Como dissemos em artigo anterior, além das correntes reformistas surgiram no interior do movimento sindical o chamado sindicalismo revolucionário e o anarco-sindicalismo. De uma ou outra forma são resultado da penetração das idéias anarquistas no seio do movimento operário. Para entendê-las, é necessário conhecer algo do pensamento anarquista.

Do ponto de vista político, os anarquistas se declaram inimigos de todo poder governamental e estatal. Sobre o Estado, Piotr A. Kropotkin (1824-1921) afirma em sua obra “O Estado e seu Papel Histórico”: “Nós vemos nele uma instituição que no transcurso de toda história de toda sociedade humana serviu para impedir a união das pessoas entre si, serviu para obstaculizar o desenvolvimento, a iniciativa local, para afogar as liberdades já existentes e estorvar o surgimento de novas liberdades. E nós sabemos que a instituição que já existiu há vários séculos e que se consolidou firmemente adotando uma forma determinada com o objetivo de cumprir determinado papel na história, não pode ser adaptada para um papel contrário”.
Assim, por um lado, o anarquismo corretamente vê que não há nenhuma possibilidade de aproveitar o aparato opressor do Estado capitalista para a emancipação dos trabalhadores e defende sua destruição; por outro, erroneamente acaba por negar toda forma de Estado. Não consegue compreender que nem toda violência organizada, nem todo Estado, constituem um dano em si mesmo.

Por isso, defende a destruição do Estado capitalista e a passagem direta ao comunismo, como se fosse possível a imediata supressão das classes sociais. Não reconhece a necessidade do socialismo – fase transitória do capitalismo ao comunismo – em que a classe operária, por meio da ditadura do proletariado, deverá ainda lutar pela extinção definitiva das classes exploradoras e, por decorrência, de toda classe social.

Ao não compreender a utilidade do Estado nas mãos do proletariado, ao se contrapor a qualquer forma de estado, os anarquistas chegaram a pegar em armas contra o governo dos sovietes durante a guerra civil na Rússia e, inclusive, organizaram um atentado contra Lênin.

Do ponto de vista econômico, de uma forma geral os anarquistas defendem a pequena propriedade. É uma concepção pequeno-burguesa da economia mercantil e constitui de fato um passo atrás em relação ao capitalismo industrial.

Enquanto o marxismo revolucionário defende a propriedade coletiva dos meios de produção e de troca (nacionalização de fábricas, terras, transportes, etc), por intermédio de um Estado operário que organize toda a economia, os anarquistas defendem a passagem direta dos meios de produção para as mãos dos trabalhadores organizados em grupos (autogestão, associações, coletividades, comunas, etc). Estes, por sua vez, deverão estabelecer relações de troca entre si. Cada empresa, no lugar de um proprietário, possuirá cem ou milhares de proprietários, mas não pertencerá à classe trabalhadora como um todo. Dessa forma, sem o Estado a economia funcionará sem direção, tal como uma economia de mercado. O anarquismo resultará num capitalismo sem capitalistas.

Do ponto de vista da tática, ou seja, dos meios necessários para atingir os fins desejados, os anarquistas se dividem entre os pacíficos, os partidários de uma sublevação social e os que defendem uma revolução social a partir do terror individual. O traço comum de todos eles, no entanto, é o repúdio a qualquer forma de luta política – seja sob a forma da luta parlamentar ou da luta direta pelo poder. Não entendem que a luta organizada contra o capital e sua destruição por meio das forças do proletariado como classe é precisamente uma luta política levada a termo pelo partido revolucionário da classe operária.

Sindicalismo revolucionário
Na França, na Itália e também nos EUA surgiu uma corrente sindical que se auto-intitulava “revolucionária”. Ela cresceu sob o protesto natural das massas operárias contra a política conciliadora dos partidos socialistas, contra o parlamentarismo reformista e as traições sistemáticas ao proletariado. Os principais teóricos desta corrente foram o sociólogo francês Georges Sorel (1847-1922) e o economista e sindicalista italiano Arturo Labriola. Ambos foram dirigentes dos partidos socialistas de seus países.

Sorel tentou conciliar o anarquismo federalista de Proudhon com o marxismo. Dizia que a ação direta e violenta e a greve geral elevariam o conflito entre as classes sociais e acarretariam uma possível vitória da classe operária, devido à justiça de sua causa, à sua maioria numérica e à sua superioridade física. Superestimando a ação espontânea das massas, se esquecia do papel repressivo do Estado que, a serviço dos capitalistas, não hesitava em recorrer à ação violenta das forças repressivas. Assim, negava a necessidade da luta política, da insurreição armada e desprezava a luta parlamentar. Da mesma forma, embora chegasse a reconhecer a importância de uma “minoria ativa”, negava a importância da organização da classe operária em partido.

Já o dirigente bolchevique Evgueni Preobrazhenski (1886-1938?), na sua obra “Anarquismo e Comunismo” (1921), esclarece que o fato dos antigos socialistas converterem a participação na luta parlamentar num meio de conciliação com a burguesia a fim de enganar o proletariado, não seria motivo para concluir que seja impossível aproveitar o parlamentarismo de uma maneira revolucionária. Muito menos negar a importância do partido revolucionário da classe operária. Ele afirma: “Durante o período no qual ainda se está longe das lutas de rua, durante o período relativamente pacífico, o aproveitamento da luta parlamentar por parte dos verdadeiros revolucionários aporta indiscutível utilidade à educação classista do proletariado”. Mais à frente, conclui: “É certo que o significado da luta parlamentar para o comunista diminui à medida que se aproxima a sublevação armada do proletariado e, em geral, esse meio desempenha um papel bastante modesto em todo o sistema de luta do proletariado. Por esta razão é tanto mais importante a organização de um partido político que dirija todas as manifestações da luta de classes do proletariado, que o leve à conquista do poder e a ditadura do proletariado.”

Sobre o meio de luta, afirma: “A experiência de muitas revoluções tem demonstrado que a greve geral não é suficiente para derrubar o regime existente (…) A greve geral pode dar um forte golpe no bando governante, obrigá-lo a fazer uma ou outra concessão, mas não está em condições de derrubar todo o regime de uma determinada classe ( …) Para a vitória contra a burguesia é necessária, pelo contrário, a existência de um partido poderoso que compreenda claramente seus fins, que prepare suas fileiras e as massas para o choque decisivo contra o capital (…)” .

Sindicalismo anarquista
O anarco-sindicalismo é uma variante do anarquismo. Na Espanha, onde teve muito peso, surgiu oficialmente com a fundação da Confederação Nacional dos Trabalhadores (CNT) em 1910, resultando da influência do sindicalismo revolucionário francês sobre o anarquismo. Como os sindicalistas “revolucionários”, negavam a importância da luta política, a luta parlamentar e defendiam a exclusividade dos sindicatos na luta pela emancipação da sociedade.

O sindicalismo anarquista enfatizava também o papel do sindicato não só como órgão de luta, mas também como núcleo básico da sociedade anarquista. O conhecido anarquista russo Mikhail Bakunin reivindicou os sindicatos como a “organização natural das massas” e o “único instrumento de guerra verdadeiramente eficaz” na construção da sociedade anarquista baseada na autogestão e na negação de qualquer forma de administração estatal.

Como variante do anarquismo, tem as mesmas fragilidades deste, embora seja sua edição mais proletária.
Post author Paulo Aguena, da Direção Nacional do PSTU
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