Qual foi o verdadeiro artífice da derrota? À caça aos responsáveis, a grande imprensa e os membros da cúpula petista atribuem a derrota a uma mescla de erros na coordenação política, à incompetência, à candidatura “avulsa” de Virgilio Guimarães e, pasmem, à “timidez” do governo na prática do fisiologismo (o velho toma-lá-dá-cá).

Certamente alguns desses elementos contribuíram para selar o destino do governo, mas são insuficientes para explicar a sua acachapante derrota. Dizer, por exemplo, que o governo foi “tímido” no toma-lá-dá-cá é, no mínimo, risível. Não menos irônica é a declaração de Lula, tentando disfarçar a humilhação governista: “O governo não disputou. Veja, quem disputou foi o PT.”, como se isso fosse possível.
O que explica de fato a derrota governista é a antecipação da disputa eleitoral de 2006. Os articuladores foram os partidos da oposição burguesa (PSDB e PFL e o setor oposicionista do PMDB), que arrastaram consigo a maioria dos deputados dos partidos “aliados” ao governo. “Votamos contra Lula. Começamos hoje a derrotar a reeleição”, atestou o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Embalados pela vitória da oposição burguesa nas eleições municipais, a maioria desses deputados já vislumbra a possibilidade de pular fora da canoa governista. Ao mesmo tempo mantém pressão sobre o governo, para obter mais cargos e verbas.

Mais à direita
As declarações comedidas de Lula, dizendo que a derrota “faz parte do jogo democrático”, dão o tom das futuras relações com os “aliados”. A reforma ministerial, prevista para os próximos dias, certamente vai reduzir o espaço do PT e do PCdoB no governo para dar lugar a representantes dos partidos aliados, como PTB, PL e o PP de Maluf e Severino. Lula não quer comprometer seu projeto de poder em 2006, ameaçado pela derrota no Congresso. Por isso, vai seguir em marcha batida para a direita e, com a oposição burguesa, vai querer destruir os direitos dos trabalhadores com suas reformas neoliberais, como a Sindical e Trabalhista, e vai dar continuidade à política econômica de arrocho e miséria. Sob aplausos do Congresso, o governo continuará pagando religiosamente em dia a dívida externa ao FMI, cortando dinheiro da saúde, da educação e da reforma agrária.

Independentemente dos resultados na eleição da Câmara, governo e oposição têm um acordo: tornar as condições de vida dos trabalhadores ainda mais “severinas”.

Post author Jeferson Choma, da redação
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