Redação

Prédios incendiados, passeatas e uma feroz repressão marcam os protestos pela separação do paísNos últimos dias, protestos contra a dominação chinesa tomaram conta do Tibet e de outras regiões do planeta. As manifestações ocorrem meses antes dos jogos olímpicos na China, o que tem indisfarçavelmente constrangido os governantes chineses.
No Tibet as manifestações iniciaram na capital, Lhasa, na ocasião do aniversário da fuga do Dalai Lama, em 1959. Outras manifestações ocorreram no norte da Índia – onde se encontra o governo budista exilado.

As manifestações foram reprimidas pela polícia chinesa, dando início a protestos ainda maiores. Em 12 de março, centenas saíram às ruas novamente na capital do Tibet. A repressão policial não conseguiu paralisar os protestos, que se estenderam para outras cidades tibetanas, transformando-se numa revolta aberta, com casas e carros incendiados. A censura chinesa, entretanto, não permitiu aos jornalistas documentar os acontecimentos, o que faz supor que as notícias oficiais sejam distantes da verdade e que a repressão tenha sido brutal e indiscriminada, com dezenas de mortos.

As imagens da capital ardendo em chamas fizeram com que os olhares do mundo se voltassem para essa região autônoma da China, de 1,2 milhão de km2, nos quais está parte do Himalaia e as maiores montanhas do planeta. Os protestos no Tibet são parte de um movimento democrático pela autodeterminação, ainda que a maioria de sua direção seja atrelada ao imperialismo. Os revolucionários devem defender o direito à autodeterminação de uma nacionalidade oprimida e analisar os diferentes interesses envolvidos na luta dos tibetanos.

O caráter de classe do regime chinês
Para definir uma política para a situação tibetana é preciso analisar o caráter do Estado chinês. Ao contrário do que dizem setores da esquerda, como o PCdoB, a China não é um país que caminha “rumo ao socialismo”. O capitalismo já voltou ao país, pelas mãos da direção do Partido Comunista. A burocracia pôs fim ao monopólio do comércio exterior que, na essência, protegia a economia contra a penetração da influência capitalista externa.

O crescimento econômico chinês está totalmente subordinado aos interesses das empresas imperialistas e apoiado na produção e na exportação de equipamentos de baixa tecnologia e produtos têxteis. São as multinacionais que determinam o papel do país no mercado mundial. Assim, o país se transforma numa imensa semi-colônia capitalista cujo objetivo é exportar mercadorias. Para isso, há uma superexploração dos trabalhadores – chamariz para o capital externo. Na China, a média do salário por hora é atualmente de 0,90 dólares, algo em torno de R$ 1,60.

As reivindicações dos tibetanos, portanto, não se dirigem hoje contra um “Estado operário burocratizado”, mas sim contra a feroz ditadura do Partido Comunista Chinês, responsável pelo massacre da praça Tianamen e por uma repressão permanente a qualquer luta ou organização sindical ou democrática e que garantiu a volta do capitalismo e produziu uma nova burguesia endinheirada.

Uma luta justa ou apenas uma manobra do imperialismo?
Em junho de 2007, ocorreu em Nova Delhi , na Índia, uma conferência dos “amigos do Tibet”, que lançou um apelo por uma ofensiva separatista, aproveitando que todos os olhares do mundo estarão voltados para a China, por conta das Olimpíadas. Em janeiro foi criado o “movimento de revolta do povo tibetano” que marcou a data de 10 de março para o início da revolta.

As relações do imperialismo norte-americano com o Tibet são antigas. Remontam a 1955, quando a CIA (Agência de Inteligência norte-americana) iniciou a construção de um exército contra-revolucionário no Tibet. A CIA também sempre sustentou e subvencionou o Dalai Lama e sua corte, ajudando-os a construir um governo no exílio.

Depois da vitória da revolução chinesa, os Lamas do Tibet aproximaram-se do imperialismo ianque. Os EUA reivindicaram a proclamação da “independência” da região, com o intuito de criar um enclave dentro do Estado operário chinês. Assim tentaram enfraquecer a revolução chinesa e ao mesmo tempo ligar o povo do Tibet ao imperialismo.

Mas a revolução chinesa conduziu a expropriação da oligarquia local. Houve uma extensão das conquistas da revolução chinesa aos camponeses do Tibet. Ainda que dirigida de forma burocrática, isso foi extremamente progressivo e proporcionou uma profunda evolução material e cultural aos habitantes da região, arrancando-os da miséria que sofriam nas mãos da oligarquia dos Lamas.

A diferença entre o Tibet antigo governado pelos Lama está no fato que agora não existem mais as castas, a escravidão e a servidão. O mítico Tibet, contado no Ocidente como uma terra paradisíaca na qual, antes da revolução, cada pessoa vivia em paz consigo mesma e com o mundo, era na realidade uma região onde existia a violência e os crimes eram punidos com a tortura. O Dalai Lama, glorificado pela grande imprensa, nunca renegou este passado.

Uma perspectiva socialista para a autodeterminação
O “direito de autodeterminação” deve ser resultado de uma livre decisão. Se essas nações decidirem constituir um novo Estado independente, os revolucionários devem respeitar essa definição.

Tomamos como exemplo a política de Lênin sobre o direito a autodeterminação. Após a revolução de 1917, os bolcheviques aceitaram a decisão da Finlândia, cujo povo escolheu separar-se da URSS.

Entretanto, a defesa da autodeterminação do povo tibetano deve ser realizada com independência de sua atual direção pró-ianque. O protesto do povo tibetano encontra suas raízes no descontentamento geral do povo chinês, mas hoje o movimento é dominado por um grupo separatista que possui relações estreitas com o imperialismo.
Uma efetiva libertação do povo tibetano e de todo povo chinês não pode ser confiada num grupo de religiosos, que por trás da retórica de não-violência esconde os seus mais baixos interesses de classe.

O único caminho para uma real emancipação do povo tibetano passa por uma luta pela independência conduzida com a completa autonomia do imperialismo e de seus agentes locais. Uma luta que deve estar ligada às massas populares e ao descontentamento geral do povo chinês contra a ditadura burocrática do PC e sob uma perspectiva socialista.
Post author Bruno Sanchez, de São Paulo (SP)
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