Revirada eleitoral deve anunciar período de crises políticasO governo Obama sofreu a sua mais dura derrota desde que foi eleito, há dois anos, durante as eleições legislativas dos EUA nesse dia 2 de novembro. Ao contrário da euforia que marcou a vitória de Obama, essas eleições foram marcadas pela frustração, tirando dos democratas a hegemonia na Câmara dos Representantes, o equivalente aqui à Câmara dos Deputados.

O Partido Republicano assegurou 242 das 435 cadeiras na Câmara, contra apenas 193 dos democratas, que detinham nada menos que 255 parlamentares. Foi a maior virada eleitoral desde 1948. Algo como 30 dos deputados eleitos são ligados ao movimento de ultradireita Tea Party, que vem ganhando influência no último período com um discurso ultraliberal e anti-imigrante. Já no Senado, embora o Partido Democrata tenha conseguido manter a maioria, a diferença foi reduzida significativamente.

Já na disputa dos governos estaduais o Partido Republicano também avançou, conquistando 21 governos contra 13 dos democratas.

Fracasso de Obama
A dura derrota sofrida pelo partido de Barack Obama expressa o fracasso do governo em debelar a profunda crise econômica que há quase três anos domina o país. O próprio presidente foi obrigado a reconhecer o clima de frustração que domina o país. “Nos últimos meses, viajei pelo país e encontrei pessoas onde vivem e trabalham. Falei e ouvi. A eleição confirmou o que eu ouvi: as pessoas estão frustradas com o ritmo da recuperação”, afirmou o presidente à imprensa.

Essas eleições marcaram a derrota das políticas levadas a cabo pelo governo norte-americano para enfrentar a crise. Desde o final do governo Bush, os EUA impõem uma série de pacotes bilionários de ajuda às empresas e ao sistema financeiro, enquanto o desemprego crescia. Para levar a cabo esse plano e enfrentar a crescente rejeição dos norte-americanos aos políticos e às instituições, a burguesia sacou o nome de Barack Obama da manga, uma nova cara para a mesma velha política.

Obama, mesmo antes de se eleger, foi ao Congresso e ajudou Bush a aprovar o megapacote de 700 bilhões de dólares de ajuda aos bancos, no final de 2007. Sua campanha à presidência mobilizou os jovens e setores progressistas e comoveu o mundo inteiro. Difundiu-se a ilusão de que ocorreria uma verdadeira mudança a partir de Washington. Uma vez na Casa Branca, porém, Obama levou adiante sua política de ajuda aos bancos e empresas, cujo maior exemplo foi a estatização na prática da GM, salvando-a da bancarrota.

A crise econômica, no entanto, não foi superada. Os bilhões despejados pelo governo conseguiram conter a recessão e propiciar um relativo respiro, mas as taxas de desemprego ainda são altíssimas e a recuperação plena ainda está longe do horizonte dos norte-americanos. Como se não bastasse, o gigantesco déficit fiscal alcança proporções gigantescas, chegando a quase 2 trilhões de dólares. A popularidade de Obama, enquanto isso, cai e dá lugar à desilusão e a movimentos reacionários como o Tea Party.

Crise política
A virada de mesa do Partido Republicano não deve expressar uma mudança profunda na atual política do governo. Mesmo com todo o discurso de radicalização e polarização, o Partido Republicano e Democrata alternam-se no comando do Legislativo e Executivo sem grandes alterações na política, seja econômica ou externa. Os republicanos, por exemplo, atacam o que consideram um excesso de gastos do governo, defendendo um ajuste fiscal. Ao mesmo tempo, propõem a redução dos impostos, medida que deve aumentar ainda mais o déficit fiscal. Atacam ainda, e querem rever, a reforma do sistema de saúde aprovado pelo governo.

O avanço conservador, mesmo sem significar uma real mudança, deve provocar futuras crises políticas ao governo Obama, sinalizando, junto com sua crescente perda de popularidade e apoio, um período de instabilidades políticas que se juntará ao cenário de crise econômica.