Barack Obama
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Barack Hussein Obama será o primeiro candidato negro na história dos Estados UnidosNa última terça-feira, 3, o senador negro de Illinois finalmente atingiu o número de delegados necessários para assegurar-lhe a indicação do Partido Democrata. O resultado se deu após cinco meses de disputadas prévias com a senadora Hillary Clinton, tida, no início do ano, como a favorita. Agora, Clinton pretende valorizar seu passe após a derrota.

São fortes as especulações de que a ex-primeira dama seja indicada à vice na chapa de Obama. O objetivo seria fortalecer a candidatura democrata entre o eleitorado latino, uma vez que Clinton tem grande apoio desta comunidade. Atualmente, os latino-americanos compõem uma parte muito importante da população norte-americana. Eles são 15,5% da população segundo as estatísticas oficiais.

Crise do imperialismo
A rápida ascensão de Obama revela que não são poucos os pobres, negros e explorados norte-americanos. Muitos vêem o senador negro como a “cara nova” e depositam nele suas esperanças. Sua campanha bateu recordes de participantes, especialmente jovens, excitados por sua mensagem, ainda que vaga, de “mudança”.

E não são apenas o movimento negro e os jovens que apóiam Obama. Muitos ativistas antiguerra também foram atraídos pelas vagas promessas do senador sobre a retirada das tropas do Iraque.

Mas o que está por trás da candidatura de Obama? Um presidente negro à frente da mais poderosa nação do mundo pode acabar com a guerra e auxiliar na luta contra o racismo?

A candidatura de Obama responde a uma necessidade do imperialismo de “reciclar sua imagem”. A guerra de George W. Bush contra o Iraque despertou uma forte consciência antiimperialista em todo o mundo. Bush é odiado por milhões. Algo que fica explícito em manifestações em todos os países que visita.

Mas a guerra de Bush naufragou, e a ocupação se converteu num pântano. Longe de “estabilizar” o Iraque, como pretendia o norte-americano, a ocupação militar foi barrada pela resistência iraquiana. Isso gerou uma situação complicada para o imperialismo. Bush não pode retirar as tropas, exceto se admitir a derrota. Por outro lado, apesar dos bilhões injetados na guerra, o presidente norte-americano não sabe como mantê-la.

Como se não bastasse, os EUA foram atingidos por uma enorme crise econômica, levando definitivamente para um abismo a popularidade de Bush. A crise do governo Bush aponta para a necessidade de o imperialismo reciclar sua imagem dentro e fora do país. Até mesmo o candidato republicano, John McCain, não quer ver sua imagem associada a Bush.

Nova cara para dominação
Neste sentido, Obama seria a “novidade”. Uma cara nova, mas com a mesma política de dominação. A retórica antiguerra responde à crise enfrentada pelo imperialismo.

Mas Obama poderá muito bem se esquivar de suas promessas sobre a guerra usando companhias privadas de segurança para “estabilizar” o Iraque. O senador já começa a apontar para a possibilidade de se diminuir a quantidade geral de tropas no Iraque – algo que do ponto de vista militar é bem provável tendo em vista como o país está sobrecarregado – aumentando, em contrapartida, o número de mercenários atuantes no Iraque.

“Obama também fala da necessidade de ‘reforçar a atenção nas fronteiras do Oriente médio´, e acabar a guerra no Afeganistão. Por isso é provável que vejamos tropas sendo transferidas do Iraque para a ocupação no Afeganistão . É possível também que haja outras intervenções na região”, avalia Anthony Arnove, autor do livro Iriq: The logic of Withdrawa um livro base para todos os ativistas antiguerra dos Estados Unidos.

Por outro lado, logo após a vitória, Obama endureceu o tom do seu discurso. Ele disparou ameaças contra o Irã e assegurou proteção a Israel. Ele disse que fará “tudo” para impedir que o Irã tenha acesso a armas nucleares. “O perigo que vem do Irã é grave, é real, e minha meta será eliminar essa ameaça”, afirmou num discurso que em nada deixa a desejar aos pronunciamentos de Bush.

Na questão racial, por outro lado, Obama tem mais do que frustrado aqueles que esperam alguma atitude anti-racista. Durante toda campanha, o senador se apresentou como uma figura “pós-racial”, distante da história de lutas do povo negro norte-americano contra o racismo e pelos direitos civis.

Quando o tema ameaçava ressurgir em sua campanha, o senador fazia de tudo para se distanciar. Foi o que aconteceu nos episódios envolvendo as declarações do pastor evangélico Jeremiah Wright, ex-líder espiritual de Obama. Além de atacar o pastor, o senador anunciou sua ruptura com a igreja que freqüentava há mais de vinte anos.

Obama é negro e certamente sofre preconceito. Mas não vive a pobreza e a violência policial enfrentada pelos negros norte-americanos. Assim como outros políticos democratas e republicanos, contribui para a exploração de outros negros. E estará a serviço da manutenção de um sistema que se mantém sob a base do racismo.