As notícias vindas do Equador e da Bolívia não são nada encorajadoras para o governo Lula.

Na Bolívia, um grande ascenso de massas quase derrubou o governo Mesa no início deste ano, por continuar aplicando o plano econômico neoliberal do governo Sanchez de Losada, derrubado por uma insurreição em 2003. No Equador, um novo levante está em curso, e pode derrubar o presidente Lúcio Gutierrez, que foi eleito como opositor ao neoliberalismo e segue aplicando o mesmo plano econômico, exatamente como faz Lula.

As grandes crises políticas nas quais estão metidos os governos desses países são vistas por Lula como ameaças ao seu próprio governo. Na verdade, ele tem razão de se sentir assim. Em primeiro lugar, porque o governo Lula é um defensor da estabilidade “democrática”, ou seja, da continuidade do regime, a serviço da exploração dos povos pelo imperialismo. Por esse motivo usou todos os recursos para sustentar o governo Mesa, e vai acabar fazendo o mesmo no Equador, apoiando Gutierrez.

O governo, porém, também teme que esses exemplos acabem por contagiar o Brasil. Não foi só naqueles países que os governos traíram as esperanças do povo de romper com o neoliberalismo. Este é o ponto de contato entre Brasília, La Paz e Quito.
Até agora, no entanto, já com dois anos de mandato, CUT, PT e PCdoB tem conseguido evitar a generalização das lutas contra o governo. Seja pela trava direta das mobilizações, seja pela desmoralização da vanguarda que não vê como superar o bloqueio das direções. Agora, por exemplo, estão fazendo de tudo para que não haja campanha salarial do funcionalismo federal.

Por outro lado, o crescimento da economia é utilizado pela grande imprensa para gerar esperanças de melhorias sociais. Entre a esperança das massas (que será mais uma vez traída) e a trava das direções, o governo vai escapando, aplicando e aprofundando o mesmo plano de FHC.

Ai do governo se as massas trabalhadoras começarem a se colocar em movimento. Basta ver o exemplo da reforma Sindical. No domingo passado, a colunista Dora Kramer, do jornal O Estado de S. Paulo, intitulou sua matéria assim: “Reforma Sindical sobe no telhado”.

Segundo a jornalista, o governo já percebeu que não tem condições de enfrentar votações polêmicas no Congresso, pois se arriscaria a repetir o fiasco da MP 232 se insistir em votar a reforma Sindical neste ano. Existem pressões contrárias dos setores patronais, divisões entre as centrais que apóiam o projeto e nos partidos da base aliada, além da falta de confiança em Severino Cavalcanti. Por isso, o mais provável é que o governo, sem retirar formalmente a proposta, “desacelere” seu encaminhamento, deixando-a paralisada.

No entanto, toda esta crise ocorre na superestrutura política do
país, entre setores que ainda podem fazer um acordo sobre esta reforma Sindical. Aparentemente o PTB, o PDT e o PPS, além de um setor do PMDB, já fecharam questão contra esta reforma. Mas nada que não possa ser resolvido com um novo projeto de reforma Sindical, ou alguma negociata de cargos e ministérios.

Se o movimento de massas entrar em cena, contudo, seria possível derrotar esta reforma Sindical, assim como outras reformas neoliberais, como, por exemplo, a Universitária. Por esse motivo, é muito importante que todas as forças do movimento sindical se unam ao redor do plano da Conlutas, que irá realizar atos no 10 de Maio contra as reformas e, logo após, na primeira semana de maio, mobilizações regionais. Setores da vanguarda do funcionalismo federal estão apontando para um dia nacional de lutas no mesmo período, em 4 de maio.

Todos os setores que estão envolvidos na Frente contra a reforma (esquerda da CUT, P-SOL, PCdoB, entre outros) devem estar unidos nessas mobilizações. Não bastam atos públicos nos Parlamentos, é preciso levar esta luta para as bases, para levar as massas à ação.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 215
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