A discussão sobre um programa de combate ao racismo foi conduzida por membros da Secretaria de Negros e Negras do PSTU, dentre eles a professora Dayse Oliveira, candidata à vice presidência.

Abordando o tema “Globalização e Racismo”, Dayse destacou como a implementação das políticas neoliberais, com base à discriminação, têm acirrado, em todo o mundo, a opressão e a superexploração de enormes setores da população. Exemplo catastrófico disto é o que se passa no continente africano, que está sendo dizimado por epidemias – particularmente a Aids – e pela fome.

Dayse também destacou que, se na Europa são discursos e práticas racistas explícitos que têm embalado o crescimento da ultra-direita, aqui no Brasil o velho mito farsesco da democracia racial não consegue esconder a terrível realidade vivida por negros e negras. De acordo com os dados levantados pelo Dieese, por exemplo, em S. Paulo quando o rendimento médio mensal dos homens brancos é R$ 100, um homem negro ganha R$ 50,6 e a mulher negra apenas R$ 33,6. Como também se sabe que, em escala nacional, a taxa de desemprego entre negros é 40% maior do que entre brancos.

Juntam-se a isso, os dados que demonstram que o índice de analfabetismo entre negros (40%) é mais que o dobro da média nacional (18%) e que menos de 2% da população afrodescendente tem curso universitário para se ter um quadro que, nas palavras de Dayse, “só pode ser combatido em um enfretamento sem tréguas contra o capitalismo, um sistema que, apesar de não ter “inventado” o racismo, tem se beneficiado enormemente da discriminação racial”.

Essa situação se agravará caso ocorra a implementação da ALCA, na medida em que isto implicará no desmonte dos serviços públicos, no aumento do desemprego e da precarização da mão de obra, em mais arrocho, etc. Algo que irá afetar a classe trabalhadora como um todo, mas terá conseqüências ainda mais nefastas para os setores historicamente marginalizados.

É por isso mesmo que, para o PSTU, um programa contra o racismo só pode ser concebido nos marcos de “raça e classe”. Ou seja, através da combinação de propostas específicas de luta contra a opressão racial com a atuação — em aliança com os trabalhadores de todas as raças — na luta contra o sistema capitalista.

Em termos concretos, este programa (que pode ser conhecido na página do PSTU) inclui desde reivindicações históricas do movimento negro — muitas delas, diga-se de passagem, abandonadas pelo PT graças à sua recente aliança com o PL, conhecidíssimo por “demonizar” em rede nacional tudo o que se refere à cultura negra —, como também programas de alfabetização e qualificação da população negra e até a luta pelo nivelamento salarial entre brancos e negros, passando por temas fundamentais como o combate à violência racial (que vitima principalmente jovens negros das grandes cidades) e a luta por um tratamento igualitário e não estereotipado nos meios de comunicação.

É dentro desta ótica, também, que a Secretaria de Negros e Negras do PSTU tem discutido as chamadas políticas reparatórias — como cotas nas universidades, no serviço público e na publicidade. Mesmo sendo evidentemente insuficientes no combate ao racismo, estas políticas não só têm mobilizado a população negra — abrindo espaço para se discutir um programa mais amplo e anti-capitalista — como também são importantes, quando forçam o Estado brasileiro a reconhecer seu papel criminoso no que se refere ao racismo.


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