Nesta quarta-feira depôs na CPI dos Correios o empresário Marcos Valério, o carequinha acusado por Roberto Jefferson de operar o mensalão no Congresso Nacional. O depoimento foi marcado por respostas confusas, cínicas e evasivas do empresário. Isso quando ele dava alguma resposta. Antes de depor o empresário conseguiu um Habeas Corpus da Justiça. Uma medida preventiva que impedia a CPI de declarar voz de prisão ao empresário.

Mesmo assim, diante de tantas evidências, Valério reconheceu que foi avalista do PT em um empréstimo contraído no BMG e que pagou uma das parcelas da dívida. A transação tinha valor total de R$ 2,4 milhões e o pago pelo empresário foi de R$ 350 mil. Ele disse que o PT não teria na época condições para pagar a dívida. A publicação do documento, que comprova a relação entre Valério e o PT, foi responsável pela saída do tesoureiro petista, Delúbio Soares e do secretário geral, Silvio Pereira. José Genoino, presidente do partido está na eminência de cair.

Expert
No mesmo dia do depoimento, o jornal Estado de S.Paulo publicou uma matéria comprovando que duas empresas de publicidade de Valério movimentaram R$ 1,2 bilhões entre 1999 e 2005. A fonte da informação é o Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que ainda mostra que das 103 retiradas superiores a R$ 100 mil, efetuados no Banco Rural – o Banco onde era pago o mensalão, segundo Roberto Jefferson – apenas 16 tiveram seu beneficiário identificado. Mesmo assim o empresário declarou: “Não sou expert em saques em bancos”. Imagine se fosse.

Silvinho
Questionado se conhecia Silvio Pereira do PT o empresário respondeu, como na Polícia Federal, que teria se encontrado com ele apenas uma vez. Mas ficou entrou em contradição quando um parlamentar disse que há registro de vários encontros de Valério com Silvio, três deles no hotel Maksoud Plaza. Valério lhe respondeu: “no Maksoud Plaza foi só uma vez”.

Modéstia
Valério ficou mal quando outro parlamentar perguntou a ele se teria transferido recurso para o exterior. Ele respondeu que apenas suas empresas transferiam quantias modestas, como US$ 10 mil. O problema, no entanto, foi o fato da antiga CPI do Banestado descobrir meses atrás que as transferências para o exterior de Valério chegavam ao valor de US$ 1 milhão de dólares, uma quantia nada modesta. O Empresário, por sua vez, ficou mudo.

Grana para procurador
A imprensa mostrou hoje mais uma suposta falcatrua de Valério. Segundo a Folha de S.Paulo, o procurador da Fazenda, Glênio Sabbad Guedes, recebeu no final de 2003 a quantia de R$ 902 mil de Marcos Valério. A quantia poderia ter sido paga como uma propina para beneficiar bancos com cancelamento de multas do sistema financeiro.

Recentemente, Glênio Guedes foi responsável pelo arquivamento de um processo contra o Banco Rural, o mesmo que era usado como central dos pagamentos de mensalão para deputados.

Na CPI Valério disse que seu relacionamento com procurador se limitava a um caráter “esportivo”, pois Glênio freqüentaria o mesmo centro de equitação que do empresário.

Negócios
Apesar claras limitações demonstradas na CPI (que nem sequer quebrou os sigilos bancário e telefônico do empresário antes de seu depoimento), as respostas contraditórias e evasivas de Valério indicam que ele é homem bastante acostumado com os bastidores sujos do poder. Seus negócios com a República acontecem desde os tempos de Itamar, passando por FHC até chegar – e também conhecer – o ex-tesoureiro Delúbio, quando o faturamento de suas empresas mais do triplicou. Vejamos se as mentiras de Valério se sustentam até as novas denúncias que irão surgir no próximo fim de semana.