Depois da maior mobilização da história da categoria, trabalhadores da construção civil encerram campanha salarial derrotando a patronal e a repressão do governo Ana Júlia (PT)A campanha salarial dos operários da construção civil de Belém (PA) teve grande preparação na base, com seminários e muita discussão nos canteiros de obra, que reúnem 20 mil trabalhadores.

A patronal propunha repor apenas a inflação do último ano (4,57%). Os trabalhadores não aceitaram. Uma nova proposta foi feita: 5%. No dia 3 de setembro, uma assembleia com mais de 2 mil trabalhadores teve início na frente do sindicato, virou uma grande passeata e terminou nas portas do sindicato dos patrões, decretando greve por tempo indeterminado.

Maior greve da história do sindicato
Logo se percebeu que os operários não queriam apenas um aumento de salário, mas colocar para fora o sentimento de revolta contra a exploração sofrida diariamente nos canteiros de obra.

No primeiro dia de greve, uma passeata com mais de 8 mil trabalhadores, segundo a imprensa, saiu pelo centro de Belém. Outra caminhada, com 2 mil trabalhadores, ocorreu em um ponto distante da cidade. Foi a maior mobilização dos 101 anos do sindicato. A passeata principal fechou as obras em que ainda havia alguém trabalhando. Rapidamente, as bandeiras do sindicato, da Conlutas e do PSTU chegavam às janelas dos andares mais altos dos edifícios em construção.

Repressão e reação
Ao chegarem a uma obra da construtora Urbana, os trabalhadores foram recebidos por capangas armados. Mas, mesmo com o apoio da PM, eles foram colocados para correr.

Depois de mais de três horas de passeata, um reforço policial chegou e iniciou a repressão. Os trabalhadores reagiram. Diversos operários saíram feridos, incluindo um que foi atropelado por um veículo, supostamente da PM.

A imprensa burguesa chamou os operários de baderneiros, mas, no segundo dia, a greve foi ainda maior. Inúmeras obras foram paradas sem a presença de dirigente do sindicato (são apenas 12 para mais de 200 canteiros de obras). Diversas liminares foram concedidas pela Justiça, impedindo o sindicato de se aproximar das obras.

A vitória
No terceiro dia, decidiu-se suspender temporariamente a greve, mas a mobilização continuou. Uma fração minoritária da patronal cedeu e assinou um acordo com o sindicato.

No dia 24, pouco antes da assembleia que votaria o retorno à greve geral, a patronal comunicou que recuaria. A reunião já começou com sentimento de vitória, e o acordo foi aprovado por unanimidade. Para Ailson Cunha, coordenador-geral do sindicato e militante do PSTU, “foi uma vitória histórica, que fortalece as lutas e só foi possível porque os trabalhadores estiveram dispostos a lutar e o sindicato tem uma direção que não baixa a cabeça à patronal”.

Números da vitória
Os serventes de pedreiro (70% dos operários) vão ter 8,33% de reajuste. As demais categorias terão algo em torno de 7,5%. O desconto do vale-transporte cai de 6% para 4% e haverá adicional de 25% no salário para quem trabalha em andaime acima de três metros de altura.

O partido na greve
Em todos os piquetes havia um militante do PSTU, fosse da construção civil, do movimento estudantil ou trabalhador de outra categoria. A presença foi reconhecida pelos trabalhadores que cumprimentavam nossos militantes, inclusive com reconhecimento formal na assembleia final. Dezenas de exemplares do Opinião Socialista foram vendidos. Um dia após o final da campanha salarial, 20 operários participaram de uma reunião do PSTU. A maioria interessou-se em fazer uma experiência de militância com o partido.