Criada em maio deste ano, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) acaba de ter seu “batismo de fogo” com a reunião de presidentes dos países integrantes em meio à crise boliviana.
Na reunião ficou claro o peso central que tem o Brasil na região. Inicialmente impulsionada pelos países mais favoráveis a Evo Morales (Venezuela, Argentina e Chile), a reunião só esteve garantida quando o presidente brasileiro, Lula, confirmou sua participação.
Para participar ele impôs condições: que a reunião fosse pedida por Evo e que estivesse orientada para um “diálogo conciliador” com a burguesia da Meia Lua. O objetivo era atingir uma “solução negociada e sustentável” cujo conteúdo, basicamente, é o acordo que assinará Evo com a oposição. Não é casual que o diário espanhol “El País” tenha informado a reunião com o título: “Lula toma as rédeas da crise boliviana”.
A posição de Lula era plenamente favorável à burguesia da Meia Lua. Para que não fiquem dúvidas vejamos uma declaração de Marco Aurélio Garcia, assessor especial do governo para as Relações Exteriores: “Em nossa avaliação, há um aspecto negativo e outro positivo. (…) O negativo foi a ordem de prisão para o governador de Pando, Leopoldo González. O positivo foi o estabelecimento de uma agenda de negociação entre governo e oposição em torno de três pontos: mudanças no projeto constitucional, autonomia dos departamentos e impostos” (“O Estado de S. Paulo”, 17/9/08).

Para o governo brasileiro é “negativa” a prisão de um governador responsável pelo assassinato de dezenas de camponeses por parte de bandos fascistas e é “positivo” que o governo aceite capitular a todas as reivindicações da burguesia da Meia Lua.
É a partir dessa posição do governo Lula que se deve perceber o significado da reunião e da declaração da Unasul. Se por um lado ela respalda o governo de Evo frente a “qualquer tentativa inesperada de divisão do país”, ao mesmo tempo o objetivo de fundo da reunião foi garantir a negociação dessa nova capitulação de Evo à ultradireita.

A Unasul nasceu com a suposta intenção de ser uma organização internacional diferente da OEA, mais independente dos EUA. Diante da situação boliviana, a Unasul poderia demonstrar rapidamente essa “independência”. Por exemplo, expulsando todos os embaixadores norte-americanos dos seus países, como fizeram os governos de Evo e Chávez. Além de romper relações diplomáticas com EUA, enquanto o governo desse país mantiver o respaldo à burguesia da Meia Lua.

Mas, longe de tomar essas mínimas medidas políticas independentes, hoje os representantes da Unasul, junto com a OEA, a ONU e a Igreja Católica, estão na Bolívia como observadores para “santificar” a capitulação de Evo.

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