Parada GLBT em São Paulo

No mês de junho, celebra-se o Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros (GLBT). Essa tradição teve início em 28 de junho de 1968, quando homossexuais, resistindo à repressão policial ao bar Stonewall, tomaram as ruas de Nova York, durante quatro dias. Nascia ali, o movimento GLBT moderno e propagava-se a luta contra a homofobia.

Em termos teóricos, a palavra homofobia refere-se à aversão (fobia) a homossexuais; em termos concretos, se traduz em práticas que discriminam e oprimem aqueles que têm orientação sexual diferente da heterossexual – tida como “normal”, por ser majoritária.

Somente no Brasil, algo em torno de 15 milhões de pessoas têm comportamento homossexual. Apesar desse número expressivo, a discriminação é intensa. Uma pesquisa recente, realizada com 416 homossexuais do Rio de Janeiro, revelou que 60% dos entrevistados já tinham sido vítimas de alguma agressão e 58,5% já enfrentaram alguma discriminação ou humilhação.

Outra evidência da homofobia é o resultado de uma pesquisa realizada com cinco mil professores do ensino fundamental e médio, no final de maio passado: 59,7% deles declararam ser inadmissível que uma pessoa possa ter experiências homossexuais e 21% disseram não desejar ter um gay ou uma lésbica como vizinhos.

Quanto mais o comportamento homossexual choca-se com o “padrão” definido como “normal”, maior é a violência. Entre os transexuais e travestis, 42,3% já sofreram algum tipo de violência. Isso também “explica” a extrema violência enfrentada por mulheres (particularmente negras) quando assumem seu lesbianismo, fugindo do “padrão” que lhe reservava o papel de objeto sexual dos homens.
Segundo o Grupo Gay da Bahia, entre 1963 e 2001, foram registradas, no Brasil, 2.092 mortes, cuja motivação foi a homossexualidade da vítima. Esse número deve ser muito maior, pois, em muitos casos, familiares procuram abafar os crimes e a polícia nada faz para desvendá-los.
Aliás, impunidade é outra marca registrada da homofobia. São raros os casos de prisão e punição dos culpados. Exceções só como no caso de Edson Néris (espancado até a morte, por skinheads, em São Paulo, em 2000), quando a mobilização contribuiu para a prisão e a condenação de vários dos assassinos.

Raízes históricas e práticas cotidianas

Nas raízes da homofobia há um pouco de tudo: a consagração da figura do homem heterossexual como sinônimo do poder, a opressão da mulher, “teorias” científicas infundadas, o obscurantismo religioso etc. Independentemente da origem, o fato é que a ascensão do cristianismo resultou no aumento da discriminação aos homossexuais. Durante a Inquisição, dezenas de milhares de gays e lésbicas morreram nas fogueiras. Outros milhares foram presos, perseguidos e deportados.

Práticas semelhantes foram utilizadas pelo nazismo, que encarcerou e matou centenas de milhares de homossexuais nos campos de concentração (onde eram obrigados a utilizar um triângulo rosa na roupa – que, hoje, é um dos símbolos do movimento). No nazismo, o argumento era “científico”, baseado em teorias do século 19, cunhando o termo “homossexualismo” como doença. Aliás, essa concepção durou até 1985, quando a Organização Mundial da Saúde foi obrigada a retirar a homossexualidade de sua lista de patologias.

Lutar contra a homofobia, a adaptação e a hipocrisia

As Paradas do Orgulho GLBT deveriam se momentos privilegiados para denunciar essa situação e exigir políticas anti-homofóbicas. Infelizmente, para um setor significativo do movimento, a parada é um momento para darmos “visibilidade” ao movimento. Uma “visibilidade” paga a qualquer custo: o patrocínio de multinacionais, o monopólio dos carros de som para as empresas e boates que faturam com o consumo de homossexuais e a total despolitização do evento.

Esse tipo de Parada reflete a visão, de grande parte da direção do movimento GLBT atual, de que nossa luta deve ser pela “aceitação” de gays, lésbicas e transgêneros como “cidadãos normais”, que devem ter seus direitos garantidos, principalmente enquanto consumidores. Nós, do PSTU, achamos isso um erro. Principalmente porque não tem nada a ver com a realidade dos muitos homossexuais que estão nos bairros e escolas da periferia, no interior das fábricas.

Também achamos um erro o apoio que a quase totalidade do movimento GLBT deu ao plano “Brasil sem homofobia”, lançado poucos dias após Lula ter comparado homossexualidade ao alcoolismo.

O plano é um amontoado de promessas: apoio a entidades, combate à homofobia, ao machismo e ao racismo, promessas em relação à saúde, ao trabalho e à segurança. Dois detalhes nos levam a crer que o plano é hipocrisia demagógica e eleitoreira. Em primeiro lugar, não há indicação de onde sairá o dinheiro para sua implementação e todos nós sabemos que as prioridades do governo são beneficiar os banqueiros e não projetos públicos. Em segundo lugar, sabemos que os aliados mais fiéis de Lula, como seu vice e a Igreja Universal são explicitamente homofóbicos e não farão nenhum esforço para tirar esse plano do papel.

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