A viagem à China, tão divulgada pela mídia, na realidade foi vantajosa para os empresários`FotoAcompanhado por mais de 400 empresários, sete governadores e cinco ministros, o presidente Lula viajou para a China no dia 21 de maio. Desde então, a grande imprensa do país promoveu uma ostensiva campanha tentando mostrar as vantagens do modelo econômico chinês.

Mas, afinal, o que há por traz do “milagre chinês?” Como esse país consegue manter taxas de crescimento econômico que chegam a atingir 9,3% ao ano, diante de um quadro recessivo da economia mundial e ainda levar homens ao espaço? Muitas dessas perguntas confundem a própria esquerda. Existem muitos setores que vêem na China uma alternativa frente ao imperialismo norte-americano. Entretanto, a partir de uma análise mais cuidadosa, percebe-se que isso está longe da verdade.

Depois da morte de Mao Tse Tung, nos anos 70, seu sucessor, Deng Xiao Ping, iniciou uma série de reformas em direção à restauração do capitalismo. Entre as principais, a abertura de mercado à iniciativa privada e ao capital estrangeiro por meio de privatizações das empresas estatais e das terras coletivas do país, além do fim do monopólio estatal sobre o comércio exterior. Multinacionais se instalaram na China atraídas pelo baixo custo da mão-de-obra e por uma infinidade de incentivos concedidos pelas estatais chinesas. A central sindical dos EUA (AFL-CIO), denunciou que 720 mil postos de trabalho foram transferidos do país para a China.

O país cresceu fabricando produtos baratos – CDs, roupas e os produtos das famosas lojinhas de 1,99 – destinados aos consumidores dos países imperialistas, principalmente os EUA, do qual compra títulos do tesouro para ajudar no financiamento de sua economia. Nos EUA, os produtos made in China, fabricados por empresas norte-americanas, contribuem para que os gastos dos consumidores continuem sustentando a recuperação da economia americana. Portanto, a idéia de um crescimento chinês sustentável e independente é falsa. O crescimento econômico da China está atrelado às economias imperialistas.

Por fim, o envio de um astronauta ao espaço não tem nada a ver com o “milagre chinês”. O programa espacial chinês vem de longa data, e só produziu avanços graças aos incentivos dados na época da economia socialista planificada. São resquícios de um passado cuidadosamente desmontado pela ditadura burocrática do PC chinês.

A exploração e a repressão aos trabalhadores

A base do crescimento econômico chinês é a brutal exploração de sua classe trabalhadora. Com a privatização das áreas rurais do país, houve uma evasão do campo, onde havia mais de 575 milhões de habitantes. Ao deixar as áreas rurais, os camponeses perdem seus vistos de residência e se tornam clandestinos dentro de seu próprio país. Na ilegalidade, são expostos a todo tipo de abusos e exploração e obrigados a conviver com extenuantes jornadas de trabalho e salários miseráveis.

Com a restauração capitalista, toda a política estatal que garantia o bem estar social – emprego, moradia gratuita etc. – foi desmontada por uma lei trabalhista, aprovada em 1994, cujo objetivo era facilitar as privatizações e tornar mais “competitivos” os produtos chineses.

Esse processo levou à explosão do desemprego. Calcula-se extra-oficialmente que cerca de 20% da população se encontra desempregada. Para piorar, os trabalhadores chineses não têm nem a quem recorrer, já que a única central sindical é controlada pelos burocratas do PC, que reprimem violentamente toda iniciativa de organizar sindicatos independentes e proíbem o direito a greve.

A ditadura burocrática imposta pelo PC chinês é responsável por uma longa lista de prisões e torturas de dissidentes políticos, censura da imprensa e do uso da Internet e de descriminação contra homossexuais e portadores do vírus da Aids. São conhecidos os casos das execuções públicas em que a família do executado é obrigada a pagar pelas balas.

Entretanto, existe resistência da população chinesa. Em Hong-Kong, cerca de 500 mil pessoas saíram às ruas contra uma tentativa do governo de aprovar uma lei condenando os “subversivos”, para evitar que contaminem as massas do restante do país. Tudo indica que o aumento da miséria e do desemprego na China conduzirá, num futuro próximo, à repetição de mobilizações como as de 1989.

Post author Jeferson Choma, da redação
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