O dia 18 de junho de 2008 vai ficar na história da classe trabalhadora brasileira como o dia em que operários derrotaram a maior montadora do mundo. Em São José dos Campos (SP), a General Motors foi obrigada a recuar de sua proposta de redução de direitos e de salários e da implementação do banco de horas. Os 600 novos operários serão contratados, mas sem o banco de horas e com o piso vigente segundo o Acordo Coletivo da categoria.

Foram seis meses de uma verdadeira guerra entre patrões e operários. De um lado, a empresa contava com o apoio da burguesia da cidade, da igreja, dos políticos, da imprensa e até da CUT. De outro, os operários e o sindicato contavam apenas com suas próprias forças, a necessidade de resistir e a vontade de lutar.

Em janeiro, a GM apresentou uma chantagem aos trabalhadores – e à população. Para abrir 600 novas vagas, exigia o rebaixamento de salários e o banco de horas, ou seja, não pagar horas-extras aos trabalhadores.

Contra tudo e contra todos
É necessário dizer que, desde o começo, os operários da GM lutaram contra tudo e contra todos. Contando com apoio milionário dos setores mais ricos da cidade, a empresa tratou de formar a opinião pública contra os trabalhadores. Fez chantagens ao ameaçar fechar a fábrica. Dizia que os trabalhadores não queriam geração de empregos, quando na verdade eles só queriam garantir os direitos já conquistados.

O sindicato e a Conlutas responderam à altura, mas sem o poderio econômico da campanha dos patrões. Foram distribuídos jornais, cartas à população. Outdoors foram espalhados pela cidade. Um documentário de 36 minutos foi produzido para demonstrar que o banco de horas e a proposta da empresa não trariam nenhum benefício aos trabalhadores, apenas prejuízos.

O mais importante, porém, foi a firmeza dos metalúrgicos da GM em recusar o ataque até o fim. As assembléias foram categóricas: massivamente, uma após a outra, os trabalhadores votavam contra a empresa. A solidariedade internacional e de outras categorias também foi determinante.

O que representa essa vitória?
O que os operários da GM mostraram é que a mobilização pode sim arrancar conquistas. A empresa esbarrou na resistência dos trabalhadores, unidos, organizados e mobilizados, conscientes.

Eles têm nas mãos o poder de parar a produção no caso de uma greve ou mesmo de uma simples paralisação. E podem reduzir o lucro da GM, o que os patrões mais temem.

Em 2007, a GM bateu recordes de venda no Brasil. Porém teve o maior prejuízo da sua história nos Estados Unidos. Explorar ainda mais os trabalhadores brasileiros para compensar o prejuízo em nível mundial: essa era a intenção da empresa. Não colou.

Em Gravataí (RS), a multinacional já implementa o banco de horas. Um trabalhador da unidade disse que “já está mais do que provado que ele é prejudicial aos trabalhadores”. Ele explicou que “se tiver alguma quebra na fábrica, por causa do defeito de algum equipamento, a empresa utiliza o banco para mandar os funcionários para casa e não ter prejuízo com isso”. É para isso que serve o banco.

Agora, a vitória de São José deve servir de exemplo e de motivação para que outros trabalhadores, de outras empresas, lutem contra a superexploração e garantam seus direitos, salários e boas condições de trabalho.

Vergonha cutista
Não foi só a GM que foi derrotada, mas também a CUT e o sindicalismo governista e de colaboração de classes. Em São Caetano do Sul, no ABC paulista, o sindicato, ligado à Força Sindical, aceitou receber os 600 postos de trabalho com redução de salários e direitos. A CUT passou a atacar o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e a Conlutas, com calúnias desesperadas de todo o tipo. O que dirão agora?

A derrota também é deles. Agora, terão de explicar aos trabalhadores do ABC e de outros lugares porque aceitam tudo que os patrões tentam impor. Não vai ser fácil, ainda mais porque sua política só trouxe mais desemprego e rebaixamento salarial a estes trabalhadores.

A vitória em São José é a prova de que há outro caminho. O da luta pela redução da jornada de trabalho sem a redução de direitos. Se em São José foi possível vencer, em outros locais de trabalho também é.

A diferença está em qual é a direção dos trabalhadores. Uma direção de luta, combativa, classista, permite combater os patrões. Foi o que fizeram o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e a Conlutas. Ao acreditar na força da categoria, fizeram com essa confiasse na sua direção, resistisse e chegasse à vitória.

Os metalúrgicos de São José dos Campos estão de parabéns. Aos trabalhadores de todo o país, fica o exemplo de que é possível vencer. Nenhuma ameaça de um patrão é mais forte do que a classe trabalhadora em luta.

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