Após o lançamento oficial de Dilma Rousseff à Presidência, a grande imprensa destacou uma suposta “guinada à esquerda” do PT. Uma das teses para tal argumento seria a proposta de se fortalecer o Estado, dando-lhe um caráter mais atuante, ao contrário da lógica privatista do PSDB. Mas Dilma estaria mesmo “à esquerda” no PT? Qual é a diferença entre Lula e Dilma?

Por trás das aparências
No próprio congresso do PT, Dilma fez questão de afirmar que manterá a política econômica do governo Lula. Ao mesmo tempo, atacou as privatizações do período FHC, pregando o tal do Estado forte.

A verdade, porém, é que essa é mais uma falsa polarização, criada artificialmente pelo PT para tentar se diferenciar do PSDB. Levantamento publicado pela Folha de S. Paulo do dia 28 de fevereiro mostra que os gastos com o Estado no governo Lula foram praticamente os mesmos do período FHC.

Já uma pesquisa realizada pela ONG Contas Abertas derruba um outro mito. Proporcionalmente, o governo Lula conseguiu investir menos que o próprio FHC. Se tomarmos como base uma outra pesquisa, desta vez do economista da UFRJ Cláudio Salm, vamos ver que nenhum indicador social teve mudança significativa nesses dois governos. Ou seja, em todos os aspectos analisados, chegaremos a uma só conclusão: o governo Lula foi igual ao de FHC.

Para não sermos totalmente injustos com Lula, há de se reconhecer que existe uma diferença importante com relação aos tucanos. A partir do final de 2008 e durante todo o ano de 2009, o governo elevou drasticamente seus gastos. A partir daí, os gastos de Lula superam os de FHC.

Essas despesas, porém, não foram direcionadas à saúde ou à educação. Foi uma maneira de o governo enfrentar a crise econômica, liberando bilhões aos bancos e concedendo generosos subsídios e isenções às empresas e fazendeiros. Esse é o “Estado forte” que Dilma tanto elogia. É o Estado atuante na defesa dos lucros dos grandes bancos e empresas. Foi exatamente isso que os países imperialistas fizeram durante a crise, com os EUA e a União Europeia à frente.

Dilma não vai ser Lula
Existe, porém, uma importante diferença entre Lula e Dilma. E não é sobre a política econômica que cada um defende. Lula governou nos últimos anos surfando numa onda de crescimento econômico mundial.

A posição semicolonial do país, de grande exportador de commodities, permitiu ao Brasil aproveitar parte desse crescimento. Com a crise, o governo gastou parte do acumulado nesse período para evitar a quebradeira de bancos e empresas.

A crise, porém, não terminou. Apesar do discurso do governo e da imprensa, começará um período de profundas turbulências, instabilidades e reviravoltas. Uma profunda crise econômica e social já se alastra pela Europa, começando pela Grécia, provocando intensas mobilizações. O Brasil não é uma ilha. Por sua posição subordinada na economia internacional, vai sentir novamente a crise com toda a sua força.

Se Lula pôde aproveitar anos de bonança, nuvens pesadas se formam no horizonte de um possível governo Dilma. Na Europa, governos de “esquerda”, que antes discursavam contra o neoliberalismo aplicam hoje pacotes contra os trabalhadores. Dilma e o PT não farão diferente.

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