O governo de Barack Obama sofreu uma incontestável derrota nas eleições parlamentares do dia 3. Por um lado, os republicanos (partido da oposição) ganharam a maioria na Câmara de Deputados e avançaram em quatro governos estaduais. Além disso, sua ala mais reacionária (Tea Party) cresceu assustadoramente, recebendo incríveis quatro em cada dez votos.

O Tea Party é o setor “fundamentalista” dos republicanos. Com um discurso baseado na diminuição dos impostos, no radicalismo religioso, na defesa de uma política anti-imigrante e na retirada da intervenção estatal em todos os setores da economia, o grupo foi o principal fenômeno eleitoral. Os “ultraconservadores” emplacaram 14 governadores, quatro senadores e milhões de votos.

Por outro ângulo, o desânimo contaminou a base de apoio aos democratas, o partido de Obama. A persistência da crise econômica está na raiz dessa frustração. Em pesquisa recente, 88% dos americanos se disseram pessimistas em relação aos rumos da economia.

Um fato parece inegável: o principal país imperialista do planeta vive uma grave crise, em todos os aspectos: econômico, político e social. A pergunta que fica é: para onde vão os EUA? Para melhor responder a essa questão é necessário voltar um pouco no tempo.

Crise, guerra e o primeiro presidente negro
Quase dois milhões de pessoas assistiram emocionadas à posse de Obama em janeiro de 2009, em Washington. Na maior comemoração popular da história de um presidente eleito nos Estados Unidos, a esperança parecia vencer o medo. Um sonho de mudança comoveu milhões em todo o mundo. Embalados sob o lema “Yes, we can” (“Sim, nós podemos”), uma incontável multidão de jovens, negros, trabalhadores e imigrantes festejava a promessa de que outro país era possível.

As expectativas não eram para menos. Aos milhares, os soldados americanos no Iraque e no Afeganistão estavam sendo tragados po uma guerra inglória. O colapso da economia roubava sem compaixão os empregos e as casas de milhões de norte-americanos. Os anos de “ódio e guerra” de Bush eram repudiados pelas massas em todo o mundo. Naquele contexto efervescente, Obama simbolizava a promessa de mudança, a esperança do novo.

O sonho está virando pesadelo
As ilusões foram se transformando em desalento, a esperança em frustração. Desde o início da crise, cerca de 8 milhões de americanos perderam seu trabalho. O desemprego atingiu a espetacular marca de 9,6%, o maior nível desde a crise de 1929. E os que ainda encontram ocupação se veem obrigados a aceitar os rebaixados patamares salariais. Na GM e na Ford, por exemplo, os operários perderam em média 50% de seu salário base.

O impacto da tragédia não se restringe ao mercado de trabalho: quase 20 milhões de famílias perderam suas casas. Muitas moram agora em casas de parentes ou mesmo em seus carros, que ficam aglomerados em grandes estacionamentos “bairros”. Já o atoleiro no Iraque e no Afeganistão aprofundou-se: a guerra continua implacável. Entre as negociações com o Taleban e a demissão de generais, a guerra consome milhares de vidas e bilhões de dólares num círculo vicioso que parece não ter fim.
Obama foi eleito precisamente para mudar essa realidade. Nada disso aconteceu. Para quem via além das aparências, não foi nenhuma surpresa. Obama e os democratas são representantes da burguesia mais poderosa do mundo. Não iriam governar para os trabalhadores, imigrantes, negros e pobres.

A vitória dos Republicanos e a crise política
Os resultados das eleições da última semana foram reflexo dessa forte crise econômico-social que abala o Império. O avanço dos republicanos no Congresso e nos governos estaduais alimenta ainda mais as dificuldades do governo.

Os republicanos construíram seu resultado eleitoral em base a um discurso populista: menor participação do Estado na economia tendo em vista a redução da dívida pública. Trata-se apenas de retórica eleitoral, pois quando estiveram no poder, com George W. Bush, a dívida pública explodiu. Quando a crise estourou, no final de 2008, republicanos e democratas tiveram amplo acordo em despejar bilhões de dólares para salvar o sistema financeiro. A profundidade da crise econômica e as reclamações da burguesia norte-americana impedem que o governo adote a postura exigida pelo discurso republicano. Não à toa, na última semana o FED (banco central dos EUA) anunciou uma nova injeção de 600 bilhões de dólares no mercado.

Resposta unificada para a crise?
Por outro lado, a derrota de Obama vai atrapalhar o prosseguimento dessa política não só nos EUA, mas em escala global. No começo da crise econômica mundial, a eleição do presidente (e todo seu impacto sobre o mundo) deu uma nova direção ao conjunto dos governos imperialistas. Sua administração era associada à mensagem do multilateralismo (vários países agindo em conjunto). A existência de uma nova direção para o imperialismo foi central para enfrentar a crise e impulsionar a recuperação de 2009. Mas o momento agora é outro. A derrota eleitoral de Obama, somada ao crescimento anêmico da economia norte-americana e ao estouro da crise na Europa, coloca obstáculos à tentativa do imperialismo norte-americano de coordenar uma saída conjunta dos países imperialistas para a crise.

Obama encontra-se numa encruzilhada. Sem o controle da Câmara e com margem menor no Senado, verá crescer a pressão pelas concessões aos setores mais reacionários. Por outro lado, sofrerá maior pressão também de sua base de apoio, que deseja a realização das promessas de campanha e uma ação forte do Estado na economia. Em quaisquer dos casos, os últimos anos de seu governo serão de instabilidade e crises políticas.
Post author João Pedro, de Congonhas(MG)
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