Desde a última sexta-feira, dia 4, os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) mantêm uma ocupação no prédio da reitoria. A ação ocorreu depois que um grupo de estudantes se dirigia ao local para exigir um pronunciamento público da reitora, Suely Vilela, sobre os decretos do governador José Serra, que impõem a precarização e a privatização das universidades estaduais paulistas. Entretanto, a reitora não compareceu e os estudantes decidiram ocupar o prédio e permaneceram no local ao longo de todo o fim-de-semana.

Nesta segunda-feira, dia 7, a ocupação se fortaleceu. Os estudantes passaram nas salas de aula e houve uma ampla divulgação. Isso atraíu centenas de alunos ao local. Muitas aulas foram suspensas, e uma aula pública foi realizada à noite diante do prédio da reitoria. Mais de 500 estudantes participaram.

Na aula pública, Professores e diretores da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), manifestaram seu apoio à ação estudantil. Henrique Carneiro, professor do curso de história da USP, lembrou diversas ações de ocupações que ocorreram ou estão ocorrendo no estado e pelo país afora, como a ocupação dos sem-teto realizada em Itapecerica da Serra (SP). “Sem-teto ocupam terrenos pela luta da moradia, sem-terra ocupam latifúndio na luta pela reforma-agrária, secundaristas ocuparam as ruas em defesa do passe-livre. Portanto, a ocupação de espaços públicos é plenamente legitima”, disse o professor sob aplausos dos estudantes. Ele ainda lembrou as lutas de diversas categorias, como os professores e do funcionalismo, que ocorrem em São Paulo. “Se a luta crescer, não recuem. Procurem a unidade com outras categorias dos trabalhadores”, concluiu.

A ocupação da reitoria é a primeira em sete anos. Dentro do prédio, em meio a sacos de dormir, mochilas e rostos que expressam uma mescla de cansaço e orgulho, há cartazes de diversas entidades manifestando apoio à luta estudantil. Também existem várias comissões para manter a organização e infra-estrutura necessária para ação. Ninguém entra no prédio antes de se identificar a uma comissão de segurança.

Ensaios teatrais são improvisados nos corredores do prédio. Os estudantes também contam com uma rádio comunitária (FM 106.7) para repassar as informações para fora, nos arredores do campus butantã.

Em meio à luta, se destaca a mais completa ausência do DCE, dirigido por grupos ligados ao PT e PCdoB. Durante a aula pública, alguns diretores da entidade distribuíram o “Jornal do DCE” onde, incrivelmente, não havia uma linha sequer sobre a ocupação. “O DCE não assumiu nenhuma tarefa na ocupação e tem uma postura de se recusar a ajudar nas negociações com a reitoria”, disse Gabriel Cazoni, estudante de ciências sociais e membro do PSTU.

A reitora Suely Vilela voltou rapidamente da França, onde se encontrava. Ontem à noite ela disse numa rede de TV que estava “disposta negociar com estudantes”. Na tarde desta terça-feira, será realizada uma assembléia dos estudantes para definir os rumos do movimento. Além de exigir uma posição sobre os decretos, o movimento quer a realização de um Conselho Universitário aberto e o atendimento a questões específicas da USP, como a solução de problemas na moradia e a contratação de professores. Os estudantes também querem a garantia de que não vai haver punição aos ocupantes que estão mobilizados para defender o ensino público e de qualidade.

No próximo dia 10, haverá uma paralisação do conjunto do funcionalismo estadual de São Paulo. O alvo da luta são os decretos de Serra e também seu projeto de reforma previdenciária (PLC n° 30/2005).

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