O governo Lula terminou o semestre passado como gostaria. Seus planos econômicos seguem empurrando a crise para frente. E, mesmo com ela, sua popularidade se manteve e até cresceu.

O segundo semestre pode ter um rumo diferente. Três fatos indicam a possibilidade de desgaste do governo. Como ele tem a seu dispor aliados poderosos, como os meios de comunicação e as principais direções do movimento de massas, pode ser que siga escapando de todos, como até agora evitou o desgaste da crise. Mas a batalha está apenas começando.

O primeiro fato é a existência de campanhas salariais muito importantes, como as de metalúrgicos, construção civil, bancários, petroleiros, trabalhadores dos Correios, mineração e várias outras, inclusive do funcionalismo público. Há sinais de que os trabalhadores vão à luta e, para isso, acaba ajudando o fato de que acreditem não haver crise econômica. A situação de dureza e endividamento crescente impõe a necessidade dos reajustes, assim como a realidade no chão das empresas, com um ritmo de trabalho infernal. A patronal está impondo uma superexploração violenta como forma de se preparar para a crise, mantendo o arrocho salarial e aumentando o ritmo de trabalho. Pelo mesmo motivo, deve ter uma atitude dura nas negociações, o que sinaliza lutas difíceis pela frente.

Essas mobilizações vão se enfrentar com a patronal. Mas, por trás dos panos, estará o governo. Muitas vezes os trabalhadores não fazem essa relação, mas é a verdade. Em primeiro lugar, porque o plano econômico é aplicado pelo governo que, além disso, está dando grandes somas de dinheiro para as grandes empresas e nada faz pelos trabalhadores. Em segundo lugar, as maiores centrais sindicais são governistas, como a CUT e a Força Sindical, e essas direções vão buscar de todas as maneiras bloquear as lutas para favorecer os patrões e o governo.

Essas campanhas salariais podem ser vitoriosas, caso consigam se organizar para os enfrentamentos e unificar as mobilizações, como agora no dia 14. Para isso, será necessário que se imponham direções combativas, alternativas à CUT e à Força Sindical. Essas novas direções avançarão politicamente se suas bases tirarem conclusões mais claras em relação ao governo Lula, a partir de suas próprias experiências.

O segundo fato que pode levar ao desgaste de Lula é a evolução do caso Sarney. O governo se empenhou de todas as maneiras em manter o presidente do Senado para preservar a unidade eleitoral com o PMDB em 2010. Os trabalhadores estão contra a corrupção de Sarney, mas ainda não ligam diretamente sua continuidade ao governo. É muito importante que a luta pelo Fora Sarney seja feita não sob a ótica de “moralização do Senado”, como quer o PSOL, mas em enfrentamento contra essa instituição completamente dispensável. Também é preciso que os ativistas denunciem com clareza a responsabilidade direta de Lula pela continuidade de Sarney.

O terceiro fato importante é a disseminação da gripe suína. A epidemia já tomou o país e está completamente fora do controle do governo. O número de mortos está sendo subestimado conscientemente. O caos da saúde pública se torna visível e descarado. Mas, pelo menos até agora, também aqui os trabalhadores culpam qualquer um, menos o governo pela situação de crise aberta nos prontos-socorros do país.

O governo Lula está sendo diretamente irresponsável com a saúde do povo ao se recusar a quebrar a patente do oseltamivir (matéria-prima do medicamento Tamiflu), o que permitiria a fabricação em massa e distribuição gratuita do remédio. A insistência em entregá-lo só para casos graves impede que os pacientes tomem a medicação antes que a gripe se agrave, o que poderia evitar milhares de mortes. Aqui se manifesta a subordinação do governo às multinacionais, que fabricam o produto e não querem perder seus gigantescos lucros. Aqui também é preciso que os movimentos sindical, estudantil e popular denunciem com clareza essa situação e exijam de Lula uma mudança imediata de postura, para defender a saúde do povo brasileiro.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 383
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