No amanhecer do dia 1° de junho de 2004, soldados brasileiros desembarcaram no país mais pobre da América Latina para iniciar uma vergonhosa ocupação colonial. “Fora iniciada a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH)”, orgulha-se o site do exército brasileiro. Desde então, o povo haitiano está enfrentando uma situação de enorme gravidade, submetido a abusos e à violência das tropas ocupantes.

O efetivo militar foi enviado a pedido de Bush e tem o objetivo de reprimir as mobilizações populares, a ação de grupos insurgentes e proteger o governo fantoche do presidente René Préval.

Atualmente cerca de 1.200 soldados brasileiros estão no Haiti. O exército brasileiro encabeça um contingente com outros militares do Uruguai, do Paraguai, da Argentina e do Chile.

Como prêmio por sua submissão canina ao imperialismo norte-americano, o presidente Lula espera que o Brasil ganhe um assento no Conselho de Segurança da ONU.

As tropas da ONU chegaram ao país cercadas de mitos. Afirmavam que seria uma “missão de paz” para controlar a violência e garantir a segurança da população. Não precisou muito tempo para os haitianos perceberem que o objetivo dos invasores era outro.

“As tropas não são mais vistas como protetoras, pois estão levando o terror contra o povo. Elas não são vistas nos bairros ricos, onde estão os grandes bandidos, as armas poderosas. Mas nas favelas, contra os pobres”, contou ao Opinião Socialista a haitiana Rachel Beauvoir Dominique, antropóloga, que esteve no Brasil em março denunciando a ocupação.

Para combater supostas gangues, as tropas ocupantes vão a favelas e bairros populares do Haiti, levando mais violência e terror à população. Crianças têm morrido vítimas de tiros indiscriminados.

A situação das mulheres é ainda mais vulnerável. São muitos casos de estupro e assédio sexual por soldados estrangeiros. Diversos órgãos internacionais de direitos humanos já se pronunciaram qualificando de genocídio a ação das tropas da ONU.

Protestos
Mas os trabalhadores e o povo haitiano não estão aceitando passivamente a agressão à sua soberania. No início do ano, cerca de 100 mil pessoas foram às ruas da capital Porto Príncipe, contra o governo de Préval e exigindo a retirada imediata das tropas da ONU do Haiti. Essa foi a maior manifestação popular no país desde o início da ocupação, apesar das ações repressivas das tropas ocupantes contra as manifestações.

Interesses econômicos
A estratégia de ocupação militar está ligada a uma ocupação econômica do país. As multinacionais visam transformar o Haiti numa gigantesca área de maquiladoras concentradas em zonas francas.

Desde os anos 80, o imperialismo norte-americano aplica um plano para transformar o Caribe em uma região de mão- de-obra barata. Para isso, dezenas de maquiladoras foram instaladas no Haiti, na sua maioria indústrias têxteis, que superexploram os trabalhadores. Atualmente, a mão de obra haitiana é a mais barata da América Latina.
Para aumentar o lucro das multinacionais, em dezembro de 2006 o governo norte-americano criou uma lei de livre comércio que autoriza isenção de impostos para vestuário, elétricos e automotivos importados do Haiti.

“Na realidade as forças da ONU, precisamente do Brasil, mas também da Argentina, Uruguai e de todos os demais países, estão apoiando a aplicação, a implementação desse projeto burguês e imperialista”, denunciou ao Opinião o sindicalista haitiano Didier Dominique.

Durante a visita de Bush ao Brasil, o presidente norte-americano e Lula declararam que pretendem realizar investimentos na área de biocombustíveis no Haiti. O plano é simples: instalar uma indústria de etanol no país – aproveitando-se da barata mão-de-obra haitiana – e realizar um acordo de livre comércio para facilitar a exportação do produto para os EUA.

Fora tropas brasileiras do Haiti!
Os trabalhadores e a juventude brasileira não podem ficar de braços cruzados diante dessa vergonhosa ocupação colonial. Não é possível haver soberania num país que continua sendo ocupado militarmente a mando do imperialismo.

A atuação dos soldados brasileiros no Haiti é semelhante ao genocídio promovido pelas tropas norte-americanas que ocupam o Iraque. É preciso exigir a saída imediata das tropas brasileiras do país caribenho. Essa bandeira deve ser tomada por todos os ativistas ligados aos movimentos populares, sindical e estudantil do Brasil. Todos os ativistas que lutam contra Bush e o imperialismo devem prestar todo apoio e solidariedade à luta do povo haitiano contra a ocupação.

Delegação da Conlutas vai ao Haiti em junho
A Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) decidiu, em reunião da Coordenação Nacional, organizar uma delegação de ativistas que visitará o Haiti para prestar solidariedade aos trabalhadores haitianos e aumentar a pressão pela retirada das tropas brasileiras.

A viagem será do dia 26 de junho a 4 de julho. Está programada a realização de atividades com a Batay Ouvriye (Batalha Operária), organização sindical e popular que abrange operários, trabalhadores em geral, camponeses, associações barriais e estudantes.

Todas as entidades que desejarem enviar representantes devem entrar em contato com a Conlutas através do telefone da sede nacional ou do seu email.

A primeira nação independente da América Latina
O Haiti foi o primeiro país a conquistar sua independência na América Latina, por meio de uma revolução de escravos. A luta durou 12 anos. Em 1804 a então colônia francesa se tornou efetivamente independente. Mas o imperialismo nunca perdoou a ousadia. Nos anos seguintes o país voltou a ser ocupado várias vezes e diretamente pelas tropas americanas de 1915 a 1934. Depois indiretamente através das ditaduras de Duvalier, Papa Doc e Baby Doc até 1985.

Atualmente o Haiti é o país mais pobre da América Latina, com 80% da sua população vivendo abaixo da linha da pobreza, 47% da população analfabeta e a expectativa de vida é de 51 anos (a média do continente é de 69 anos).

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