A questão do terrorismo está na ordem do dia e tem se disseminado pelos quatro cantos do mundo como forma de resistência ao imperialismo e de luta pela independência nacional. Mas qual é a posição dos revolucionários?Atentados sucedem-se num ritmo quase diário, seja em Nova York, Madri, Bagdá, Tel-Aviv, La Paz, e até na pequena Beslan, na Ossétia do Norte, onde morreram centenas de crianças no ataque do exército russo aos terroristas chechenos que as haviam tomado como reféns.

O imperialismo, com Bush à frente, decretou que o “terrorismo” é o novo Satã, no lugar da ameaça comunista. A guerra preventiva contra os “Estados terroristas” é a justificativa ideológica para o massacre dos povos e para a política de recolonização, seja no Afeganistão, no Iraque, na Chechênia, na Palestina, e em outros países. A “guerra ao terror” é também a senha para os ataques aos direitos democráticos e à prática de torturas em campos de concentração e prisões como Abu-Garib, em Bagdá, e Guantánamo, onde estão confinados membros da Al-Qaeda e do Talibã.

A espetacular derrubada do World Trade Center e o heroísmo dos homens e mulheres-bomba têm impactado a consciência dos lutadores revolucionários e antiimperialistas em todo o mundo, que se perguntam se este não seria o método correto para derrotar a burguesia e o imperialismo.

Contra o terrorismo individual

Os revolucionários marxistas sempre foram contra o terrorismo individual ou de pequenos grupos. Trotsky resumiu essa posição, em seus Escritos sobre o terrorismo: “Para nós o terror individual é inadmissível porque minimiza o papel das massas em sua própria consciência, as faz aceitar sua impotência e volta seus olhos e esperanças para o grande vingador e libertador que algum dia virá para cumprir sua missão.”

Para nós, ao contrário dos terroristas, a tarefa decisiva é colocar as próprias massas em ação, fazer com que os trabalhadores tomem em suas mãos o seu próprio destino através da luta, em direção à revolução socialista. Nesse sentido, o marxismo revolucionário educa a vanguarda lutadora para se fundir com as massas e não para se isolar delas; para se colocar à frente das lutas, das greves e das revoluções e não para maquinar atentados espetaculares; para construir as organizações independentes da classe proletária, os sindicatos, os sovietes e, principalmente, o partido revolucionário e não para construir seitas de fanáticos heróicos. Segundo Trotsky, o terrorismo leva à desorganização da classe trabalhadora: “Se para alcançar os objetivos basta armar-se com uma pistola, para que serve esforçar-se na luta de classes? Se uma porção de pólvora e um pedacinho de chumbo bastam para perfurar a cabeça do inimigo, que necessidade há de organizar a classe? Se faz sentido aterrorizar os altos funcionários com o rugido das explosões, que necessidade há de um partido? Para que fazer manifestações, agitação de massas e eleições se é tão fácil apontar contra a cadeira ministerial desde a galeria do parlamento?”

O terrorismo facilita a repressão e a guerra

Os atentados terroristas reforçam as posições dos exploradores e dos opressores, ao invés de enfraquecê-los e derrotá-los, ao mesmo tempo em que dividem a classe trabalhadora, ao invés de uni-la através da solidariedade internacional. A derrubada das torres de Nova York fortaleceu Bush, dando-lhe apoio popular e o pretexto necessário para implementar seus planos de invasão do Afeganistão e do Iraque. O atentado checheno à escola de Beslan fortaleceu o carrasco Putin, primeiro-ministro da Rússia, com o povo russo aceitando dar-lhe todos os poderes de repressão para “combater o terrorismo”.

Se os atentados terroristas a autoridades do Estado, praticados há séculos, já eram um pretexto para que se desencadeassem sangrentas repressões sobre o movimento de massas, os atentados do terrorismo moderno, com seus milhares de vítimas inocentes, facilitam enormemente a tarefa repressiva do Estado, ao confundir e dividir os trabalhadores. Que trabalhador, mesmo odiando Bush e outros canalhas imperialistas, poderia apoiar o assassinato de milhares de trabalhadores no WTC, ou voltando para casa no metrô de Madri, ou das crianças da escola de Beslan?

O principal terrorista é o imperialismo

É por essas razões que nós, revolucionários, condenamos energicamente os métodos do terrorismo individual. Mas, isso não significa que estejamos ao lado do imperialismo em sua “cruzada contra o terrorismo”.

Ao contrário de Lula, Kofi Annan (secretário-geral da ONU) e outros fariseus, que se unem ao coro de Bush na “guerra ao terror” e evocam o “direito de defesa” dos Estados Unidos de atacar o povo afegão e iraquiano, nós nos colocamos incondicionalmente ao lado da luta dos povos pela sua libertação, mesmo quando se utilizam de métodos equivocados como o terrorismo dos jovens-bombas palestinos.

Como afirmou Trotsky: “Um herói isolado não pode substituir as massas. Mas compreendemos com toda clareza a inevitabilidade de semelhantes atos de desespero e vingança. Todas as nossas emoções, nossa simpatia estão com os sacrificados vingadores, apesar deles terem sido incapazes de descobrir o caminho correto.”

O principal responsável pelos atos terroristas é o próprio imperialismo, com toda a barbárie e violência que espalha pelo mundo.

O terror revolucionário

Nossa posição também não se confunde com as posições pacifistas, moralistas ou éticas que condenam a violência em qualquer situação, nem tampouco com as ilusões reformistas sobre a possibilidade de uma revolução pela via pacífica. Entendemos que a violência revolucionária é inevitável para derrotar a burguesia e o imperialismo e para avançar até o socialismo. Ao nosso ver, ela deve ser exercida pelas massas em luta e não por seitas terroristas.

Engels escreveu que a violência é a parteira da história, o que é comprovado pela experiência de todas as grandes revoluções. Na Revolução Francesa, a burguesia impôs a “liberdade, igualdade e fraternidade” às custas de um sem número de cabeças cortadas de reis, rainhas, princesas e padres. Lenin e Trotsky, na guerra civil que se seguiu à Revolução Russa de 1917, utilizaram-se do terror vermelho para derrotar a santa aliança contra-revolucionária da burguesia, da nobreza e do imperialismo.

A construção do partido revolucionário de massas é a tarefa que está colocada para dar à revolução uma direção correta e evitar que a luta contra a burguesia e o imperialismo se desvie pelo caminho sem saída do terrorismo individual.