Quase três anos após o sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo Souza na Rocinha, Rio de Janeiro, finalmente estão sendo condenados os policiais envolvidos em seu assassinato. Amarildo desapareceu em julho de 2013 e o caso, numa conjuntura de turbulência social logo após as Jornadas de Junho, ganhou repercussão nacional e mesmo fora do país, tornando-se símbolo da violência policial e do genocídio perpetrado pela PM contra a população pobre e negra. 
 
Essa pressão forçou a investigação do caso e, dos 25 policiais denunciados, 13 já foram condenados. O major Edson Santos, comandante da UPP da Rocinha, foi condenado a 13 anos de prisão, enquanto que o tenente Luiz Felipe Medeiros, que teria planejado o brutal assassinato, a 10 anos e sete meses. As investigações mostram que, após ser sequestrado, Amarildo foi brutalmente torturado até a morte. O corpo do pedreiro teria sido levado e escondido por homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e até hoje não foi encontrado. Os PM’s tentaram ainda burlar as investigações e fraudar provas em sua versão de que Amarildo teria sido assassinado por traficantes.
 
Esse caso bárbaro mostra como a ditadura ainda não acabou nas periferias: seqüestro, tortura, assassinato, corpos ocultados, provas forjadas… E choca, sobretudo, a frieza com que os policiais cometeram essas atrocidades, só explicado pela certeza da impunidade. E seria esse mesmo o resultado desse crime caso não houvesse a comoção nacional e internacional em torno de Amarildo. Mas e quanto aos inúmeros “Amarildos” assassinados diariamente pela polícia nas periferias e favelas? “Amarildos” torturados e mortos com o mesmo requinte de crueldade e a mesma frieza, mas que não aparecem nas manchetes dos jornais?
 
A condenação desses policiais, ainda que a pena seja pequena frente à barbárie que cometeram, é uma vitória num país em que a regra é a absoluta impunidade desses assassinos de farda. Mas é, principalmente, um fato a mais para levar à frente a luta pela desmilitarização da Polícia Militar, esse entulho autoritário da ditadura que mata negro e pobre. E a pergunta permanece: onde está Amarildo?
 
 
 

Post author