Grande parte da esquerda reformista, o PT e o PCdoB, com seus parlamentares e governantes, despreza o sentimento que vai ganhando cada vez mais corpo entre os trabalhadores e jovens, de repúdio aos “políticos”. Esses setores tomam esse repúdio como expressão de atraso político das massas, quando, na verdade, expressa a experiência que vai sendo feita com os partidos de direita, ou dessa “esquerda”.

Isso é importante quando se vê a crise política em que está metido o governo, pelos escândalos de corrupção. Lula já repetia FHC na política econômica a serviço do FMI.

Não existia ainda a bandeira da ética na política. Veio o caso Waldomiro, deixando aos que ainda acreditavam em Lula um ponto de interrogação enorme. Agora, com o escândalo nos Correios e a operação abafa CPI, as máscaras caem.

A oposição burguesa tem na manga mais munição contra o governo, e já está começando a ameaçar Delúbio Soares, tesoureiro do PT, conhecido como o PC Farias do governo Lula. O PSDB e PFL, que têm um histórico gigantesco de corrupção, agora denunciam nos mesmos termos o governo petista, com vistas às eleições de 2006. Muita água vai rolar embaixo dessa ponte.

Para quem ainda se surpreende com as transformações do PT, seria interessante olhar para a Bolívia. Ali, Lula atua, por meio da Petrobras, exatamente como as multinacionais agem no Brasil, enfrentando-se com as legítimas aspirações do povo boliviano. Poucas vezes na História, o Brasil agiu de forma tão descarada como submetrópole a serviço do imperialismo como faz agora na Bolívia e no Haiti.

Quais serão os reflexos da atual crise política? O governo aposta no crescimento econômico, nas expectativas de que venham afinal melhorias sociais. Lula também se apóia na CUT e na UNE para conter as mobilizações sociais.

Tanto o PT como a oposição burguesa esperam que a bronca que vai crescendo seja canalizada para as eleições de 2006. Lula vai querer esterilizar a CPI, abafar os escândalos e, apoiado no crescimento econômico, ganhar as eleições. A oposição burguesa quer desgastar o governo para se fortalecer eleitoralmente e retomar o governo.

Nós estamos a favor da CPI, mas não nos iludimos de que qualquer iniciativa deste Congresso possa levar até o fim uma investigação contra a corrupção, que atinge a maioria absoluta dos parlamentares.

Eis o espetáculo da democracia burguesa, que se parece mais com um circo de horrores, um teatro dos vampiros. Vejam, senhoras e senhores, o novo-velho espetáculo: um governo corrupto, sendo denunciado por uma oposição corrupta, pela CPI em um Congresso corrupto. O mestre de cerimônias, Severino Cavalcanti, tem negociatas em uma das mãos, indicação de parentes na outra, recibos de compra de deputados caindo dos bolsos.

Os sonhos acalentados por anos de mudança pelas eleições deram nesse circo de horrores, um teatro de vampiros. Quem quiser sonhar o mesmo sonho, pode olhar para 2006: no horizonte eleitoral, o país seguirá igual, seja com uma nova vitória petista, seja com a eleição da oposição burguesa.

É hora de chegar à conclusão de que só a luta muda a vida, de que o país precisa de uma revolução, uma revolução socialista. Esse não é o caminho mais fácil, tampouco para o ano que vem. Mas é o único realista, se quisermos realmente mudar o país.

Para isso, é preciso mudar tudo, a começar por reconstruir nossos organismos de luta. É preciso romper com a CUT e construir uma nova alternativa de direção com a Conlutas, como estão fazendo 160 sindicatos e sessenta oposições. É preciso romper com o PT, e construir um partido revolucionário, como o PSTU. Sonhar um novo sonho, reconstruir uma estratégia revolucionária. Sair do teatro dos vampiros.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 219
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