Assembléia, à noite, com milhares de estudantes
Agência Cromafoto

Os 400 estudantes que iniciaram a ocupação no dia 3 de maio não poderiam imaginar a dimensão e a força que o movimento ganharia. A motivação fundamental é a derrubada dos decretos do governador José Serra (PSDB), que agravam o desmonte das universidades estaduais paulistas e ferem a autonomia universitária. Alguns pontos se destacam: a subordinação das políticas educacionais a uma secretaria do Estado, o contingenciamento de parte das verbas das instituições, a suspensão por tempo indeterminado da contratação de professores e funcionários, o privilégio das pesquisas aplicadas contra as pesquisas básicas, etc.

Governo na parede
Os decretos – que refletem no plano estadual a reforma universitária de Lula – garantem ao Executivo o poder de controlar e acelerar o processo de desmonte e privatização da universidade. Serra pensou que tudo se daria sem maiores problemas, mas os decretos encontraram um movimento estudantil forte e organizado, tendo como seus aliados professores e funcionários.

Efeito dominó
Desde o primeiro dia da ocupação, o movimento ganhou as manchetes dos jornais e dos noticiários da televisão. A direita jogou toda sua ira e calúnias contra a ocupação. A UNE não apareceu e nem mesmo mandou uma moção de apoio. Porém a dinâmica do movimento era ascendente e incontrolável. Foram assembléias com milhares, um ato no dia 23 com mais de três mil pessoas e a simpatia e o apoio de estudantes e trabalhadores do Brasil inteiro e de diversos países do mundo. Mas o principal ainda estava por vir: a ocupação provocaria uma poderosa greve de professores, funcionários e estudantes das estaduais paulistas.

O movimento conseguiu, assim, algo mais profundo: começar a expor a crise do ensino público no país. A mensagem aos governos de Serra e de Lula na ocupação é explícita: os ataques à educação pública não passarão e a juventude está de pé, junto aos trabalhadores.

Movimento com força
A ocupação coloca o governo e a reitoria numa situação delicada. Por um lado, o governo ameaça com a tropa de choque para retirar os estudantes do prédio. Caso isso aconteça, será um fato histórico de larga repercussão. Por outro, o movimento segue ganhando força. A greve de estudantes, professores e funcionários já é uma das mais fortes em muitos anos. Do mesmo modo, cresce a adesão à greve na Unicamp e na Unesp. A ocupação da reitoria da USP se configura, assim, como o símbolo maior da greve e o centro da resistência.

A força do movimento obriga o governo Serra a pensar num possível recuo, mas as palavras finais não foram dadas. Se de um lado o tucano ameaça com a tropa de choque, de outro crescem a ocupação, a greve unificada das universidades e o apoio de estudantes e trabalhadores de todo o país.
Post author direto da Ocupação da reitoria da USP (SP)
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