Silvia Ferraro discursa no ato de 8 de março em São Paulo
Fotos Romerito Pontes
Redação

Ana Luiza e Silvia Ferraro

Gilberto Maringoni, que foi o candidato ao governo de São Paulo pela Frente Esquerda (PSOL-PSTU) em 2014, veio a público, no dia 8 de março, para criticar a “postura ultra-esquerdista” do PSTU na manifestação do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora na capital paulista.  O mais surpreendente e estarrecedor é que Maringoni desferiu esse ataque após terem acorrido agressões contra mulheres do PSTU, do PSOL e do PCB no ato de 8 de março na Avenida Paulista.

Era de se esperar que um “democrata” e – em tese – defensor do direito da livre manifestação e do direito das mulheres se expressarem sem serem agredidas, fosse solidário com as companheiras que foram violentadas, independente da concordância ou não com suas posições políticas.

Em uma nota divulgada no Facebook algumas horas depois das agressões, Gilberto afirmou que era “inaceitável e execrável”, mas não o comportamento do PT e do PCdoB, que tentou cercear o direito de fala das mulheres do PSTU, não a militância enraivecida destes partidos que ofendeu e ameaçou bater nas companheiras, não o fato de que mulheres do PSTU, do PSOL e do PCB tivessem levado chutes, socos, empurrões e beliscões pela militância ensandecida do PT e do PCdoB, como atestaram as marcas roxas nos braços e nas pernas das que, solidariamente, fizeram um cordão para que as companheiras que se encontravam em cima do caminhão de som pudessem descer. Não…  Maringoni se pronunciou dizendo que era “inaceitável” e “execrável” a posição política do PSTU.

Quem é quinta coluna?
Maringoni, com estrondo, acusou o PSTU de ser quinta coluna do fascismo. Muito estranho, não? O PSTU é cerceado e agredido por defender suas posições publicamente. O PSTU não vaiou ninguém, não ofendeu ninguém, muito menos ameaçou e agrediu alguém. O PSTU, sim, defendeu suas posições políticas, que neste momento é “Fora Dilma, Temer, Cunha e Aécio”, e não somente “Fora Dilma”, como incorretamente Gilberto colocou em sua nota. Aliás, se Maringoni tivesse lido a nota do PSTU, saberia que somos também contra o impeachment e que no dia 13 não fomos ao ato da direita, assim como não vamos para os atos que defenderão o governo. Por defender suas posições, o PSTU foi atacado e Maringoni, ao invés de ser solidário com quem foi violentado, fez coro com os agressores.

Muito diferente foi a postura das mulheres de vários coletivos do PSOL que estavam presentes no ato e que tiveram o cerceamento de suas falas e também foram agredidas. Estas mulheres não pensaram duas vezes em serem solidárias com as companheiras do PSTU, porque existe uma coisa que talvez o ex-candidato tenha se esquecido, que é a solidariedade de classe. Não eram as companheiras do PSTU, do PSOL e do PCB que estavam sendo atacadas naquele momento, foram agredidas todas as mulheres que se levantaram de forma independente para se colocar contra o governo Dilma e também contra a direita. A questão é que o objetivo do PT e do PCdoB era o de transformar o 8 de março em um ato para blindar o governo Dilma, como ficou expresso na nota divulgada pela CUT, a qual afirmava que seria o ato das “Mulheres com Lula”.

Porém, ao ser desmascarada a farsa, o PSTU, o PCB e a maioria dos coletivos do PSOL, assim como muitos agrupamentos independentes, se retiraram do ato governista e marcharam para o outro lado, realizando um ato distinto, que expressou um campo de independência de classe e que arrastou mais de duas mil pessoas que não se subordinaram à truculência governista.

Valeu tudo para defender o governo?
Uma pergunta é incontornável: por que Maringoni foi tão rápido e enfático para defender o ato governista e atacar o PSTU?

Segundo a leitura política do ex-candidato, há um suposto golpe em curso, e para barrá-lo, o PSTU teria que poupar o governo Dilma e o PT das críticas. E mais, teríamos que abdicar também do posicionamento favorável a que os trabalhadores, por suas mobilizações independentes, derrubem o governo, o Congresso e chamem novas eleições gerais. A posição do PSTU não tem nada a ver com as mobilizações da direita capitaneadas por Aécio, Alckmin, Bolsonaro e Malafaia, e nem com atos da burguesia e da classe média alta que ocorreram dia 13 de março.

A posição do PSTU é de independência de classe e é por isso que estamos chamando, junto com a CSP-Conlutas e várias outras entidades, um ato independente no dia 1º de abril. E, inclusive, reforçamos o convite a todos os coletivos do PSOL a se somarem a esse ato, porque acreditamos que a única saída para a crise política é a construção de um campo dos trabalhadores que se coloque frontalmente contra o governo Dilma e contra qualquer alternativa da direita.

A posição de Maringoni acaba fortalecendo um dos lados dessa história, pois se coloca no campo do governo Dilma e ataca uma organização que se coloca na defesa da construção de um campo de independência de classe. Em nossa opinião, Gilberto faz um desserviço à construção de uma alternativa de esquerda e classista, uma vez que fica preso ao cadáver de um governo que conciliou e que continuará pactuando com a burguesia e com o imperialismo até o seu último suspiro.

Ana Luiza é ex-candidata ao senado pelo PSTU na Frente de Esquerda (SP) e Silvia Ferraro compõe a Executiva nacional do Movimento Mulheres em Luta e do PSTU