O tema central que deve cruzar todo o debate neste CONCUT será a relação da CUT com o governo Lula. A ascensão de um governo de coalizão de classes, mas chefiado pelo Partido dos Trabalhadores e pela mesma corrente política que é majoritária na direção da nossa central, coloca a CUT frente ao dilema de ser ou não ser “governo”, de preservar ou não a autonomia e independência frente ao governo.
A maioria da direção da nossa Central diz que esse é o nosso governo, que ele tem que dar certo sob pena de desmoralizar toda a esquerda por muitos e muitos anos. Que esse governo estaria em disputa. Sob essas premissas tentam evitar a mobilização dos trabalhadores ou, quando inevitáveis, transformá-las em “apoio às mudanças”.

É mais grave ainda essa contradição que se coloca para a CUT, na medida em que o governo Lula optou por manter e aprofundar a aplicação do modelo neoliberal de FHC: mantém os acordos com o FMI, o pagamento da dívida externa e a continuidade das negociações da ALCA.

Transformar a CUT em braço sindical do governo, em uma Central “chapa branca”, colocaria a CUT na trincheira oposta à daqueles que lutam hoje contra a Reforma da Previdência, contra a ALCA, contra os acordos com o FMI, por salário, emprego, terra e direitos.

Reforma da Previdência vai polarizar

A luta contra a reforma da previdência é a expressão mais visível desta contradição, neste momento. A reforma proposta pelo governo Lula é a reforma encomendada pelo FMI, elimina direitos históricos dos trabalhadores e abre caminho para a privatização da previdência pública, com os fundos de pensão. Depois de titubear durante toda a primeira fase desse debate, chegando a dizer que essa era a reforma que a CUT sempre havia defendido, agora a direção da CUT que apresentar emendas à essa reforma privatizante.

Não há como “reformar a reforma” dado que a sua essência é atender aos critérios do mercado e do FMI, acabando com o modelo de repartição para impor o de capitalização.. Tentar reformá-la, mexer simplesmente em pontos como cobrança dos inativos, por exemplo, não retira dela a sua essência contrária aos interesses dos trabalhadores. A CUT precisa lutar contra a reforma na sua totalidade, deve exigir do governo a sua retirada do Congresso Nacional, e exigir dos deputados que rejeitem globalmente a proposta apresentada pelo governo. Para isso deve esclarecer e mobilizar os trabalhadores, do setor público e privado, pois só a luta poderá impedir a aprovação dessa reforma.

ALCA, Dívida e FMI

Também a luta contra a ALCA e a exigência para que o governo convoque um plebiscito oficial para que o povo decida pela retirada do nosso país dessas negociações será outra expressão dessa contradição. A direção da CUT, ainda que de forma tímida ,apoiou a realização do plebiscito no ano passado, agora diz que exigir um plebiscito oficial ou a retirada do Brasil das negociações seria um ataque ao governo Lula. Ora exigir a convocação do plebiscito oficial e a retirada do Brasil das negociações é um ataque à ALCA e aos interesses do governo dos EUA. Só transforma-se em ataque ao governo Lula ,porque ele quer continuar nas negociações ao invés de rejeitar a ALCA e chamar o povo a decidir sobre o assunto. O mesmo acaba acontecendo com a questão da dívida externa e dos acordos com o FMI. A CUT vai dar continuidade à sua luta pela suspensão do pagamento da dívida e pela ruptura dos acordos com o FMI, porque como dizíamos todos nós antes “não há possibilidade nenhuma de resolver os problemas sociais do país enquanto permanecer essa subordinação aos interesses”? Ou vai abandonar essas bandeiras porque “levariam ao confronto com o governo Lula, que quer continuar pagando a dívida e obedecendo aos acordos com o FMI”?

Pacto Social, aliança com a burguesia e flexibilização de direitos

Essa mesma contradição vai estar presente nos debates que devem ocorrer acerca da Reforma Trabalhista, e outros temas importantes do Congresso. Na verdade o problema de fundo é que Lula e o PT, ao optarem pela aliança com setores fundamentais da burguesia brasileira e por submeterem-se ao FMI acabam governando contra os trabalhadores, e o papel dos movimentos sociais é o de lutar contra as políticas desse governo.

É o de exigir que o governo rompa com a ALCA e o FMI, que Lula e o PT rompam com a burguesia e venham governar com os trabalhadores para mudar o país. Ao adotar uma posição oposta à essa, a maioria da direção da CUT sacrifica a independência da Central, seja participando de órgãos como o CDES, seja afastando-se das lutas dos trabalhadores, para apoiar o governo. Resistir contra essa política, derrotá-la na base da nossa Central é o desafio que se coloca para todos aqueles que querem uma CUT de luta, de classe, em defesa dos interesses dos trabalhadores.

Post author Américo Gomes,
de São Paulo
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