, com base nas demonstrações financeiras da Embraer, mostram que uma jornada reduzida em três horas semanais teria um impacto financeiro de apenas 3,26% sobre a folha de pagamento e ainda geraria 1.224 empregos diretos. Ainda assim, a Embraer se nega a negociar o tema.

Lucros e ajuda do governo
Mas se para os trabalhadores, a política da Embraer e de seus acionistas estrangeiros é de arrocho salarial, desrespeito e ataques, a situação financeira da empresa segue muito bem.

Apesar de uma leve queda no lucro líquido no terceiro trimestre deste ano, divulgado esta semana em seu balanço financeiro, a carteira de pedidos firmes soma US$ 17,8 bilhões, atingindo seu maior nível desde o terceiro trimestre de 2009. A receita líquida para o terceiro trimestre foi de R$ 2,9 milhões, 3,5% maior que no trimestre anterior. No acumulado do ano até setembro, totalizou R$ 8,3 bilhões, comparada aos R$ 8,2 bilhões no mesmo período do ano passado.

Isso sem contar a generosa ajuda do governo federal. Somente em 2012, a empresa foi beneficiada com R$ 330 milhões em desoneração da folha de pagamento e R$ 203 milhões em financiamentos via BNDES (Bando Nacional de Desenvolvimento Social). Além disso, o governo Dilma já reservou R$ 959 milhões na previsão orçamentária de 2014 para o projeto KC-390 desenvolvido pela Embraer para a Força Aérea Brasileira.

Uma empresa que é beneficiada com dinheiro público, deveria no mínimo ser cobrada do governo federal para que atendesse as reivindicações dos trabalhadores e reduzisse a jornada. Mas a realidade é que, apesar de se beneficiar de todo esse dinheiro, a Embraer tem feito uma política inversa, impondo arrocho salarial aos seus funcionários e investindo fora do Brasil, provocando o fechamento de postos de trabalho em toda a cadeia do setor aeronáutico”, denunciou o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Herbert Claros.

A forte paralisação de 24h desta quinta-feira é o sinal de que os trabalhadores cansaram de ser desrespeitados, assediados e humilhados pela Embraer, apesar de serem uma mão de obra altamente especializada e garantirem o sucesso da empresa. A exemplo das lutas e da nova situação que sacode o país desde junho, os trabalhadores da Embraer começam a mostrar que estão dispostos a exigir seus direitos”, avaliou Claros.

ACESSE o blog do PSTU Vale