Conselho de Segurança renovou a permanência das tropas, e Brasil segue no comando da repressãoNa última terça-feira, 13 de outubro, o Conselho de Segurança da ONU renovou por mais um ano a permanência de suas tropas no Haiti. A Missão de Estabilização das Nações Unidas para o Haiti (Minustah), como é chamada a ocupação militar no país caribenho, é comandada pelo exército brasileiro. A prorrogação foi decidida por unanimidade entre os 15 países que integram o conselho.

O Haiti está ocupado desde 2004, após a queda do presidente Jean-Bertrand Aristide. A missão da ONU teria, supostamente, o objetivo de estabilizar e garantir a paz no país. Hoje, cinco anos depois, o povo haitiano não conhece paz nenhuma.

O que se vê no país caribenho é miséria e repressão. Às condições de vida precárias, somam-se infinitas denúncias de violação de direitos humanos pelas tropas invasoras. Organizações denunciam, entre outras coisas, abuso sexual contra mulheres, invasões de lares, prisões arbitrárias e assassinatos.

O povo não tem sequer o direito à livre manifestação, pois a Minustah atua, junto com a polícia local, como agente repressor, como aconteceu no último 1º de Maio e nas lutas pelo aumento do salário mínimo recentemente. Quem tem lucrado muito com a mão-de-obra baratíssima haitiana são as multinacionais, principalmente do setor têxtil. Estão sendo instaladas dezoito zonas francas no Haiti para abrigar as empresas, a maioria norte-americana.

O país, onde cerca de 80% da população é miserável e se come biscoito de barro, se transformou numa verdadeira fábrica de escravos. O salário mínimo médio é de US$ 1,75 por dia. O máximo que um trabalhador haitiano pode chegar a receber é US$ 4 diários. Não é à toa que, em agosto passado, os soldados participaram de ações para reprimir greves dos operários têxteis.

Enquanto isso, a ONU gasta US$ 600 milhões por ano para manter os cerca de 7 mil soldados no Haiti. O Brasil tem o maior efetivo, 1.300 soldados. Um bom investimento para o imperialismo norte-americano, que fatura bilhões.

Em entrevista ao jornal Opinião Socialista, o ativista haitiano Franck Seguy, que vive no Brasil há dois anos, revela que “o povo haitiano não tem mais ilusões sobre o papel da Minustah”. “Ficou claro para o povo que a missão tem o papel de reprimi-lo, para assegurar o capital transnacional que é investido no país. (…) Cinco anos já se passaram e nada mudou de maneira positiva. Todas as mudanças que ocorreram no Haiti foram negativas. A presença militar piorou muito a situação. O povo sofre com a repressão”, disse.

Papelão do Brasil
O governo brasileiro aceitou o pedido do então presidente norte-americano, George W. Bush, para comandar a missão. O governo dos Estados Unidos estava desgastado, e o governo Lula assumiu o comando da repressão, aproveitando-se de sua popularidade na América-Latina.

O governo brasileiro garante a paz que as multinacionais precisam para superexplorar o povo haitiano. Isso significa garantir que os trabalhadores não se revoltem e não se mobilizem contra a situação a eles imposta.

Em 2006, Lula assinou um acordo de cooperação para a produção de etanol. As terras férteis e a mão-de-obra semiescrava garantiriam um custo de produção baixíssimo, permitindo suprir os mercados internacionais. A maior demanda, evidentemente, vem dos EUA.

Este trabalho sujo rendeu ao Brasil uma cadeira como membro não-permanente no Conselho de Segurança da ONU no período de 2010 e 2011. Logo após o anúncio da permanência das tropas, o governo Lula, através do ministério das Relações Exteriores, anunciou que a missão no Haiti será sua prioridade no conselho.

“O povo brasileiro, que não tem outros meios de saber o que está acontecendo no Haiti, vai achar que o governo brasileiro é um governo bom, que o exército está ajudando um país que enfrenta dificuldades, uma missão humanitária… é essa visão que o povo brasileiro vai ter”, diz Franck Seguy e afirma que “a verdade é que o povo haitiano não precisa de ocupação e o que existe no Haiti é uma ocupação que desobedece às leis haitianas”.

Resistência e solidariedade
Se, por um lado, só a resistência do povo haitiano é capaz de deter os crimes que estão sendo cometidos em seu país, a solidariedade internacional é fundamental para lutar pela saída das tropas. “Se contassem o que realmente se passa, correriam o risco de ver os brasileiros manifestarem sua solidariedade aos haitianos”, conclui Franck.

Por isso, a Conlutas e a rede Jubileu Sul lançaram a cartilha “Haiti, seu povo sua história, sua luta”. As entidades denunciam o papel que cumpre o governo Lula, apresentando dados e fatos. Mais de 20 mil exemplares já foram impressos e serão distribuídos gratuitamente na tentativa de romper o bloqueio da mídia e conscientizar a população brasileira sobre o que realmente ocorre naquele país.

Em 2007, uma caravana organizada pela Conlutas esteve no Haiti e presenciou a triste situação do povo. Este ano, os haitianos vieram ao Brasil. A continuidade da mobilização internacional é fundamental, mas é preciso ampliá-la.

É necessário unir entidades sindicais, estudantis, populares, partidos políticos, organizações de defesa dos direitos humanos, enfim, construir a mais ampla unidade possível para exigir a retirada imediata das tropas da ONU.

  • Baixe a apresentação do Ilaese sobre o Haiti

    VÍDEO: UFRJ aprova moção pela saída das tropas do Haiti