Demóstenes Torres se enrola para explicar ligação com Carlinhos CachoeiraMais um suposto defensor da ética no Congresso foi pego de calças curtas. Desta vez, o então arauto da honra e dos bons costumes, o senador e ex-procurador Demóstenes Torres (DEM-GO), se vê cada vez mais enrolado. O dirigente dos demos até agora não conseguiu explicar sua estreita relação com o contraventor Carlinhos Cachoeira, famoso bicheiro e operador de uma rede de jogos de azar, preso durante a Operação Monte Carmelo da Polícia Federal.
Diante da avalanche (ou cachoeira) de denúncias que atingem o então ilibado senador, a única resposta tem sido o silêncio. E não é difícil entender a razão. Entre as revelações divulgadas nas últimas semanas constam a geladeira e o fogão importados, ambos no valor de R$ 47 mil, que o contraventor presentou Torres, além do depósito de R$ 3 mil realizado por Cachoeira para pagar uma conta de táxi aéreo do senador. O nó, porém, está no Nextel dado pelo bicheiro a Demóstenes Torres. O rádio habilitado nos EUA seria supostamente à prova de grampo e serviria para as conversas reservadas entre o senador e o bicheiro. Quase 300 ligações segundo as investigações.
O parlamentar sustenta que teria apenas uma relação de amizade com Cachoeira. No blog do também amigo Reinaldo Azevedo, colunista da Veja, o senador afirma que há muita coisa da vida pessoal de um círculo de pessoas, intimidades, conversa do dia-a-dia´ para justificar o número de ligações. Detalhes das investigações da Polícia Federal e vazadas para a imprensa, porém, mostram uma relação bem mais profissional´.
O senador, ex-secretário de segurança de Goiás, passaria ao contraventor informações de reuniões internas do Senado. Segundo reportagem da revista Carta Capital, Demóstenes teria direito a 30% dos ganhos do bicheiro nessa parceria. Isso daria a bagatela de R$ 50 milhões nos últimos seis anos. Para a Polícia Federal não é novidade o envolvimento do senador nos esquemas de jogos ilegais. Demóstenes foi pego em duas investigações contra a contravenção, como a Operação Las Vegas´ e Monte Carlo.
Um dos aspectos mais estranhos nessa história, típica de um filme da máfia, é a recusa da Procuradoria Geral da República em investigar o senador, já que desde 2009 um inquérito da Polícia Federal já estava na mesa do procurador-geral Roberto Gurgel, dando conta do envolvimento de Demóstenes com o contraventor. Só agora, quando o escândalo vem à tona e não há como fazer diferente, o procurador pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para investigar o caso.
Quem é Demóstenes
O então líder do DEM no Senado Demóstenes Torres construiu sua carreira política sob a imagem de parlamentar íntegro´ e honesto´. Era um dos principais defensores que o DEM, em sua crise após deixar o governo Federal, se assumisse mais claramente como uma sigla de direita.
No ano passado o parlamentar deu uma pequena mostra do que talvez significasse isso. Em um raivoso discurso contra as cotas raciais ( o DEM foi à Justiça contra as cotas na UnB), o senador afirmou que a escravidão havia sido lucrativa´ para a África, responsabilizando os negros pela condição em que sofreram por séculos no país. Não contente, Demóstenes foi além e chegou a negar que mulheres negras escravas tivessem sido estupradas. Para ele foi tudo consensual´.
Embora Demóstenes Torres tenha tentado passar uma imagem de uma direita supostamente moderna e honesta, tendo importantes setores da mídia ao seu lado, não representava mais que a velha direita, machista e racista e elitista do velho PFL. E corrupta, como podemos ver agora.
Errata: O nome da Operação da PF é ‘Monte Carlo’ e não ‘Monte Carmelo’ como aparecia redigido no texto. Além disso, o valor dos presentes de Cachoeira a Demóstenes foi avaliado em R$ 47 mil, e não R$ 27 mil