A União Nacional dos Estudantes (UNE), fundada em 1937, protagonizou importantes lutas na conjuntura nacional brasileira.

Em 1940, desenvolveu uma grande campanha contra o nazifascismo durante a II Guerra Mundial e, em 1947, encabeçou o movimento “O Petróleo é Nosso”.
Em 1956, diante do aumento das tarifas dos bondes do Rio de Janeiro, a UNE uniu-se aos trabalhadores e criou a União Operária Estudantil.

A década de 60 foi um dos momentos de maior ebulição do movimento estudantil.
Quarenta universidades públicas tiveram suas atividades paralisadas numa greve que reivindicava a participação estudantil nos órgãos colegiados.
A UNE se opôs frontalmente à reforma Universitária MEC/USAID do regime militar, que tinha o objetivo de implementar o modelo norte-americano de educação nas universidades brasileiras.

Em 1968, a UNE decreta uma greve geral estudantil em protesto ao assassinato do secundarista Édson Luís e participa ativamente da “Passeata dos Cem Mil”, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, 700 estudantes são presos no Congresso da UNE de Ibiúna, entre eles o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o comentarista político da Rede Globo, Franklin Martins.

No congresso de refundação da UNE, em 1979, no Centro de Convenções de Salvador, foi votada a histórica Carta de Princípios que defendia um campo de classe da entidade junto aos trabalhadores.

A UNE tem ainda um papel de destaque nas “Diretas Já!”, e a última lembrança da entidade em movimento é o “Fora Collor”, em 1992.

O fim de um ciclo histórico
A partir da década de 90, a UNE dá um salto em sua burocratização quando apóia a posse de Itamar Franco e começa a comercializar o direito a meia-entrada conquistada após a derrubada de Fernando Collor. É então formada a famosa “máfia das carteirinhas”.

A direção majoritária da entidade – PCdoB – vacilou no “Fora FHC” e apoiou governos estaduais de direita como o de Roseana Sarney (PFL – MA), Marconi Perilo (PSDB – GO) e Mão Santa (PFL – PI).

A falta de democracia na entidade estava subordinada a uma política de conciliação com governos e reitorias. A violência física tornou-se uma constante em seus congressos. O afastamento da UNE da base ficou cada dia mais evidente.

Com a chegada de Lula e do PT ao Planalto, a UNE deixou contudo de ser um obstáculo relativo e passou a ser um entrave absoluto à luta dos estudantes. A UNE é hoje uma entidade governista que apóia a reforma Universitária que vai privatizar as universidades públicas, salvar os tubarões da rede particular e permitir a entrada de capital internacional no ensino superior. Como se não bastasse, a UNE chamou no dia 6 de abril deste ano uma mobilização para defender o governo e suas reformas.
Se antes era difícil disputar os rumos da entidade, agora é impossível. A integração da UNE ao Estado deu-se pela sua entrada no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CNDES) e dos ministérios ocupados pelo PCdoB. Lula e seu ministro da Educação, Tarso Genro, não irão permitir que a UNE tenha seu curso governista interrompido.

Mas o papel mais vergonhoso que a entidade viria a cumprir ficou reservado para estas semanas, na mais grave crise política do governo Lula. A UNE foi linha de frente na “operação abafa” para esconder a corrupção no Congresso Nacional e acobertar o “mensalão” de Delúbio Soares.

Debruçando sobre o passado e analisando o presente, percebemos que muita coisa mudou. A união operário-estudantil foi substituída pelo pacto social com banqueiros e latifundiários. A independência perante os governos foi enterrada e o presidente da UNE, Gustavo Peta, nada mais é do que um garoto de recados de Tarso Genro. A batalha travada pela UNE contra a reforma MEC/USAID deu lugar à co-autoria no projeto de reforma do Banco Mundial. Zé Dirceu, ex-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), preso pela ditadura militar, é categórico ao afirmar “que o pau vai comer!” na reforma Universitária. E a “máfia das carteirinhas” era apenas uma marola diante do mar de lama que vive o governo Lula.

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