A crise econômica e a greve geral na Grécia se transformaram num símbolo mundial. A propaganda enganosa do fim da crise começa a se enfraquecer. O horizonte volta a se encher de nuvens carregadas. Um novo momento da crise já atingiu a Europa.

O novo pacote de quase um trilhão de dólares articulado pelos países imperialistas deu um alívio momentâneo. Voltamos à montanha russa de 2008, em que esse tipo de pacote gerava euforia nas bolsas, que durava uma ou duas semanas, para ceder lugar a novas crises. O problema de fundo é que a crise não foi superada, e as medidas parciais do imperialismo só agravam as contradições.

Por outro lado, a resposta dos trabalhadores gregos, com três greves gerais e a maior mobilização em 30 anos, indica uma mudança muito importante em relação a 2008 e 2009. Naquele momento, a dimensão dos ataques da patronal não correspondia ao tamanho das lutas dos trabalhadores. Acuados pela ofensiva da patronal e a ameaça do desemprego, o proletariado reagiu de maneira limitada. Agora os gregos estão abrindo claramente a possibilidade de derrotar o pacote do governo. Mais ainda, estão dando um exemplo que pode acabar sendo seguido pelos trabalhadores europeus, em resposta aos planos de austeridade que os governos querem impor.

E o que isso tem a ver com o Brasil?
Tudo. O Brasil refletiu o início da crise passada de forma imediata. Ainda no primeiro trimestre de 2008, o país entrou em recessão, acompanhando a dinâmica internacional. Isso prova que, ao contrário do que Lula afirma, o Brasil não está imunizado contra a crise.

O país escapou de uma crise bem maior pela recuperação internacional no início de 2009 e por ter um mercado interno importante. Mas agora, no caso de uma nova crise, a gravidade de seus reflexos no Brasil poderia ser bem maior. A economia brasileira está completamente aberta para o mercado mundial e depende das decisões de investimentos das multinacionais aqui instaladas. Quem definiu os prazos da recuperação da economia brasileira não foi o governo Lula, mas as indústrias automobilísticas com seus planos de investimentos, ou a Vale com sua aposta na manutenção do crescimento chinês. Se o novo momento da crise for maior e mais duradouro que o de 2008, o Brasil poderá ser mais duramente afetado, caso as multinacionais mudem seus planos.

Para a sorte de Lula, o mais provável é que essa crise não atinja com força o Brasil de imediato, antes das eleições de outubro. Os dados da economia ainda apontam crescimento, que deve continuar em 2010. Já deve haver alguns reflexos de imediato, com a limitação de fluxos de investimentos no país e fuga de capitais especulativos. No entanto, está claro que a crise atingirá o país no mandato do presidente a ser eleito em outubro.

Pode ser que a postura do governo, querendo evitar de todas as maneiras o fim do fator previdenciário para as aposentadorias do INSS, já seja uma sinalização da futura crise. Tanto o governo quanto a oposição burguesa têm de se mover com uma preocupação dupla: evitar um desgaste eleitoral, mas não deixar que a situação econômica escape do controle.

É por isso que os trabalhadores e jovens deste país devem se somar às lutas concretas como a atual em defesa da aposentadoria, contra o possível veto de Lula ao fim do fator previdenciário. Ou ainda contra o Senado, que pode adiar a votação da matéria até depois das eleições.

Mas também é necessário apontar uma alternativa socialista dos trabalhadores, que dê uma resposta diferente para a crise. Uma resposta distinta às de Lula-Dilma, Serra-FHC e Marina Silva, que têm o mesmo programa para a economia brasileira. Zé Maria, pré-candidato a presidente pelo PSTU, está apresentando um programa que aponta a ruptura com o imperialismo e o não pagamento das dívidas interna e externa, como forma de evitar os efeitos da crise econômica sobre o país.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 404
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