Depois da restauração capitalista, o imperialismo sentiu-se fortalecido para desatar uma ofensiva recolonizadora mundial que inclui, entre outros elementos, os planos neoliberais, as privatizações, os acordos comerciais (como a Alca e o Nafta) e as tentativas de controlar as fontes mundiais de energia (origem das guerras do Iraque e Afeganistão, e da tentativa de golpe na Venezuela). A ofensiva deu um salto depois dos atentados de 11 de setembro. Depois deles, o imperialismo iniciou uma ofensiva muito mais agressiva, com guerras e pressões militares. Em outras palavras, mais “garrote”. No entanto, manteve a reação democrática como arma permanente, de modo combinado e complementar com as tentativas bonapartistas. Utilizando a velha fábula do burro, combinou “o garrote e a cenoura”.

Enfrentando essa ofensiva imperialista como a outra cara da situação mundial, ocorre uma grande reação das massas, que enfrentam, e muitas vezes derrotam, o imperialismo. Estão aí os exemplos da resistência iraquiana, a sublevação de massas que derrotou a tentativa de golpe na Venezuela, os processos revolucionários na Bolívia, Argentina e Equador, a Intifada palestina e muitos outros.

Para a LIT-QI, existe uma situação revolucionária mundial, conceito que foi muito questionado em seu significado e em sua utilidade política. Não queremos fazer uma discussão terminológica e nos parece melhor definir o que queremos dizer, com a descrição da situação mundial. No marco de uma crise econômica (que obriga o imperialismo a atacar duramente os trabalhadores e as massas), vemos uma violenta ofensiva recolonizadora imperialista e uma reação das massas, também violenta, a essa ofensiva.

O imperialismo não consegue controlar a situação criada nos momentos decisivos de sua ofensiva. Por isso, ocorre a guerra do Iraque, governos caem pelo acionar das massas e ocorrem revoluções (Bolívia, Argentina e Equador). Isso não quer dizer que haja situações revolucionárias em todos os países do mundo ou que a tomada imediata do poder esteja colocada na ordem do dia em todo o mundo.

Para entender melhor seu significado, é bom contrapor a situação atual com a que existia no início dos anos 90, quando o imperialismo fazia quase um passeio militar na primeira guerra do Golfo, as privatizações passavam sem a luta dos trabalhadores (ou com duras derrotas), a ofensiva ideológica falava do “fim do socialismo”, o “fim da luta de classes” etc. É claro que a realidade atual não tem relação com essa situação.

Por isso, ante os processos revolucionários, ou de forma preventiva, o imperialismo joga a carta dos governos de Frente Popular (governos de coalizão entre partidos e setores burgueses e partidos operários e centrais sindicais). É o caso de Lula, no Brasil, e Tabaré Vázquez, no Uruguai. Ao contrário dos antigos governos desse tipo, que geralmente entravam em choque ou tinham fortes atritos com o imperialismo, os atuais governos frente-populistas aplicam diretamente a política neoliberal mais dura, atuando como agentes diretos do imperialismo.

Para resumir, o que chamamos “situação revolucionária mundial” combina processos de crise econômica e crise política, guerras e revoluções, nos quais a perda de controle por parte do imperialismo e das burguesias nacionais abre a possibilidade de situações revolucionárias em diversos países do mundo e coloca então a possibilidade da tomada do poder pelos trabalhadores e pelo povo.

O imperialismo pode ser derrotado

`Charge Muitos concordam que o imperialismo é o principal inimigo das massas trabalhadoras e pobres do mundo; mas são cada vez menos os que afirmam que, para conseguir qualquer melhoria duradoura nas condições de vida, há que enfrentá-lo e lutar até o fim contra ele. A história mostra que toda tentativa de conciliação levou à derrota das massas. Ao mesmo tempo, tanto a história como a realidade atual mostram que é possível derrotá-lo, como ocorreu no Vietnã e como está ocorrendo no Iraque.

Nesse país, a resistência está enfrentando as tropas imperialistas de armas na mão, em uma verdadeira guerra de liberação nacional. Nessa guerra, os revolucionários estão, sem dúvida, do lado da resistência para derrotar as tropas invasoras e expulsá-las do país. Por isso, festejaremos a morte de cada soldado dos exércitos imperialistas ou dos colaboracionistas iraquianos.

