Ônibus parados no Terminal da Lapa
Foto Raíza Rocha

Trabalhadores de diferentes categorias cruzam os braços e saem às ruas; Haddad (PT) trata greve como caso de polícia

A capital paulista vive uma verdadeira onda de greves e mobilizações que está causando o pânico do empresariado e dos governos da maior cidade do país. Nesse dia 20 de maio, protestos e greves de diferentes categorias alteraram o cotidiano de milhões de pessoas. No dia seguinte, as mobilizações continuaram e outros setores de peso ameaçam parar, como os metroviários.

São mobilizações radicalizadas, pela base, que enfrentam o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e de Fernando Haddad (PT) e que, embora de diferentes setores, compartilham um sentimento: a inflação aumentou, a realidade está difícil e os trabalhadores merecem mais salários e direito, o que só vão conquistar indo à luta.

Rebelião de base em rodoviários
Logo na manhã desse dia 20, uma greve dos motoristas e cobradores de ônibus paralisou a cidade. Assim como ocorreu recentemente no Rio, os trabalhadores rodoviários se revoltaram contra a atuação da direção de seu sindicato e impuseram uma greve pela base. O sindicato havia se reunido no dia anterior com a patronal para aprovar um acordo rebaixado que previa um reajuste de 10%, e um aumento que representava apenas R$ 0,70 por dia no ticket alimentação.  (veja como começou a greve aqui)

Os rodoviários denunciam que o acordo foi imposto sem passar por qualquer tipo de assembleia da categoria. “Eles anteciparam um dia a assembleia para passar esse acordo aí, o sindicato está junto com os patrões e o prefeito“, denunciou um trabalhador em greve no Largo do Paissandu, centro da cidade, no final do dia. “Esse reajuste aí é uma vergonha, é só 3% de reajuste na prática, a gente fica aqui trabalhando  12 horas seguido e tem que aguentar esse desrespeito, até a cesta básica que dão pra gente vem cheio de comida estragada“, reclamou o motorista.

A paralisação teve início na empresa Santa Brígida por volta das 8h e logo se espalhou para as outras empresas. Gigantescas filas de ônibus se formaram nas principais vias da cidade e os terminais foram fechados.

O prefeito Fernando Haddad (PT), além de não abrir negociação com os trabalhadores, atacou o movimento afirmando ser “inadmissível” a paralisação e anunciou a criminalização da greve. A prefeitura afirmou que irá ao Ministério Público pedir a instauração de um inquérito para apurar os “responsáveis” pela greve. O secretário municipal dos transportes, Jilmar Tatto, disse que a prefeitura acionará as polícias Federal e Civil para as investigações. Já o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, colocou a Polícia Federal à disposição da prefeitura do PT.

Nesse dia 21, a paralisação continuou, mesmo com as ameaças, com os motoristas e cobradores concentrados nas garagens das empresas. A categoria promete manter os braços cruzados enquanto as reivindicações não forem atendidas. Eles exigem 33% de reajuste, além de aumento no ticket alimentação, melhora no plano de saúde e na cesta básica.

Professores municipais enfrentam Haddad
A greve dos rodoviários parou a cidade, mas outras categorias estão em luta há mais tempo. Em greve desde o dia 23 de abril, os trabalhadores da educação do Município de São Paulo seguem na luta por melhores condições de salário, além de melhorias e mais investimentos na educação pública.

No dia 20 de maio os educadores pararam mais uma vez a Avenida Paulista. A manifestação de 20 mil professores partiu da Paulista até o prédio da Prefeitura, na tentativa de avançar nas negociações com Fernando Haddad (PT), sem sucesso, já que a prefeito continua intransigente.

Contrariando o compromisso assumido na greve do ano passado, a prefeitura apresentou uma proposta de aumento em forma de abono sem incorporação de 13,43%. “Além de se recusar a negociar, a prefeitura tenta coagir a categoria com o corte do ponto e o desconto dos dias parados, mas mesmo com essas represálias de Haddad, a greve segue forte nas escolas“, afirma a professora municipal Lourdes Quadros, dirigente da CSP-Conlutas e militante do PSTU. Na próxima sexta-feira, dia 23, ocorrerá nova assembleia da categoria para definir os rumos do movimento.

Sem-teto em luta por moradia
O dia 20 foi marcado ainda por um protesto dos sem-teto da ocupação Copa do Povo, próxima ao estádio Itaquera, na Zona Leste da cidade. Cerca de 2 mil trabalhadores sem-teto marcharam pela Marginal Pinheiros e ocuparam a sede da Construtora Impar (da Viver Empreendimentos), proprietária do terreno onde está a ocupação. Segundo o MTST, a construtora possui o equivalente a R$ 3,9 bilhões em terras e paga apenas R$ 57 em impostos pelo terreno de 1,5km². A Justiça já concedeu reintegração de posse à empresa, e a PM pode desocupar após reunião de conciliação marcada para o dia 23.

Os sem-teto ocuparam por algumas horas o saguão da sede da empresa na Vila Olímpia até serem recebidos por representantes da construtora. No final da tarde, o movimento participou de uma reunião na Assembleia Legislativa com representantes dos governos municipal, Estadual e Federal.

Metroviários em estado de greve
Os trabalhadores metroviários, por sua vez, decidiram decretar estado de greve em assembleia realizada nesse dia 20. Essa decisão permite que a categoria entre em greve nos próximos dias se não avançarem as negociações. Os metroviários decidiram ainda trabalhar sem o uniforme nesta quinta, 22, como forma de protesto, suspender as horas extras e a realizar atividades de conscientização da população.

Os metroviários estão indignados com a direção da empresa e o governo Alckmin, que acenaram com um reajuste de apenas 5,2%, que sequer repõe a inflação. Eles exigem reajuste de 35,47% (7,95% de reposição da inflação e 25,5% de aumento real), além de reajuste de 13,25% no Vale Refeição, entre outras reivindicações, como a contratação de mais funcionários e investimentos públicos na expansão do metrô.

Paralisação nas universidades estaduais
Os professores e funcionários das três universidades estaduais engrossaram nesse dia 21 o quadro das categorias com os braços cruzados. Docentes e funcionários da USP, Unesp e Unicamp paralisaram as atividades em protesto contra o congelamento dos salários determinado pelos reitores. 

*Colaborou Martha Piloto

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