Petistas tentam culpar a imprensa pelos próprios erros do PT.

A última semana foi contundente para o governo e seus apoiadores. Nas sexta-feira (4), diante dos mandados de condução coercitiva, Lula e seus familiares foram obrigados a prestar esclarecimentos à Polícia Federal. Um dia antes da operação ser realizada, jornalistas e editores ligados à grande imprensa postavam em seus perfis em redes sociais que o dia seguinte seria de “fortes emoções”. Isso fez com que defensores do governo levantassem a suspeita de que a imprensa já sabia da operação e que, portanto, tratava-se de uma ação coordenada entre PF, Justiça e grande imprensa.

Os petistas foram ao delírio. Como se nunca antes na história desse país informações tivessem sido propositalmente vazadas para a imprensa. Desde então, o discurso da “imprensa golpista”ganhou força. Todos os dias algum defensor do governo “mata a charada”, “derruba a máscara” e faz uma “grande revelação”, tentando mostrar como a imprensa está arquitetando o golpe.


O ex-presidente Lula recebe de João Roberto Marinho eRodolfo Fernandes o troféu de “Faz a Diferença” do Jornal O Globo, na categoria de política em 2003.

Há um golpe de direita em curso no Brasil?
Há tempos o PSTU vem alertando, contra as ilusões no governo do PT, que a direita também está dentro do governo. E não só fora dele. Para que não restem dúvidas, basta lembrar de nomes como o da ruralista Kátia Abreu no Ministério da Agricultura, do industrial Armando Monteiro no desenvolvimento e do banqueiro Joaquim Levy, que até pouco tempo atrás era Ministro da Fazenda. Sem falar na vice-presidência dada a Michel Temer, do PMDB. Mesmo partido do fundamentalista Eduardo Cunha (presidente da Câmara) e do corrupto Renan Calheiros (presidente do Senado). Além de “pérolas” como Sarney, Maluf, Collor, Feliciano e afins. Todos base aliada do governo e que agora, diante da profunda crise, começam a abandonar o barco.

“Golpistas” financiados pelo próprio governo
A grande imprensa é altamente dependente dos governos, em especial, do federal. Isso porque são eles os maiores anunciantes publicitários. Segundo os dados oficiais, o governo gasta 70% das verbas publicitárias com os 10 maiores grupos de mídia do país. Só a revista Veja recebeu, durante os dois mandatos de Lula, cerca de R$ 355 milhões do Governo Federal. É uma verdadeira “bolsa imprensa”.

Isso quer dizer que a grande imprensa, principalmente os grandes jornais e revistas, são muito dependentes desse dinheiro. Portanto, vendo o governo paralisado e cada vez mais reduzindo os orçamentos para priorizar o pagamento da dívida, teme que sua mina de dinheiro se seque. Vale lembrar que em 2010 entrou em vigor a Lei 12.232, que regulou a licitação para serviços de publicidade pela administração pública. A proposta, feita pelo então ministro da justiça Sérgio Eduardo Cardozo (PT), que deixou o cargo na semana passada, praticamente privatizou áreas de comunicação inteira do poder público, injetando milhões e milhões de reais no setor. É claro que boa parte desse dinheiro beneficiou a grande imprensa através da venda de espaço publicitário.

Além disso, a grande imprensa atua como um amplo partido político burguês, com suas várias correntes, mas todas defendendo seus interesses de classe. Para eles, liberdade de imprensa nada mais é do que livre mercado. O PT, que escolheu governar para a burguesia, atendia a esses interesses. Mas agora é incapaz de aplicar o ajuste fiscal que ela quer. Embora já tenha atacado a previdência, o seguro-desemprego, privatizado o pré-sal, o PT e seus governos entram na mira da grande imprensa.

Grande imprensa é uma criança mimada pelo PT
Tratando-se de políticas de comunicação, os governos petistas não fizeram nenhum esforço para se contrapor à grande imprensa. Aliás, o PT abandonou seu próprio programa (reformista) de democratização da mídia em troca do apoio desses grupos empresarias.

Isso ficou evidente quanto Antônio Palocci buscou orientação dos Marinhos (donos das Organizações Globo) sobre a versão final da Carta ao Povo Brasileiro – manifesto da candidatura de Lula em 2002. Os governos petistas também perseguiram blogueiros e rádios comunitárias, além de fortalecer o coronelismo eletrônico, distribuindo concessões para a base aliada. Fez retroceder e impediu o combate da concentração de propriedade no setor (monopólios e propriedades cruzadas), esvaziou o Conselho Nacional de Comunicação Social, extinguiu as retransmissoras institucionais, engavetou a Lei Geral de Comunicação Eletrônica de Massa, privilegiou os interesses dos empresários na aprovação do modelo de TV digital. E por aí vai.

No fundo, os defensores do PT tem razão de reclamar. Uma grande imprensa tão bem tratada não poderia estar reclamando. Agora, tentam dar o velho “golpe da imprensa”, culpando ela e seu “pessimismo” por toda essa crise. Por pouco não ressuscitam as “forças ocultas” que derrubaram Getúlio.

Eles não são inocentes
Isso em nada livra a grande imprensa de sua culpa, de seu oportunismo e de sua vocação sensacionalista. Pelo contrário. Por trás dos aparelhos de rádio e televisão estão nossos inimigos de classe. Nós não os defendemos. Assim como não defendemos Dilma, Lula, nem Cunha, Temer, Aécio nem esse congresso de corruptos. Todo esse espetáculo barato entre grande imprensa e políticos nada mais é do que a disputa entre frações burguesas para se salvar da crise que eles mesmos criaram.

Nós não vamos pagar por essa crise. Fora todos eles!