O certo é que o Iraque mostra cabalmente que é possível derrotar o imperialismo, apesar de todo o seu poder militar. Atualmente, a resistência já está conseguindo isso, ainda que, claro, não esteja definido o resultado da guerra. Apesar dos 150 mil soldados, o armamento moderno e a tecnologia, o imperialismo não consegue dominar o país: apenas controla, de modo efetivo, as zonas centrais das principais cidades. Além disso, tudo indica que as fraudulentas eleições realizadas em janeiro não tenham mudado essa situação.

Esse pântano, que pode levá-lo à derrota, o imperialismo americano já tinha vivido no Vietnã, onde o heróico povo daquele país o levou à sua primeira derrota militar. A imagem dos helicópteros militares saindo às pressas da embaixada norte-americana em Saigon, com os colaboracionistas pendurados, deseperadamente, neles para fugir, pintou essa derrota com cores vivas.

Há pouco, o imperialismo também foi derrotado na Venezuela: a mobilização operária e popular liquidou as tentativas de derrubar o governo de Chávez, apesar da política do próprio Chávez (com todo o prestígio e as ilusões que gera em muitos setores da esquerda), que sempre apostou na conciliação com o imperialismo. As massas, em contrapartida, derrotaram o golpe pró-americano.

Esses reveses concretos do imperialismo são muito importantes: se os EUA perdem a guerra no Iraque, muda toda a situação mundial. No entanto, essas vitórias das massas, por si mesmas, não são suficientes para fazer com que a classe operária mundial derrote o imperialismo de forma definitiva. Para isso, a classe operária deve enfrentar a tarefa de tomar o poder por meio de uma revolução.

A revolução socialista e a tomada do poder pela classe operária

Em todos os países onde ocorreram recentemente processos revolucionários, foram colocadas duas alternativas ou saídas possíveis. A primeira era que a classe operária tomasse o poder e fizesse uma revolução socialista. A segunda foi a proposta de “defender e ampliar a democracia” por meio de eleições gerais ou de uma Assembléia Constituinte.

Por um caminho distinto, outros setores, baseados nas concepções do teórico britânico Holloway (“mudar o mundo sem tomar o poder“), tampouco tiveram uma estratégia revolucionária. Infelizmente, a esquerda reformista, agora apoiada por organizações que se reivindicavam marxistas revolucionárias, defendeu a política de “adoção da via democrática“, o que deu como resultado a paralisia ou o retrocesso do processo revolucionário na Argentina, na Bolívia e no Equador.

Contra essas posições, a LIT-QI afirmou e afirma que a única saída para derrotar o imperialismo é a classe operária tomar o poder em um ou mais países, construir um Estado operário revolucionário (ou seja, uma ditadura revolucionária do proletariado) e desenvolver a revolução socialista mundial que termine de uma vez por todas com o imperialismo.

Leon Trotsky (dirigente revolucionário russo e fundador da Quarta Internacional) dizia que nosso programa poderia resumir-se em três palavras: ditadura do proletariado. Essa definição conceitual e programática significa a construção de um Estado operário com a mais ampla democracia para os trabalhadores e seus aliados populares, como o campesinato, e uma duríssima ditadura contra a burguesia e os exploradores. Um Estado baseado na expropriação dos capitalistas e dos grandes latifundiários, ou seja, na coletivização dos meios de produção que passam para as mãos do Estado, na planificação da economia e no monopólio do comércio exterior, a serviço de satisfazer as necessidades dos trabalhadores e do povo e impulsionar a revolução mundial.

É uma ditadura revolucionária porque, ao contrário das ditaduras burocráticas impostas pelo stalinismo, defende a mais ampla democracia operária no interior do país e, ao mesmo tempo, trava uma luta permanente para que nenhuma burocracia ocupe o poder. Ao mesmo tempo, como já dissemos, esse Estado operário enfrenta o imperialismo e busca estender a revolução socialista internacional a todos os países, principalmente os países centrais.

Post author Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (www.litci.org)
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