Campanha salarial começou em fevereiro; os trabalhadores não se dobraram e arrancaram 11% de reajuste dos patrões, mas a luta continuaTerminou em clima de festa a campanha salarial 2009 dos trabalhadores da construção civil de Fortaleza. Mais de 1.200 operários compareceram à assembleia de 23 de abril na sede do sindicato da categoria após uma jornada de lutas iniciada ainda em dezembro do ano passado e que mobilizou mais de seis mil trabalhadores em várias paralisações em diferentes canteiros de obras da cidade.

Histórico
Logo nas primeiras rodadas de negociação, os empresários do setor apresentaram uma proposta para a convenção coletiva que se configurou como um verdadeiro programa patronal anticrise com medidas restritivas à já limitada participação nos lucros, reajuste salarial abaixo da inflação e a implantação do banco de horas. Os patrões do setor acumularam lucros expressivos nos anos anteriores e ainda não sentiram o peso da crise mundial.

A “proposta” foi recebida pelos operários da única forma possível: como uma declaração de guerra. No dia 26 de fevereiro, uma assembleia com mais de mil trabalhadores rejeitou a proposta e votou pela realização de paralisações relâmpago de duas horas. A primeira delas ocorreu no dia 5 de março, com mais de 800 trabalhadores mesmo debaixo de chuva. Daí, vieram as paralisações dos dias 12, 18, 25 e também a do dia 30 de março que se somou ao dia nacional de lutas.

Unidade e força
Em cada paralisação realizada, a unidade da categoria foi sendo edificada, unindo operários de até dez canteiros de obras diferentes. No dia 1º de abril, outros mil trabalhadores, diante da intransigência patronal, realizaram uma assembleia. Eles votaram estado de greve e saíram em passeata, cortando as ruas da Aldeota, bairro nobre e centro comercial de Fortaleza, anunciando que a categoria se preparava para mais uma greve do peão.

A última paralisação, no dia 14 de abril, mobilizou cerca de 800 operários de dez canteiros de obras diferentes, tomou uma das mais movimentadas avenidas da cidade, a Desembargador Moreira, e fez com que a patronal não pagasse mais pra ver. Os empresários que já haviam recuado do banco de horas, mas que apresentaram como quem não quer nada o contrato por tempo parcial, foram obrigados a recuar mais uma vez e manter todas as conquistas da convenção salarial 2008.

Numa única semana, chamaram a comissão de negociação dos trabalhadores quatro vezes para construir um acordo salarial que evitasse a greve. Assim, no último dia 23, os trabalhadores aceitaram o acordo que significou, por exemplo, para os serventes, o setor mais explorado da categoria, um reajuste de 11%, o que representa um ganho real de 5% acima da inflação.

Nas palavras do diretor do sindicato e militante do PSTU Francisco Gonzaga, o acordo “não é o que os trabalhadores merecem, mas foi sim uma grande conquista”. Segundo Gonzaga, “a luta não acabou, isso não é o ideal pra nós, a luta continua no dia-a-dia nos canteiros de obra e contra as propostas do governo, até porque a patronal estava baseada em uma proposta do governo federal, que disse que em época de crise trabalhador não pode lutar por aumento de salário, e os trabalhadores passaram por cima disso”.

O PSTU participou da jornada de lutas da construção civil não só através de seus militantes do setor, mas também na presença ativa de companheiros da confecção feminina, educação, juventude, entre outros que se solidarizaram. Com mais essa vitória, a peãozada, mostrou que a única alternativa para os trabalhadores, mesmo em tempo de crise, é a mobilização permanente.