Cartaz de protesto produzido pelo PSTU

Ocupação do Haiti e acordos comerciais também estão na pautaNos dias 19 e 20 de março, o presidente norte-americano vai visitar o Brasil pela primeira vez. Como era de se esperar, a burguesia brasileira e os grandes meios de comunicação já estão fazendo um enorme alarde sobre a visita de Barack Obama. Vão dizer que a visita será um evento histórico, que marca uma nova era de “prósperas” relações entre os Estados Unidos e o Brasil. Seguramente, o velho bordão da ditadura “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil” vai ganhar novas roupagens.

Segundo as primeiras notícias divulgadas pela imprensa, Obama fará ao menos dois discursos no Brasil. Em Brasília, o norte-americano vai realizar uma palestra com empresários voltada para comércio e economia, além de ser recebido por Dilma Rousseff. O presidente também visitará o Rio de Janeiro, onde vai cumprir uma agenda mais informal, que prevê visitas em favelas e um discurso público voltado para a América Latina. O objetivo explícito da iniciativa é utilizar a figura de Obama para ganhar a simpatia da população e, assim, recompor as relações do imperialismo com os povos do subcontinente, profundamente desgastadas ao longo da era Bush.

Petróleo, ocupação e livre comércio em pauta
Durante o encontro com Dilma, os principais temas debatidos serão um acordo de comércio bilateral, o papel do Brasil na ocupação do Haiti – onde o Brasil assumiu a vergonhosa liderança da ocupação militar – e o petróleo do pré-sal.

Dilma e Obama devem assinar um tratado de cooperação econômica e comercial (Teca, na sigla em inglês). O tratado criaria um mecanismo bilateral para que as barreiras ao comércio possam ser flexibilizadas. O objetivo do acordo seria permitir a entrada de mercadorias produzidas por empresas norte-americanas sem taxação, ao melhor estilo dos acordos de livre comércio. Em contrapartida, o governo brasileiro tenta emplacar antigas reivindicações dos latifundiários do agronegócio do país, como a remoção das barreiras sanitárias a produtos primários como carnes e frutas.

O governo Obama está empenhado em ampliar acordos de livre comércio pela América Latina. Recentemente, seu governo passou a se esforçar para levar adiante os acordos bilaterais com Panamá e Colômbia, negociados ainda na administração Bush. O objetivo é ampliar as exportações do país para diminuir o imenso déficit comercial e o peso da crise sobre a economia dos Estados Unidos. O resultado dessa política, porém, será desastroso para o Brasil. Acordos comerciais como este só beneficiam as multinacionais e aumentam a exploração dos trabalhadores.

No entanto, os acordos referentes ao petróleo do pré-sal podem ser ainda mais graves. Nos preparativos do encontro, o governo brasileiro divulgou sua intenção de tornar o país um grande exportador de petróleo para ao EUA. O interesse de enviar o petróleo do pré-sal foi comunicado por Dilma, em fevereiro, ao secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner e, em janeiro, aos senadores republicanos John McCain e Jonh Barrasso, segundo o jornal Valor Econômico.

As intenções do governo brasileiro foram bem recebidas em Washington. A razão é simples: o imperialismo não vai fazer muito esforço para abocanhar o petróleo do pré-sal, pois o governo Dilma vai facilitar a entrega das reservas às multinacionais norte-americanas.

Dessa forma, a Petrobras realizará o trabalho mais custoso e difícil que é a extração do petróleo em águas ultraprofundas. Essa tarefa já tinha sido abandonada pela petroleira Exxon, pois foi considerada como não lucrativa conforme o registro da empresa em seu balanço no ano passado. A Exxon investiu milhões de dólares na exploração de petróleo na bacia de Santos, mas a taxa de lucros com o investimento foi considerada baixa. Contudo, o acordo entre Obama e Dilma poderá garantir à petroleira estrangeira total acesso ao petróleo do pré-sal.

O acordo é perfeitamente coerente com o regime de partilha do pré-sal estabelecido pelo governo Lula. Divulgado como uma medida supostamente nacionalista, o regime de partilha significa dividir o petróleo existente entre a União e as multinacionais. Em apenas em 71% da área do pré-sal será realizado o regime de partilha. Em somente 30% desta área que a Petrobras terá garantida sua exclusividade, ou seja, apenas 21% da área total. Com o acordo entre Dilma e Obama, esse petróleo será entregue às multinacionais norte-americanas.

Como se não bastasse, os leilões das áreas de petróleo (realizados por FHC e Lula) entregaram 29% do pré-sal as estas multinacionais. Portanto, o suposto nacionalismo do governo do PT será aplaudido de pé por Obama.

Por fim, Obama vai parabenizar o governo do PT pela sua liderança na ocupação militar do Haiti. Vendida como uma ocupação humanitária, a ação do exército brasileiro apenas ajuda a uma ocupação econômica do país. O objetivo das multinacionais é transformar o Haiti numa gigantesca área de maquiladoras concentradas em zonas francas.

Para isso, contudo, é preciso reprimir a população haitiana. Em 2009, greves dos trabalhadores do setor têxtil e a luta pelo reajuste do salário mínimo foram brutalmente reprimidas pelos soldados brasileiros. O mesmo aconteceu com protestos contra o governo fantoche de René Preval.

Obama vai perguntar se Dilma pretende manter a ocupação e continuar com o serviço sujo para o império. A resposta nós já conhecemos: “Yes, we can Mr. Presidente.”

LEIA TAMBÉM:

  • Obama e América Latina