Diante do fantasioso e heróico retrato que a Rede Globo vem fazendo do ex-presidente Juscelino Kubitschek através de sua minissérie (vide artigo no Opinião Socialista 245), cabe revisitar algumas produções cinematográficas que trataram a figura de JK e sua época de uma forma muito mais complexa e “realista”.
Para tal, pelo menos dois documentários, disponíveis em vídeo, servem como interessantes contrapontos para a minissérie global.

Os Anos JK: uma trajetória política (Sílvio Tendler, 1980)
Apesar de ainda estar impregnado por uma certa exaltação do presidente, principalmente por ter sido feito sob o impacto de sua morte – e da presença massiva de pessoas em seu funeral – e ainda durante a vigência da ditadura que o havia cassado JK, o filme de Tendler explora muito mais as contradições históricas do período e o real papel do ex-presidente.

Um ponto inquestionavelmente forte do filme é localizar a trajetória de JK dentro de um contexto internacional, apresentando outros “personagens” como Kennedy, Fidel Castro e Che Guevara. Também é dado um importante destaque para o ambiente cultural da época, marcado pelo advento da bossa nova, do cinema-novo e tantas outras manifestações estéticas e comportamentais.

Conterrâneos velhos de guerra (Vladimir Carvalho, 1990)
Excelente retrato sobre a construção de Brasília concebido a partir do olhar dos operários que participaram da construção da cidade (os candangos, na sua maioria migrantes nordestinos como o próprio diretor, que é paraibano e também transferiu-se para a capital federal). Gente que viu na construção da capital uma perspectiva de melhoria de suas condições de vida e, depois de trabalharem sob condições subumanas nos canteiros de obra, foi expulsa para as cidades satélites.

Além desta perspectiva rara no cinema brasileiro, também merece destaque o resgate que o filme faz de um episódio que todos os envolvidos no processo de construção da cidade – inclusive o próprio JK – sempre procuraram abafar: o massacre de um grupo de trabalhadores da empreiteira Pacheco Fernandes Dantas que se rebelaram contra a absurda exploração a que estavam submetidos.