Glailson dos Santos, de Ananindeua (PA)

Glailson dos Santos, de Ananindeua (PA)

Sim, a ciência erra. A Sonda New Horizons mal chegou a Plutão e já demonstra a importância de missões como essa para nossa compreensão sobre o universo e nosso próprio planeta, levando-nos a questionar tudo que pensávamos saber sobre a formação planetária e os mecanismos que mantêm aquecidos os núcleos dos planetas.

Revezando-se com Netuno como o corpo orbital supermassivo mais distante do Sol, confinado à periferia gelada do sistema solar desde os primórdios de sua formação, submetido a temperaturas médias de -226 ºC em sua superfície e perigosamente próximo ao cinturão de Kuiper (região de origem de meteoros e cometas que bombardeiam o sistema solar), todos esperávamos de Plutão uma superfície marcada por impactos e pontilhada de crateras.

Para a surpresa geral, imagens enviadas pela sonda New Horizons nos mostram que a superfície do planeta-anão é inesperadamente recente, com picos escarpados de gelo tão altos quanto nossas maiores montanhas rochosas e com muito menos sinais de impacto do que poderíamos esperar, elementos que sugerem que Plutão mantém sua atividade geológica, renovando sua superfície que aparenta não ter mais do que algumas dezenas de milhões de anos, um piscar de olhos na escala de tempo planetária.

O que explica que um corpo tão pequeno, menor do que a nossa Lua e com uma densidade muito inferior a de nosso satélite natural, mergulhada em uma região de frio extremo por bilhões de anos, consiga manter sua atividade geológica? De onde vem a energia que mantém aquecido o núcleo de Plutão e muito provavelmente mantém água em estado líquido nas camadas intermediárias do planeta, sob seu mando de gelo? Ninguém na terra sabe explicar ainda.

E as surpresas não param por aí, a superfície da Caronte, a principal lua de Plutão, parece seguir o mesmo padrão, apresentando uma superfície incrivelmente recente. Ao que tudo indica, Caronte é palco do mesmo fenômeno misterioso que mantém ativo o núcleo de Plutão.

Tal descoberta parece contrariar tudo que pensávamos saber sobre os fenômenos radioativos que mantêm aquecidos os núcleos planetários. Todos os prognósticos até então, nos levavam a crer que Plutão deveria ser um pedaço completamente congelado e inativo de gelo e rocha traçando seu excêntrico itinerário pela periferia do sistema solar.

Nem mesmo o atrito gerado pela interação gravitacional entre Plutão e suas luas, ocasionando o fenômeno da força de maré, parece capaz de explicar a atividade geológica em Plutão e Caronte, dado suas massas relativamente pequenas.

Que novos conhecimentos podem nos revelar a solução deste mistério? Quais seus desdobramentos para nossa compreensão do cosmos e de história de nosso próprio planeta? Ninguém parece capaz de responder nesse momento.

A exploração espacial, que sofre as consequências dos sucessivos cortes de investimentos desde que a corrida espacial deixou de cumprir seu papel como cenário de disputa ideológica entre o imperialismo ianque e a burocracia estalinista de Moscou, mais uma vez demonstra sua capacidade de expandir a compreensão humana sobre o universo e nós mesmos, algo que a história já demonstrou ser decisivo para o nosso futuro.

Sim, a ciência erra. Prognósticos podem falhar e o conhecimento que pensamos ter sobre a realidade pode demonstrar-se falho ou incompleto quando confrontado com essa própria realidade, muito mais rica e fascinante do que pode sonhar nossa imaginação. Este é o verdadeiro poder da ciência, ser capaz de reconhecer suas próprias limitações, corrigir suas falhas e aprender com elas para nos apresentar uma visão cada vez mais completa e correta dos fatos.

É neste jogo dialético que confronta a realidade sem negar seu caráter objetivo, que a ciência nos permitiu emergir das cavernas da ignorância para explorarmos a imensidão do Cosmos.

Quando erram, os cientistas, de boa ou má vontade, se sentem forçados a retornar às pranchetas e retomar o trabalho, buscando corrigir esses erros, a ciência reconhece a importância de descartar velhas certezas e abraçar a mudança, só não está disposta a fazê-lo de forma leviana.

Se mesmo o combalido programa espacial norte-americano da atualidade, esta sombra lúgubre do que foi já foi a NASA, que no auge da corrida espacial fascinou o mundo com a chegada do homem à Lua e nos legou conquistas tecnológicas que vão da tecnologia de micro-ondas às frigideiras de teflon, ainda é capaz de nos brindar com essas descobertas fascinantes, imaginem só que descobertas e conquistas gloriosas nos aguardam se nos mostramos capazes de superar todo o egoísmo e a estupidez impostos pelo capitalismo à humanidade no atual momento histórico.

Sim, nós erramos. A ciência, como toda a criação humana, só reflete nossa própria falibilidade. Mas da mesma forma como a ciência humildemente é capaz de aprender com seus erros e avançar, mudar os rumos de nosso futuro só depende de nós mesmos. Mãos à obra! Afinal, ainda há muito lá fora esperando para ser descoberto e há muito potencial na humanidade para que nos deixemos desaparecer da existência sem lutar. O futuro nos sorri com uma promessa, só depende de nós agarrá-la.